José Alcides Pinto
Da densa
geografia
de teu corpo
:
onde nascem
os sonhos
a esperança
a flor
:
onde a(s)cende
vésper
o caule
de fogo
:
que há
de queimar
déspostas
tiranos
:
destruir
hipopótamos
do medo
:
estaremos
contigo
companheiro
:
abraçados
unidos
ao teu flanco
:
para que
nos fortaleça
nos fortaleça
com tua luz
de granito
e o sal
de tuas narinas
:
Desse mapa-
múndi que
carregas
(na
pele)
:
há-
de brotar
a vermelha
rosa
da esperança
:
cujo fulgor
ilumina
aldeias
proletárias
:
onde
crianças
têm pesadelos
que as sufocam
com hienas
– bruxas do poder
:
Tua mão poderosa
companheiro
como a pata
de pegasus
esmaga
a miséria
que enlameia
a pátria
:
corrói
o pórtico
da história
como a ferrugem
:
(porque
como Bayron
hey de ensinar
se puder
até as pedras
a se levantarem
contra os
tiranos
da terra)
:
Nesta
ou naquela
região
(de norte
a sul)
:
por toda
parte
que se volte
:
teu nome
está inscrito
no vento
:
no pórtico
no pórtico
das catedrais
nos templos
:
está inscrito
nas comunidades
indígenas
:
nas reservas
extrativistas
:
em todo o
território
brasileiro
:
está escrito
no pacto
na aliança
dos povos
da floresta
:
no Sindicato
de Brasiléia
Xapuri
:
no “empate”
no coração
do seringueiro
:
está escrito
nas centrais
operárias
:
praças
ruas
aglomerações
populares
:
porque
és líder
desta nação
e representas
a liberdade
a liberdade
:
Tu sabes
que a esperança
está em ti
como nas
profecias
:
guerrilheiro
do sonho
tu sabes
muito bem
:
não és o
anunciado
mas o que
anuncio
:
neste poema
sem assédio
nesta escritura
sem rascunho
:
para este tempo
de “homens partidos”
prover de vergonha
Chico:
homem do
povo
autêntico
revolucionário
:
flor da
esperança
:
pulmão do
mundo
nas mãos
de Deus
símbolo
da luta
pela democracia
:
– chama
da justiça social –
:
a canção
do vento
que te embalou
a infância
:
é a mesma
que te agita
a cabeleira
de dóceias anéis
rutilantes
:
onde os
rouxinóis do amor
fazem o ninho
:
e os caracóis
da volúpia
descem sobre
tua fronte
premonitória
:
conheces
a palavra
e a estratégia
que combatem
o inimigo
:
teu nome, Chico
está em toda parte
do país
:
como a mancha
de sangue
na praça
– sinal de luta
:
como o arranhão
o grafite
no muro
que o tempo
não apaga
:
está nos “retirantes”
das telas de
Portinari
:
está em
“guernica”
da Espanha
de Picasso
:
Teu nome
está no
sambódromo
:
na praça
da apoteose
:
no grito
no grito
do samba
na música
do frevo
do frevo
:
no pé
na capoeira
:
no zumbido
do apito
no estandarte
da porta-
bandeira
:
no ritmo
da passista
no voo
do mestre-sala
:
na alegria
e na explosão
dos fogos
de artifício
:
está no
sangue
de tuas três
raças
:
na tua
miscigenação
:
no feitiço
na magia
negra
das ancas
das mulatas
:
na mise-en-scéne
na coreografia
no futebol
:
:
está inscrito
no Brasil
como na dança
exótica
de um palmípede
PINTO, José Alcides. O sol nasce no Acre. Fortaleza: 1991.
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José Alcides Pinto (1923-2008), o poeta maldito como ficou conhecido, foi um dos grandes nomes das letras cearenses e da Literatura Brasileira nesses últimos tempos. Romancista, crítico literário, teatrólogo e poeta, Alcides Pinto construiu um legado literário original e independente, sem se filiar a nenhuma corrente literária.
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