Foto: joãosilvio.blogspot |
No átrio sombroso, místico e silente,
Deste recanto de selva venerável,
Transfigurado numa catedral,
Inclinam-se com humildade
E balbuciam preces comovidas,
Diante da santidade desta hora colorida,
Anticrepuscular.
O gênio superdivino de Michelangelo
Esvoaçou sobre a quietude e a contrição
Destas águas luzentes, derramadas
Na paisagem paradisíaca da restinga.
E o igapó, todo ele, é um vitral antigo,
Em que as tintas suaves se ajoelham
E maravilham,
Na iluminura da face leite-e-rosa
Das virgens, dos arcanjos e dos santos.
As árvores velhas do igapó, em unção,
Batem no peito, genuflexas:
Mea culpa.
Mea culpa.
Mea máxima culpa...
Pedem perdão
Ao chão úmido de onde brotaram,
Às águas, aos ventos, aos céus, à divindade.
Perdão de seu orgulho, ao altearem-se,
Afrontando o infinito.
De sua vaidade feminil, ao cobrirem-se de
flores.
De sua glória maternal, dando frutos e sementes.
De sua luxúria suave, dormindo abraçadas
Com as madrugadas.
De sua fome pecaminosa de luz e de amor,
Beijando os lábios do sol, no esplendor das
manhãs.
Pecaram muito, estas árvores venerandas,
Agora recurvadas,
Carcomidos os troncos, esfolhados os galhos,
As raízes chorando, em desengano,
À beira da cova rasa da barranca!
Mas souberam pecar, com pureza e ternura,
Os mais lindos pecados desta vida!
Bem merecem estas árvores velhinhas,
Em oração nos ermos da floresta,
A absolvição eucarística de uma bênção
Da natureza, neste fim de tarde:
– As águas quietas e coloridas do igapó fulgindo,
Em exaltação à sua beleza e à sua glória,
Como o vitral maravilhoso de uma igreja.
E os rosários imensos
E misericordiosos das lianas
Cobrindo de ave-marias o seu busto!
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