Amanda Borges
A Academia Acreana de Letras (AAL), que
completa 78 anos em 2015, empossa na presidência, nesta sexta-feira (19), em
solenidade no auditório do Teatro Universitário, a professora Luisa Karlberg,
64 anos, que entra para a história da instituição como a primeira mulher a
ocupar o cargo.
A AAL foi presidida nos últimos 19 anos pelo
professor aposentado e poeta Clodomir Monteiro, que manobrou de todas as
maneiras possíveis para permanecer no cargo e inviabilizar qualquer mudança na
diretoria.
Luisa Karlberg ingressou na AAL em 2004. Não
é escritora, mas tem na bagagem mais de 2 mil produções científicas, entre
palestras, artigos e teses publicadas. Natural de Tarauacá, formada pela Universidade Federal do Acre, a professora aposentada de língua portuguesa se
sente preparada para assumir a sexta presidência dos 40 imortais do Acre.
Foi em sua casa, no bairro Bosque, que a
professora aposentada recebeu a reportagem para contar sua trajetória e os
desafios da Academia Acreana de Letras neste ano. Embora tenha havido resistência
para a realização da eleição na AAL, Luisa Karlberg disse que tem recebido
apoio da sociedade para começar uma nova etapa.
“Venho de uma cidade do interior muito
distante, de uma localidade muito distante. Cedo aprendi a olhar acima da copa
das árvores, o que me permitiu ver que o mundo era maior que aquele lugar que
eu estava. E eu ganhei o mundo. Hoje posso dizer que sou cidadã do mundo”,
afirma a imortal.
Mesmo com tantos carimbos no passaporte e se
considerando “do mundo”, é no Acre que Luísa Karlberg deve enfrentar os
desafios de presidir a Academia por dois anos. Um deles é fazer com que a
instituição saia do estereótipo de elitizada e inalcançável e comece a dialogar
com a sociedade.
“A Academia Acreana de Letras abriga o maior
número de intelectuais do Estado do Acre. Temos cientistas, médicos,
historiadores, professores e jornalistas brilhantes. E uma das coisas que nós
desejamos fazer nesse mandato é tornar a Academia conhecida da sociedade, para
que a sociedade nos visite, as instituições, e possamos produzir mais”,
acrescenta.
Para que esse envolvimento aconteça, Luísa
pretende promover interação com a sociedade valendo-se dos produtores de
cultura, poetas e escritores. “A sociedade espera que a Academia seja ativa,
que ela dialogue, incentive os escritores e os poetas, e que ela faça concursos
literários. A Academia não pode ficar encastelada numa sala com seus imortais.
Ela tem que abrir as portas, receber a comunidade, descobrir os talentos e
olhar para as pessoas que produzem e incentivar essas pessoas. Organizar
antologias e fazer a divulgação daquilo que o Acre produz de boa qualidade”.
Sem sede própria, a AAL ocupa uma sala
emprestada na Casa da Cultura, no bairro Bosque. Luisa Karlberg reclama que,
além da falta de estrutura, não existe apoio do governo do Estado à
instituição, mesmo sendo o governador Tião Viana um dos imortais.
A ALL não dispõe de espaço sequer para
abrigar alguns poucos livros ou receber visitantes. Segundo a futura
presidente, embora seja uma entidade autônoma, em todos os estados em que
existe uma academia, os governos oferecem sede e fazem repasses financeiros
para o desenvolvimento cultural da região. “É um percentual que permite que a
instituição desempenhe com satisfação o seu papel cultural na sociedade, mas
aqui isso não tem acontecido”, lamenta.
Acreano x acriano
Luísa Karlberg entende que a Academia de
Letras do Acre deve funcionar como uma guardiã da cultura e da língua regional. No Estado, por exemplo, uma das questões em que a entidade se
envolveu foi contra a mudança do gentílico acreano para “acriano”, proposto
pelo Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Em 2009, após ser consultada pela Assembleia
Legislativa do Acre sobre a Base V, letra c, do Novo Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa, a AAL lançou um manifesto em defesa do "acreano"
com o argumento de que é consagrado pela história.
“A questão do gentílico acreano o próprio
Acordo Ortográfico diz que todos os nomes registrados permanecem como estão.
Então há uma controvérsia, uma falta de leitura. De qualquer forma, o gentílico
acreano está registrado há mais de 130 anos e nesse período se consolidou. Nós
não podemos alterar o que o povo elegeu como algo que está convencionado no
meio social. A cultura é soberana nesse aspecto. É um erro crasso a gravura de
‘acriano’. É minha opinião”, argumenta Luísa Karlberg.
De acordo com a professora, na primeira
constituição brasileira, em 1536, Fernando de Oliveira, diz que “a língua faz
os homens e não os homens a língua”. Desta forma, argumenta, “isto quer dizer
que a língua é um espelho da cultura, a língua é um motor, a língua é uma
ferramenta porque é um instrumento de comunicação”.
Luísa Karlberg considera que “a língua é um
lugar porque reflete o falante e onde ele vive”. Para ela, “a língua é um espelho” porque
traduz a cultura do seu povo. “Nós não podemos alterar o que o povo elegeu como
algo que está convencionado no meio social”.
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