sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

DOIS SONETOS DE REMIGIO FERNANDEZ

REDEMPÇÃO, por um gesto cativante de Pericles Moraes, que desfalcou o seu arquivo, onde jaziam inéditos, desses dois peregrinos camonianos, tem hoje a honra da colaboração de Remigio Fernandez. A crescente e radiosa celebridade desse grande nome, dos maiores das letras amazônicas, dispensa quaisquer elogios. Todos o conhecem, todos o admiram, todos o amam. Visionador formidável de aspectos e emoções, admira-se o escritor pela sua cultura complexa e aprimorada, pela elevação de suas ideias, pelo aticismo de seu estilo elegante e nervoso. Ama-se o poeta, o evocador e disciplinador de almas, em cujo temperamento deliciosamente emotivo, através das rimas, repercutem as vibrações da vida.
 

ETERNO TEMA

A Pericles Moraes, com perpétua simpatia

Se não venci, Senhora, o vosso austero
Desdém e o vosso duro e rude peito
À minha triste sina me assujeito
E na mudança do destino espero.

Por muito vos amar, por ser sincero
E ao vosso poderio estar sujeito,
Tenho, afinal, de tudo, em meu proveito,
Vosso desprezo intolerante e fero.

Vendo, porém, desfeita a rósea trama
Do meu sonho azul, não me aguilhoa
O pesar, nem rancor algum me inflama...

Só lembrar de que amei, – me galardoa:
Pois só é bom quem sofre, espera e ama:
Só a alma forte de quem ama, – é boa.


MIRAGENS

Ao despertar do berço para a vida,
Vendo a glória sorrir-me, na distância,
Disse comigo: “Se tiver constância
Alcançarei a meta apetecida”.

Hoje, muito depois da leda infância,
Pelo sonho do triunfo enternecida,
Que foi que consegui por tanta lida?
– Nada. Desilusões, cansaço e ânsia.

Desço, agora, cansado, cambaleante,
Para o invisível e o desconhecido,
A extrema e curta nesga do quadrante.

Desço arrastado da fortuna, a esmo,
Na poeira dos Sonhos envolvido
E amortalhado dentro de mim mesmo.


Referência
Revista Redempção, Manaus-AM, Anno I, n. V-VI, março-abril, 1925.

***

REMÍGIO FERNANDEZ (1881-1950)

O Remígio José Fernandez, espanhol de nascimento, natural de Astúrias, nasceu no dia 06 de junho de 1881 e faleceu aos 69 anos de idade, no dia 09 de agosto de 1950, no hospital de Santa Casa, às 00:45 h/min, onde esteve hospitalizado durante 02 meses acometido de gangrena, tendo sido sua perna direita amputada, e sendo diagnosticado causa morte acidose, diabete.
Remígio Fernandez, veio para o Brasil com a idade de 7 anos, acompanhado de um tio.
No ano de 1893 foi seminarista, estudando nos Colégios São Vicente de Paula (Petrópolis), e no Seminário de Mariana (Minas Gerais), onde cursou até 1903; abandonando no entanto esses estudos por não sentir vocação sacerdotal. Neste mesmo ano, veio a residir em Belém e em 1904 ingressou na Faculdade de Direito e, cursando o primeiro ano, ainda calouro substituiu o Professor João Pedro Figueiredo, no ginásio. Em 1907 leciona literatura e francês na Escola Normal, em substituição ao eminente Professor Paulino de Brito.
Ao diplomar-se em Direito em 1908, Remígio Fernandez foi designado a exercer o cargo de Juiz Substituto na cidade de Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó. Em 1917, retorna para Belém, quando então ingressa no Ginásio Paes de Carvalho assumindo interinamente a cadeira de latim, onde desempenha o magistério por longos 33 anos como catedrático para o qual foi nomeado em 1920, após realizado concurso em que apresenta a tese “DAS PREPOSIÇÕES DE ABLATIVO E ACUSATIVO E ABLATIVO”. Durante o curso de sua vida pública, exerceu importantes cargos e foi reconhecidamente importante intelectual da terra PAROARA: Foi diretor da Biblioteca e Arquivo Públicos, Vice-cônsul da Espanha, professor dos Colégios Progresso Paraense, Moderno, Paes de Carvalho, Membro da Academia Paraense de Letras (Fundador da Cadeira nº 03 patrocinada por Acrisio Mota), membro da Academia Piauiense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Pará.
Remígio Fernandez foi poeta, escritor, crítico, advogado, professor e jornalista. Deixou ao morrer, vasta produção literária em jornais e revistas em todo o território nacional, principalmente na Folha do Norte de onde era assíduo colaborador e assinava seus artigos sob o pseudônimo “TIBULO”.
Excelentes produções literárias de Remígio Fernandez foram editadas em 1936, “Máximas de Publio Syro”, e três livros de poesias: “Selva” em 1919; “Sol de Outubro” em 1922; e, “O caso” em 1942.
Traduziu para o latim o romance “Iracema” de José de Alencar, com finalidade de facilitar o aprendizado da língua latina, cadeira em que era catedrático no Colégio Estadual Paes de Carvalho. Ao morrer Remígio Fernandez, deixou uma obra incompleta programada para quatro volumes, de estudos sobre a língua latina inédita que se encontra sob a guarda de seus filhos.
Remígio Fernandez casou-se em 07 de maio de 1921, com a Srª. Izaura de Oliveira Menezes (Paraense) tendo o casal 08 filhos.
Remígio Fernandez recebeu homenagem da Educação Marapaniense contando o seu nome no patrimônio histórico que é principal rede de ensino de 1º e 2º graus de Marapanim. Inaugurado graças os esforços do Prefeito da época, o Sr. Francisco de Sales Neves, em 1959, na gestão do então Governador do Estado: Geolás de Moura Carvalho e o Presidente da República: Dr. Juscelino Kubitscheck de Oliveira; funcionou primeiro como Escola Agro-Artezanal e posteriormente Ginásio Industrial, Ginásio Estadual Remígio Fernandez, Escola de 1º e 2º Graus Remígio Fernandez, atualmente Escola Estadual de Ensino Médio Remígio Fernandez, popularizado como Colégio Estadual Remígio Fernandez.

Fonte: Jornal “O Marapanim”
Página: 06, de Nº 06 (fevereiro/março de 1987).
Com complementações da Professora Jane Lima.

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