quarta-feira, 15 de agosto de 2018

POESIAS DE SERGIO SANTOS

           Sergio da Silva Santos é mineiro de Belo Horizonte, mas mora em Rio Branco, no Acre, desde 1982. É formado em Letras - Português e mestre em Letras: Linguagem e Identidade, pela UFAC, e faz Doutorado em Estudos Linguísticos, pela UNESP/Campus São José do Rio Preto. É professor de Língua Portuguesa na UFAC desde 2009.
             Sergio Santos ingressou no mundo das artes pelo viés do teatro, quando entrou para o grupo de Vivarte, em 2001. Com esse grupo, participou de dois espetáculos, A CARA DO BRASIL (espetáculo de rua) e A ARTE DOS IMORTAIS, peça que entremeava textos poéticos de variados autores. Em 2004, entrou no grupo ARKH, e no mesmo ano participou do espetáculo PACTOS INSUSTENTÁVEIS. Nesse ínterim, entre o teatro e a faculdade de Letras, Sergio Santos começou a escrever seus primeiros textos, os quais só foram publicados em 2008.
        O primeiro foi o poema “Angústia”, publicado na coletânea A NOVA LITERATURA ACREANA, resultado do Primeiro Prêmio de Literatura Acreana, realizado pela Fundação Garibaldi Brasil e pela Academia Acreana de Letras. Em 2009, seu primeiro romance DE AMORES E SEGREDOS foi classificado em segundo lugar na segunda edição do Prêmio de Literatura Acreana, publicado na antologia A NOVA LITERATURA ACREANA VOLUME 2. Além do romance, foi publicado também um conto, “Da janela”.


ANGÚSTIA

Não queria ter dúvidas quanto ao amor
Queria sempre saber o que se passa entre as duas almas
Dói-me não saber o que há entre nós que não sai de nossas bocas
Nem se mostra nos nossos olhos
Há sempre algo que se esconde dos dois
E sufoca a ambos
Como uma corda que nos envolve
Mas nunca revela o motivo da morte

A partir daí, Sergio Santos passou a participar de vários concursos literários nacionais e teve uma série de textos publicados em antologias, chegando, inclusive, a ficar em primeiro lugar, como no PRÊMIO CECÍLIO BARROS PESSOA DE LITERATURA, com um poema em homenagem a Vinícius de Moraes, intitulado “Soneto de vinicidade”, que foi publicado em 2015, na coletânea de soneto LIVRO DE SONETOS, pela editora Clube de Autores.

SONETO DE VINICIDADE

À sua poesia toda fora atento
E com visível primor fizera tanto,
Pois que fizera de tudo um encanto,
Levando a todos o seu pensamento.

Da sua poesia fez cada momento,
E nela pôs a lágrima e o pranto,
E a embalou como se embala o canto
Pra não pesar o seu contentamento.

E agora, que a saudade nos procure
E nos traga a poesia que ainda vive,
Pois ela é o alimento de quem ama.

Outras publicações em antologias são:
20 CABEÇAS E 22 CONTOS IMPERDÍVEIS, na qual tem o conto “De saudades e verduras” (2011);
50 MELHORES SONETOS DE 2010, onde tem o soneto “Se é doce o favo da jataí, querido” (2010);
DO FUNDO DA NOSSA ALMA – POEMAS, onde tem o soneto “Vou dormir, pois me chega o sono agora” (2011);
VI CLIP (Concurso Literário de Presidente Prudente), onde tenho dois textos publicados: o conto “O muro” e o soneto “A complexa vastidão de tua alma” (2012);
VERSOS SOPRADOS PELOS VENTOS DO OUTONO, resultado Primeiro Concurso de Poesias da Big Time Editora, onde tem o soneto “Erguida sobre a cova ela contempla” (2012);
AMOR. VIVA ESSE ESPETÁCULO, resultado do 3º Concurso Literário Pague Menos, onde tem o soneto “Vontade” (2012); na edição seguinte desse concurso, publicou o soneto “Amor” (2013);
COLETÂNEA DO 2º PRÊMIO ESCRIBA DE CRÔNICA 2014, onde foi publicada a crônica “O carteiro” (2014);
Publicou, em 2011, o romance O REGRESSO.
Em 2015, publicou uma coletânea de 50 sonetos no livro LIVRO DE SONETOS, pelo Clube de Autores, e o romance DE AMORES E SEGREDOS.
Em 2017, publicou uma coletânea de 8 contos num livro intitulado DE SAUDADES E VERDURAS E OUTROS CONTOS ADULTOS, também pelo Clube de Autores.


***


ERGUIDA SOBRE A COVA ELA CONTEMPLA

Erguida sobre a cova ela contempla
O caixão deitado do amante amado.
No peito feito ferro tem cravado
Seu amor recolhido, que a sustenta.

