Sergio da Silva Santos é mineiro de
Belo Horizonte, mas mora em Rio Branco, no Acre, desde 1982. É formado em
Letras - Português e mestre em Letras: Linguagem e Identidade, pela UFAC, e faz
Doutorado em Estudos Linguísticos, pela UNESP/Campus São José do Rio Preto. É
professor de Língua Portuguesa na UFAC desde 2009.
Sergio Santos ingressou no mundo das
artes pelo viés do teatro, quando entrou para o grupo de Vivarte, em 2001. Com
esse grupo, participou de dois espetáculos, A CARA DO BRASIL (espetáculo de
rua) e A ARTE DOS IMORTAIS, peça que entremeava textos poéticos de variados
autores. Em 2004, entrou no grupo ARKH, e no mesmo ano participou do espetáculo
PACTOS INSUSTENTÁVEIS. Nesse ínterim, entre o teatro e a faculdade de Letras,
Sergio Santos começou a escrever seus primeiros textos, os quais só foram
publicados em 2008.
O primeiro foi o poema “Angústia”,
publicado na coletânea A NOVA LITERATURA ACREANA, resultado do Primeiro Prêmio
de Literatura Acreana, realizado pela Fundação Garibaldi Brasil e pela Academia
Acreana de Letras. Em 2009, seu primeiro romance DE AMORES E SEGREDOS foi
classificado em segundo lugar na segunda edição do Prêmio de Literatura Acreana,
publicado na antologia A NOVA LITERATURA ACREANA VOLUME 2. Além do romance, foi
publicado também um conto, “Da janela”.
ANGÚSTIA
Não queria ter
dúvidas quanto ao amor
Queria sempre saber
o que se passa entre as duas almas
Dói-me não saber o
que há entre nós que não sai de nossas bocas
Nem se mostra nos
nossos olhos
Há sempre algo que
se esconde dos dois
E sufoca a ambos
Como uma corda que
nos envolve
Mas nunca revela o
motivo da morte
A partir daí,
Sergio Santos passou a participar de vários concursos literários nacionais e
teve uma série de textos publicados em antologias, chegando, inclusive, a ficar
em primeiro lugar, como no PRÊMIO CECÍLIO BARROS PESSOA DE LITERATURA, com um
poema em homenagem a Vinícius de Moraes, intitulado “Soneto de vinicidade”, que
foi publicado em 2015, na coletânea de soneto LIVRO DE SONETOS, pela editora
Clube de Autores.
SONETO DE
VINICIDADE
À sua poesia toda
fora atento
E com visível
primor fizera tanto,
Pois que fizera de
tudo um encanto,
Levando a todos o
seu pensamento.
Da sua poesia fez
cada momento,
E nela pôs a
lágrima e o pranto,
E a embalou como se
embala o canto
Pra não pesar o seu
contentamento.
E agora, que a
saudade nos procure
E nos traga a
poesia que ainda vive,
Pois ela é o
alimento de quem ama.
Outras publicações
em antologias são:
20 CABEÇAS E 22
CONTOS IMPERDÍVEIS, na qual tem o conto “De saudades e verduras” (2011);
50 MELHORES SONETOS
DE 2010, onde tem o soneto “Se é doce o favo da jataí, querido” (2010);
DO FUNDO DA NOSSA
ALMA – POEMAS, onde tem o soneto “Vou dormir, pois me chega o sono agora”
(2011);
VI CLIP (Concurso Literário
de Presidente Prudente), onde tenho dois textos publicados: o conto “O muro” e
o soneto “A complexa vastidão de tua alma” (2012);
VERSOS SOPRADOS
PELOS VENTOS DO OUTONO, resultado Primeiro Concurso de Poesias da Big Time
Editora, onde tem o soneto “Erguida sobre a cova ela contempla” (2012);
AMOR. VIVA ESSE
ESPETÁCULO, resultado do 3º Concurso Literário Pague Menos, onde tem o soneto
“Vontade” (2012); na edição seguinte desse concurso, publicou o soneto “Amor”
(2013);
COLETÂNEA DO 2º
PRÊMIO ESCRIBA DE CRÔNICA 2014, onde foi publicada a crônica “O carteiro”
(2014);
Publicou, em 2011,
o romance O REGRESSO.
Em 2015, publicou
uma coletânea de 50 sonetos no livro LIVRO DE SONETOS, pelo Clube de Autores, e
o romance DE AMORES E SEGREDOS.
Em 2017, publicou
uma coletânea de 8 contos num livro intitulado DE SAUDADES E VERDURAS E OUTROS
CONTOS ADULTOS, também pelo Clube de Autores.
***
ERGUIDA SOBRE A
COVA ELA CONTEMPLA
Erguida sobre a
cova ela contempla
O caixão deitado do
amante amado.
No peito feito
ferro tem cravado
Seu amor recolhido,
que a sustenta.
A lágrima que desce
pela face
Dela é grossa,
cortante, enegrecida.
