Desde o dia em que
o Pinheiro me passou um quilo de pregos de 700 gramas, eu fiquei conhecendo o
peso da terra, que segundo me informou este comerciante pesa........6.595.000.000.000.000.000.000
de toneladas, tendo sido pesada pelo Dr. Heyl, físico americano, pelo sistema
de atração e gravidade.
À
medida que a estupefaciente lição do matemático, brotava em ensinamentos
profundos, de seus lábios cheios de erudição, senti que o pacote de pregos que
sustinha, aumentava sensível e gradativamente as suas 300 gramas faltosas e me
internei na convicção, de que as 700 gramas deveriam ser mesmo 1 quilo, bem
pesado.
Mas,
diz a sabedoria popular, que: “não hai
primeiro sem segundo.” Foi partindo deste princípio axiomático, que o Pinheiro
foi dar a mão a palmatória a certo seringueiro do Tarauacá.
Subia
no “Palhoça” tocado da mais risonha das sortes; os “princípios” choviam, o
regateio auspiciava-se rendoso. O Montefusco vendia ao rendeiro ou o George e o
Pinheiro recebia a borracha sempre pesada pela célebre balança regulada, pelo
sistema da atração. Às praias tantas, encostou em uma barraca não tardando que
o seringueiro aparecesse.
–
Então amigo, não tem nada para mim?
–
Um princepesim...
Daí
a momentos o seringueiro trazia uma borracha que no seu cálculo, pelos
“frascos”, daria alguma coisa. Foi posta na balança mas oh! surpresa... – 10
quilos!
–
“Seu” Pinheiro num haverá engano? disse o seringueiro coçando a orelha e
desconfiado com o mérito do princípio
em relação com o vulto.
–
Você não está vendo?... e mal pesado!
–
Tá déreito “seu” Pinheiro, nem hai dúvida, vamos liquidá. Dê-me uma garrafa de
cachaça, um litro de sal, uns metros de pano e um quilo de bolachas.
–
Pois não, respondeu o Pinheiro, botando as bolachas numa balança que retirou
dum caixote.
–
Não “seu” Pinheiro, adiscurpe... eu vendi nesta outra balança só compro se fô
na mesma.
–
Mas...
–
Não sinhô, me faça o biséque de pezá nesta onde pezamo a burracha...
Não
havia remédio, as bolachas foram transferidas para a outra balança e o
seringueiro arregalou os olhos no rumo do ponteiro.
E
haja o Pinheiro a botar bolachas e mais bolachas. Esvaziou o conteúdo de uma
caixa. Raspou o fundo de uma barrica, lançou mão dum bocado que levava como
rancho, e o ponteiro nada! mandou que o Theófilo retirasse nova barrica do
porão, despejou um montão na balança, foi quando, o ponteiro afinal, alcançou a
meta...
–
Pronto “seu” Pinheiro, chegou... 1 quilo! Disse o seringueiro radiante, ao
mesmo tempo que botava a cabeça na direção da barraca e gritava:
“Meu
fio, traz daí dois saco p’ra carregá bolacha!”
* Título nosso. No original CONVERSAS DA FELIPÉA.
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