A lágrima que desce pela face
Dela é grossa, cortante, enegrecida.
Essa lágrima a toma combalida;
E ela grita sua dor sem que disfarce.

Viúva ficara, e sem um filho
Para ter do marido uma lembrança,
A mão no ventre busca uma esperança.

Vendo ela que ali filho não gera,
Desistente da vida se declara.
E pra unir-se ao marido, ela se mata.

* Do livro LIVRO DE SONETOS. Texto publicado também na coletânea VERSOS SOPRADOS PELOS VENTOS DO OUTONO, resultado do Primeiro Concurso de Poesias da Big Time Editora, em 2012.

SONETO ACREANO*

Enquanto o povo sucumbe ao degredo
E o caos rapidamente se aproxima,
Os nobres olham somente de cima
E dançam com leveza o samba-enredo.

Que para o povo não ligam, não é segredo,
Tampouco querem que o povo se exprima,
Nem que pela liberdade ele frima
E exija do Governo um desenredo.

Vivemos num lugar que não evolui,
Porque quase nada aqui se planta:
Quase tudo que se come vem de fora.

O acreano o que precisa não possui
E não ter o prometido nem lhe espanta
Pois vive num sistema que o devora.

Do livro Livro de sonetos.

* Soneto feito em referência à alagação do rio Madeira, que deixou o Acre isolado, mostrando o quão dependentes são os acreanos e como os governantes agiram durante os acontecimentos, recordando o desfile da primeira-dama numa escola de samba do Rio de Janeiro.

SE É DOCE O FAVO DA JATI, QUERIDO

Se é doce o favo da jati, querido,
Mais doces são teus lábios que eu beijei,
E mais belos são teus olhos que eu fitei,
Com os quais encadeei-me pelo brilho.

Se macio é o pêssego recém-colhido,
Ainda mais e a tua pele em que toquei.
E as curvas nas quais eu me encontrei
Mais belas são que as de Davi esculpido.

Maçãs mais lindas só as de teu rosto
Que nem pintar soube nenhum artista
Por mais que Deus lhe desse inspiração.

É este todo teu que dá-me gosto,
É ter-te ao lado meu que dá-me vista
De que tudo isso me habita o coração.

* Do livro LIVRO DE SONETOS. Texto publicado na coletânea OS 50 MELHORES SONETOS DE 2010, resultado do concurso de sonetos Chave de Ouro.


Poesia sem título, sobre a construção do Museu dos Povos Acreanos

Para fazer o capricho da mulher,
Sem ao menos o povo consultar,
Mas sabendo que não pode gastar;
O ditador não fará obra qualquer.
Pois aqui ele faz o que bem quer
E gastará do povo alguns milhões
E pra o resto não deixará tostões,
Ainda que este povo necessite
E que por melhoras sempre grite,
O ditador é quem manda nos quinhões.


O MURO (conto)

Certo dia, ao deitar-se para dormir, ela sentiu algo duro e incômodo entre si e o marido. Ergueu a coberta e avistou sobre a cama um tijolo. Estranhou-o ali, mas, como não acreditasse no que vira, virou-se do lado e adormeceu ouvindo os roncos do cônjuge, que ressonava de borco.
No dia seguinte, ao deitar-se novamente, viu ela que havia mais um tijolo entre os dois. E novamente, como não acreditasse, deixou-se dormir sem tirar de lá o objeto incômodo. Casada há bastante tempo, ela não quis nem acordar o marido, de quem ela tinha uma vaga lembrança, pois o costume ou porque a vida lhe vinha turvando o caminho parecia não ver mais o marido.
No dia seguinte e nos outros dias, ela via que o número de tijolos crescia como o capim que cobria o quintal e o marido, pretextando cansaço, nunca o cortava. Deitava-se novamente sem acordá-lo e sem se preocupar em tirar da cama os incômodos objetos.
Um dia, ela viu não mais um tijolo. Havia entre ela e o marido um muro. Diferente desta vez, o objeto que ornava a cama e a fazia em duas não lhe causava nenhum incômodo, de modo que ela pôde até se esticar um pouco, mas nunca podendo tocar o corpo do companheiro de há tantos anos.
E assim ergueu-se sobre a cama de ambos um muro que os separava. Se antes não lembrava ao certo o rosto do marido e guardava a imagem de há muito, agora parecia tê-lo apagado de sua memória de vez. E no dia que ele bateu a porta e não mais voltou, ela nem se deu conta de sua partida.
A única mudança foi que o muro havia sumido sem sinais aparentes, e ela agora podia esparramar-se sobre a cama só sua. Mas seu corpo, já acostumado ao pequeno espaço que lhe era reservado, sentiu falta do muro e do corpo que ocupava o outro lado da cama. Na sua solidão, ela deixou cair uma furtiva lágrima no travesseiro amassado.

* Texto publicado em na coletânea VI CLIPP (Concurso Literário de Presidente Prudente), em 2012.

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