Essa lágrima a toma
combalida;
E ela grita sua dor
sem que disfarce.
Viúva ficara, e sem
um filho
Para ter do marido
uma lembrança,
A mão no ventre
busca uma esperança.
Vendo ela que ali
filho não gera,
Desistente da vida
se declara.
E pra unir-se ao
marido, ela se mata.
* Do livro LIVRO DE
SONETOS. Texto publicado também na
coletânea VERSOS SOPRADOS PELOS VENTOS DO OUTONO, resultado do Primeiro
Concurso de Poesias da Big Time Editora, em 2012.
SONETO ACREANO*
Enquanto o povo
sucumbe ao degredo
E o caos
rapidamente se aproxima,
Os nobres olham
somente de cima
E dançam com leveza
o samba-enredo.
Que para o povo não
ligam, não é segredo,
Tampouco querem que
o povo se exprima,
Nem que pela
liberdade ele frima
E exija do Governo
um desenredo.
Vivemos num lugar
que não evolui,
Porque quase nada
aqui se planta:
Quase tudo que se
come vem de fora.
O acreano o que
precisa não possui
E não ter o
prometido nem lhe espanta
Pois vive num
sistema que o devora.
Do livro Livro de sonetos.
* Soneto feito em
referência à alagação do rio Madeira, que deixou o Acre isolado, mostrando o
quão dependentes são os acreanos e como os governantes agiram durante os
acontecimentos, recordando o desfile da primeira-dama numa escola de samba do
Rio de Janeiro.
SE É DOCE O FAVO DA
JATI, QUERIDO
Se é doce o favo da
jati, querido,
Mais doces são teus
lábios que eu beijei,
E mais belos são
teus olhos que eu fitei,
Com os quais
encadeei-me pelo brilho.
Se macio é o
pêssego recém-colhido,
Ainda mais e a tua
pele em que toquei.
E as curvas nas
quais eu me encontrei
Mais belas são que
as de Davi esculpido.
Maçãs mais lindas
só as de teu rosto
Que nem pintar
soube nenhum artista
Por mais que Deus
lhe desse inspiração.
É este todo teu que
dá-me gosto,
É ter-te ao lado
meu que dá-me vista
De que tudo isso me
habita o coração.
* Do livro LIVRO DE
SONETOS. Texto publicado na coletânea
OS 50 MELHORES SONETOS DE 2010, resultado do concurso de sonetos Chave de Ouro.
Poesia sem título,
sobre a construção do Museu dos Povos Acreanos
Para fazer o
capricho da mulher,
Sem ao menos o povo
consultar,
Mas sabendo que não
pode gastar;
O ditador não fará
obra qualquer.
Pois aqui ele faz o
que bem quer
E gastará do povo
alguns milhões
E pra o resto não
deixará tostões,
Ainda que este povo
necessite
E que por melhoras
sempre grite,
O ditador é quem
manda nos quinhões.
O MURO (conto)
Certo dia, ao
deitar-se para dormir, ela sentiu algo duro e incômodo entre si e o marido.
Ergueu a coberta e avistou sobre a cama um tijolo. Estranhou-o ali, mas, como
não acreditasse no que vira, virou-se do lado e adormeceu ouvindo os roncos do
cônjuge, que ressonava de borco.
No dia seguinte, ao
deitar-se novamente, viu ela que havia mais um tijolo entre os dois. E
novamente, como não acreditasse, deixou-se dormir sem tirar de lá o objeto
incômodo. Casada há bastante tempo, ela não quis nem acordar o marido, de quem
ela tinha uma vaga lembrança, pois o costume ou porque a vida lhe vinha
turvando o caminho parecia não ver mais o marido.
No dia seguinte e
nos outros dias, ela via que o número de tijolos crescia como o capim que
cobria o quintal e o marido, pretextando cansaço, nunca o cortava. Deitava-se
novamente sem acordá-lo e sem se preocupar em tirar da cama os incômodos
objetos.
Um dia, ela viu não
mais um tijolo. Havia entre ela e o marido um muro. Diferente desta vez, o
objeto que ornava a cama e a fazia em duas não lhe causava nenhum incômodo, de
modo que ela pôde até se esticar um pouco, mas nunca podendo tocar o corpo do
companheiro de há tantos anos.
E assim ergueu-se
sobre a cama de ambos um muro que os separava. Se antes não lembrava ao certo o
rosto do marido e guardava a imagem de há muito, agora parecia tê-lo apagado de
sua memória de vez. E no dia que ele bateu a porta e não mais voltou, ela nem
se deu conta de sua partida.
A única mudança foi
que o muro havia sumido sem sinais aparentes, e ela agora podia esparramar-se
sobre a cama só sua. Mas seu corpo, já acostumado ao pequeno espaço que lhe era
reservado, sentiu falta do muro e do corpo que ocupava o outro lado da cama. Na
sua solidão, ela deixou cair uma furtiva lágrima no travesseiro amassado.
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