Filosofia de todo dia
Chamamos nossa era
de técnica. A palavra se refere a todo tipo de atividade pela qual se produz
algo, portanto, desde tempos remotos há produção técnica. No grego, “techné”
significa trabalho dos artesãos, inferior à sabedoria, à contemplação das
ideias, e mesmo subordinada à missão dos guerreiros.
A era moderna consagrou o trabalho com máquinas, aperfeiçoou as técnicas, principalmente em função da indústria armamentista, e chegou ao que se tem hoje: o completo domínio dos aparelhos de alta tecnologia e de alta performance, como este computador em que escrevo. Acelerou a comunicação e revolucionou os meios de informação.
A pergunta é: esse domínio técnico significa submissão total do homem aos instrumentos e artefatos que ele mesmo criou?
Houve uma completa transformação do ser humano moderno, no modo como produz, transporta, se comunica, na automatização da indústria por meio da robotização, na exploração da natureza, no extenso e poderoso maquinário para cultivo em larga escala.
Dispomos da natureza, fazemos a natureza produzir em nosso favor, para nossa sobrevivência. A civilização técnica não tem volta atrás, e o problema é que dificilmente sucumbiremos ao lixo que resulta desse mesmo progresso e consumo extremos.
Há sempre compensações devidas à autorregulação, os dispositivos técnicos inventados por nós, acabam por nos superar, se tornam quase que impossíveis de controlar.
E como reagimos a isso tudo?
Procuramos despertar em nosso entorno o que vem de graça, tudo aquilo que podemos contemplar, usufruir, sem precisar de controle algum. Resta-nos certa autonomia, quer dizer, conduzirmos a nós mesmos como que levados por uma corrente libertadora. São espaços destinados à arte, à amizade, à contemplação, à meditação, ao prazer de simplesmente viver.
Claro que para isso são necessárias condições, como tempo de lazer, educação da sensibilidade, condição financeira suficiente para o mínimo de bem estar. Condições estas inexistentes em países em guerra, extrema pobreza, em luta pela sobrevivência, sem acesso à educação e a uma vida segura e saudável.
Ora, esses requisitos que nos abrem para viver de forma mais consciente, usufruir o que os meios tecnológicos proporcionam sem escravizar-se a eles, sem precisar abandonar a civilização, acabam por precisar da própria tecnologia.
Educar, criar, contemplar, desprender-se de excessos, evitar o consumismo, menos lixo, mais leveza de espírito, são hábitos de vida divulgados e muitos deles possibilitados pelos meios eletrônicos.
A saída: saber usar vale mais do que acumular. A arte de viver com o essencial, o minimalismo.
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