Profª. Inês Lacerda Araújo
A subjetividade na modernidade ocidental se constitui em larga escala pelo saber de si, pela vontade de saber. Essa vontade de saber é conduzida pelo dispositivo histórico de sexualidade. Esta não é uma pulsão, uma realidade profunda, subterrânea, mas uma rede de estímulo a prazeres, de incitação dos corpos, de intervenções médicas, de discursos, de práticas de normalização que se apoiam uns nos outros e são conduzidos por estratégias de saber e poder. No lugar da sexualidade/pulsão, o biopoder cria uma sexualidade na qual se pode e deve intervir, que é induzida por discursos produzidos em geral na área médica (psiquiatria) e na área da psicanálise. O poder, tal como Foucault o analisa, produz discursos de verdade pelos quais "somos julgados, condenados, classificados, obrigados a tarefas, destinados a certa maneira de viver ou a uma certa maneira de morrer". As ciências da vida, as ciências humanas, as ciências "cartográficas", a estatística, permitem dominar e controlar a vida, a saúde, a sexualidade. O biopoder se constituiu no século 19 em função da necessidade política de moldar e conservar a vida através de tecnologias que criam algo novo para gerenciar, a população; esta é governável, pode ser transformada e regulada. Ao biopoder importam taxa de natalidade, taxa de mortalidade, modos e níveis de reprodução, a fecundidade. O que exige a formação de saberes rigorosos e um controle político cerrado. É preciso examinar, analisar, cuidar e estabelecer os custos das doenças que incidem sobre a população. É nesse campo que o dispositivo de sexualidade tem a função de regular o sexo, restrito ao leito conjugal, vigiado pela família, que, por sua vez é controlada pelos mecanismos do biopoder. Vem daí a novidade na história ocidental, considerar que nossa verdade está escondida num ponto de difícil acesso, a sexualidade, que pode e/ou precisa ser dita, confessada. Por isso a sexualidade é aquilo de que mais se fala, para o ouvido "certo", na hora "certa". A tese de Foucault é a de que há muito mais uma "explosão discursiva" do que repressão. O próprio fato de esconder, de velar, implica revelá-la, tanto faz se é um especialista ou o amigo(a), namorado (a). Sequer percebemos que isso nos prende, nos controla ao invés de libertar. Seríamos muito mais livres fora desse esquema da vontade de saber, novos prazeres, novos estilos de vida nos tornariam mais criativos, menos sujeitos ao controle pelo exame do desejo, mais abertos para o prazer.
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**INÊS LACERDA ARAÚJO, filósofa, autora, entre outros, de Foucault e a crítica do sujeito (Curitiba: Ed. da UFPR, 2008)
Um comentário:
Olá Isaac
A sexualidade tornou-se um ponto muito mais de repressão que de prazer, administrada pela instituições como: Estado, igrejas, escolas, família, etc, que controlam ou tentam controlar a vida das pessoas, desta forma cada um camuflando o seu verdadeiro eu, e vivendo na hipocrisia.
Abração
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