Jairo Nolasco
Decerto que não sou um maltrapilho sem opção. A esta altura da vida poderia usar roupas mais caras e de grifes. Poderia até me desfazer do carro popular e investir as economias em algo mais prazeroso sobre quatro rodas.
Mas não. Por enquanto ainda não e talvez nunca.
Não julgo quem se prende ao bom gosto das roupas caras e combinadas. Que sejam felizes como são. Meu cisma aqui é outro.
Faço de mim uma figura pobre e mal trajada de forma proposital. Quero afastar de mim os infames, falsos, destiladores de peçonha. Estes não resistem ao toque simples, cru.
Não é ódio e nem desgosto, é pura diversão. Liberdade de ser assim, eu.
Gosto de ver e comprovar até onde vai a covardia e a podridão desses humanos, que julgam as pessoas pelo o que veste, o que calça, o que dirige, quantos 's' se gasta no palavrear...
A essência e o caráter jazem por completos. Pobre hipócrita, este povo ocidental, suposto "cristão", que adora gabar-se de ter como Deus Aquele que se fez carne, habitou entre nós e veio a este mundo em uma humilde manjedoura, em um estábulo qualquer, tendo como pais, pobres de riqueza material.
Certamente a mensagem do Messias não foi para que fossemos pobres e maltrapilhos para sermos dignos. Não me venham com esta, pois! A dignidade humana, entretanto, no dobro da distância, não está na boa aparência que pode ser comprada, facilmente fabricada ou na simples origem do individuo.
Me divirto observando este povo hipócrita, que se parasse para olhar mais atentamente veria um discreto sorriso de ironia. Eles não te olham na cara, dentro dos olhos. Te julgam de longe.
Me julgam pela pintura, eu os julgo pela alma.
São como moscas morféticas por não diferenciar o veneno fatal incluso na sujeira da qual alimentam-se diariamente!
Não sou e nem quero ser, por certo, melhor que eles. Só diferente e distante, um indivíduo estranho.
Assim a vida é justa e quase divertida...
P.S. sempre que leio Jairo Nolasco vejo um quê machadiano, talvez o tom (ou dom) sarcástico, irônico que atinge o ponto nevrálgico da questão. Os melhores textos advindos das barrancas do Juruá que tenho lido ultimamente são dele, que, com Franciney e o Altheman, forma a trindade literário-jornalística juruaensis da blogosfera.
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