O filme do diretor Alex Garland,
"Ex-machina, instinto artificial" (2015) é um desses filmes que o
professor de Filosofia pode usar para debater questões como, inteligência
artificial, diálogo homem/máquina, o poder da inteligência humana, a relação
entre linguagem, mente, sentimentos, sexualidade, como nosso cérebro funciona,
entre outras. Acrescente-se, um ótimo entretenimento, prende o espectador do
começo ou fim.
Sendo ficção científica, mas sem a
parafernália de seres de outro planeta, guerras interplanetárias, espaço
sideral, poderosos veículos espaciais -, o filme é um convite à reflexão.
Cenário, uma casa comandada por computador,
onde um cientista estilo Steve Jobs se isola para criar robôs femininas, que
deveriam poder interagir com humanos, sob todos os aspectos, sensibilidade,
inclusive a sexual, com vontade própria, compreensão inteligente da linguagem a
ponto de dialogar e mesmo contestar o funcionário de sua poderosa indústria de
programação inteligente, que é convidado (e obrigado) a testar a robô.
Como foi possível criar o cérebro de uma
robô, cuja máscara é a de uma linda jovem? Até onde o incrível número de dados
armazenados em seu cérebro seria capaz de reagir inclusive a emoções,
planejamento, ter desejos, compreender o outro e suas intenções?
E o que intriga, como nós mesmos, nosso
cérebro, nossas mentes funcionam? Como a linguagem se origina, e seu papel
fundamental para todas as nossas ações, que, em sua maioria são atos de fala?
Ao mesmo tempo, como criamos sensibilidade para arte, para as sensações? Qual a
importância da liberdade de ir e vir, deixar de ser um autômato, e se
transformar em um ser autônomo, capaz de agir de acordo exclusivamente com sua
própria determinação?
E ainda, discutir o poder e o alcance da
tecnologia, se um dia seremos suplantados por robôs, que, no entanto, são
criação humana? Criador X Criatura, quem vence?
Finalmente, o que é "ser humano"?
Notem que Wittgenstein é citado, há
referência à obra de artistas como Pollock, a questão de se nascemos com
competência para falar ou se desenvolvemos tal capacidade com o meio e a
educação (sem que o diretor mencione, trata-se de Chomsky e sua tese do
inatismo, em contraposição à tese de que o cérebro nada executa sem o meio em
que somos criados).
E o professor que vir o filme com seus alunos
poderá levantar outras questões, sem precisar se preocupar com "cenas
fortes", proibidas para menores, pois não as há.
INÊS LACERDA ARAÚJO - Professora de Filosofia durante 40 anos, na UFPR, e nos últimos anos na
PUCPR. Autora de livros sobre Epistemologia, História da Filosofia e Teoria do
Conhecimento. Atualmente aposentada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário