quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

PARADIGMA, USOS E ABUSOS DO CONCEITO

Profª. Inês Lacerda Araújo*


Thomas Kuhn (1922-1996) publicou em 1962 um livro sobre história da ciência A Estrutura da Revoluções Científicas, cujo sucesso e repercussão foram enormes. Ele soluciona um problema crucial para se fazer história da ciência. Desde o nascimento da Física, com Galileu (séculos 16-17) até hoje teria havido um acréscimo de conhecimento, um acúmulo de teorias que aprofundariam o que se sabe sobre a natureza, o movimento, os átomos, a eletricidade, etc.

O problema é que essas teorias mudam, as explicações de Galileu e Newton foram suplantadas pela de Einstein, em muitos aspectos. Então, a teoria que está por vir será verdadeira e a de Einstein falsa? Como é possível trabalhar a partir de uma teoria falsa?

A história da ciência é história dos erros?! Se o historiador considerar que há um acúmulo, um acréscimo de teorias, cada vez mais aproximadas da realidade, tudo o que foi descartado pelos cientistas terá ainda que ser chamado de ciência?

A solução de Kuhn foi mostrar que a ciência não é acúmulo e sim mudança. Mas o que muda?

Os paradigmas é que mudam, isto é, as noções, conceitos, modos de fazer experiência, como e o que coletar para a pesquisa, as técnicas e métodos que se emprega, enfim, tudo o que uma comunidade de cientistas, em certa época, emprega, pode sofrer súbitas mudanças.

Kuhn, ao invés de procurar a causa dessas mudanças, limita-se a analisar o que ele chamou de ciência normal, as diferentes maneiras de resolver problemas, tal como se o cientista estivesse a resolver quebra-cabeças.

Resolvidos os problemas e obstáculos, um novo modo de ver o mundo surge, como resultado do esforço empregado na pesquisa. A nova teoria revoluciona, o novo paradigma consegue um ajuste com a realidade, diferente do paradigma anterior.

Exemplo: para Aristóteles o cosmo é fechado, finito, os astros são esféricos, perfeitos, não há noção de evolução. Para Galileu o cosmo é aberto, os astros se movem e não são esféricos. Ele usa a luneta, cálculos, faz experimentos. Isso é um novo paradigma, que revolucionou a ciência.

As mudanças de paradigma não se dão ao gosto do cientista! Ou devido a suas boas intenções!

Assim, quando se defende (como acontece em várias áreas das ciências humanas) que se deve mudar de paradigma, não se compreendeu o que quis dizer Kuhn.

Em ciências humanas (Sociologia, História) não há acordo quanto a método e objetivo (como e o que pesquisar), portanto, não há paradigma.

Conclusão: não passa de um modismo dizer que é preciso mudar de paradigma, ou quebrar paradigmas.
As tiras acima, são de Benett (Gazeta do Povo). Para melhor visualização busque no Google.

Obs.: se o emprego do termo for o usual, isto é, "paradigma' sinônimo de "modelo", pode-se entender a mudança de paradigma como renovação, mas não como uma revolução, no sentido de Kuhn.

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* INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e doutora em Estudos Linguísticos.

Um comentário:

Jose Gomes disse...

paradigma também pode ser vista como a maneira de vermos a vida, ou seja paradigma pode ser entendida como nossos convicções, não apenas um modelo.

os paradigmas são nossas convicções, são a idéia que temos do mundo, e a maneira de enfrenta-lo, então ela pode ser entendida como uma revolução, sendo que as revoluções só podem vir com uma renovação de pensamento, com a mudança de ideais ou insatisfação do modelo habitual....