Filosofia de todo dia
Em posts anteriores
mostramos o que é metafísica em contraste com a pós-metafísica, de acordo com o
pensamento de Habermas.
Para este o momento
atual da filosofia se caracteriza pelo pensamento pós-metafísico, mesmo que
ainda seja uma época ainda moderna, e não pós-moderna.
Como se explica
esse paradoxo?
Vamos por partes. A
metafísica clássica, cujos representantes principais são Platão e Aristóteles,
vê o todo como causado pelas ideias, Platão, e pelo motor primeiro,
Aristóteles. As ideias são o modelo para todos os entes, tudo o que existe são
cópias dos conceitos ideais e divinos. Já as causas para Aristóteles produzem
os entes mesmos, em sua individualidade e especificidade.
Com a filosofia
cristã, Deus é a causa absoluta de todos os entes, criados do nada.
Interessante que os gregos entendem que o nada, nada pode produzir. Ao passo
que o conceito de nada é fundador para filosofia cristã.
Note-se os termos e
conceitos essenciais ao pensamento metafísico: causalidade, totalidade,
unidade, essência, absoluto, nada e o conceito de ser ligado ao de pensamento abstrato.
Dada a multiplicidade dos entes no mundo, para poder pensá-los há que abstrair,
deduzir a unidade a partir da heterogeneidade.
Descartes, Spinoza,
Leibniz e Kant representam a metafísica nos séculos 17 e 18, e Kant, mesmo
criticando a metafísica baseada no ser em si mesmo, quer dizer, independente de
pensá-lo por meio de conceitos, recupera conceitos metafísicos, o de Deus e de
alma imortal como pilares da razão prática.
As exceções na
história da filosofia até chegar ao pensamento de tipo pós-metafísico são os
nominalistas (sem nomear, sem conceituar seria impossível conhecer as coisas),
os materialistas e o empirismo (a experiência e não os conceitos abstratos são
a base para atingir a realidade). Impera a noção de uno, de identidade e de que
a teoria é necessária para chegar à verdade.
O pensamento
pós-metafísico em contrapartida dispensa a busca de uma origem primeira de
todas as coisas, nega que haja necessidade de um fundamento ou essência
permanente a sustentar todos os seres, afirma que não há teoria sem prévia
experimentação, como demonstram as ciências.
O primeiro passo
para a pós-metafísica foi a substituição do modelo filosófico baseado no eu, no
sujeito, em sua consciência, para o modelo baseado na linguagem. Somos sujeitos
sim, mas devido a nossa capacidade de articular signos, de abstrair por meio da
linguagem, de formalizar, de compreender devido à capacidade de formular frases
significativas, atos de fala para afirmar, deduzir, mostrar, negar. Em suma,
conceitos absolutos se tornam significados comunicáveis.
Habermas contesta a
pretensão de Heidegger de ainda dar sentido à metafísica. Em Que é Metafísica?
(1929), Heidegger parte da questão mais abrangente da metafísica, a questão da
totalidade dos entes, para a questão do nada, do que absolutamente não são os
entes. Há necessidade de postular o nada inclusive porque aquele que questiona
se vê às voltas com o nada ao se angustiar, a totalidade dos entes parece
escapar em momentos de nossa existência aí no mundo.
Para Habermas, que é um anti-Nietzsche, esses abismos de ser e nada são pura abstração. De uma perspectiva pragmática, afirma Habermas, nós agimos, e, principalmente agimos pela linguagem. Nos comprometemos em atos comunicativos ou usamos a linguagem para o disfarce, para a subjugação (em atos estratégicos). A vida prática vale mais que a vida teórica.
Para Habermas, que é um anti-Nietzsche, esses abismos de ser e nada são pura abstração. De uma perspectiva pragmática, afirma Habermas, nós agimos, e, principalmente agimos pela linguagem. Nos comprometemos em atos comunicativos ou usamos a linguagem para o disfarce, para a subjugação (em atos estratégicos). A vida prática vale mais que a vida teórica.
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