sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O BACANA QUE É RIDÍCULO

Isaac Melo


O nobre deputado ao centro da imagem.
Sobre a reportagem leia em AC24Horas,
onde consta a imagem acima.
O trabalhador comum, o que sai às cinco, seis, sete da manhã, e depois de uma jornada cansativa de seis, oito ou até mais horas de trabalho retorna a seu lar, à esses nenhum vereador, deputado ou senador vai diante de tribunal de justiça ou do trabalho levantar cartaz pedindo salário mais justo, melhores benefícios e garantias trabalhistas. Não há vozes que clamam por justiça por eles. No entanto, para os operários da pátria da TelexFree, que querem ganhar dinheiro palitando os dentes, à esses, deputados se organizam para defendê-los e até se prestam a ir pessoalmente levantar cartaz com dizeres clamando por justiça. Não estou contestando o direito dos que de fato possam ter sidos prejudicados. Que a Justiça seja feita. O que me causa estranheza é a atitude de alguns homens públicos. O autor da matéria ressalta que “o comunista Moisés Diniz incorporou a causa e está disposto a ir às últimas conseqüências”. E ainda acrescenta, como se fosse um grande feito, que “Diniz é bem visto pelos divulgadores e é tratado como líder do marketing multinível”.

Justiça, sr. Deputado, clamam aqueles que vivem e morrem à míngua, praticamente, à beira de rios, estradas, ramais e periferias acreanas por falta de um sistema de saúde e saneamento básico que funcionem.

Justiça, sr. Deputado, clamam os pais que a cada dia veem seus filhos tragados ou na iminência de o serem pelo mundo das drogas ante a passividade do poder público.

Justiça, sr. Deputado, clamam aqueles que não tem a certeza de que, ao sair de casa, irão retornar, ante o caos da segurança pública. E ao retornar, se ainda encontrarão a sua casa inviolável.

Justiça, sr. Deputado, clamam aqueles que tem perdidos as suas vidas nas estradas e ruas esburacadas e mal sinalizadas do Acre.

Justiça, sr. Deputado, clamam aqueles que padecem, e mesmo morrem, à espera de  atendimento nos hospitais, num sistema de saúde precário e insuficiente.

Justiça, sr. Deputado, clamam os “brocadores” de campo do Acre que, sob um sol causticante ou sob chuvas torrenciais, labutam o dia inteiro para ganhar uma miséria, e sem nenhuma assistência trabalhista.

Justiça, sr. Deputado, clamam os pais que ao fim do dia veem seus filhos tristes e esquálidos, atormentados pelo fantasma da fome e da miséria.

Justiça, sr. Deputado, clamam os jovens assassinados e assassinos cujo futuro poderia ter sido escrito diferente se não lhes fosse negados alguns direitos básicos, como o ter um lar, comida e oportunidade.

Justiça, sr. Deputado, clamamos nós, contra a classe política que subjuga, com suas anomalias acéfalas, a inteligência e a capacidade crítica do povo brasileiro.

A justiça, sr. Deputado, não deve ser uma palavra de luxo, nem exclusividade de poucos. Clamai por justiça. Porém, clamai para que se cumpra a justiça em sua totalidade.

Ide, sr. Deputado, às últimas consequências, mas às últimas consequências lutando por uma educação de melhor qualidade, para que o filho do agricultor tenha as mesmas chances que o filho do doutor.

Ide, sr. Deputado, às últimas consequências, mas às últimas consequências lutando para que a cultura se difunda, e seu acesso não seja privilégio apenas de uma classe.

Ide, sr. Deputado, às últimas consequências, mas às últimas consequências lutando para que cada um tenha a possibilidade de ter um emprego, e digno, para que no fim do mês o governo não o humilhe com suas bolsas e seus vales, quando o que fato ele precisa é de apoio e investimento econômico e humano.

Sim, se vocês querem ser ouvidos. Imagina, então, o povo! Mais ainda o querem ser. Quem ouve os seus clamores? Para o povo, há os rosários de problemas, que todos nós sabemos. Nunca, politicamente, com tanto político, e com tantos direitos, o povo real esteve tão só e desprotegido. É trampolim. Escada que pode ser descartada após cada eleição. Escarram-se em nós. Fazem-nos de estercos para adubarem seus projetos pessoais.

Mas, aprendi com o poeta, do povo vai depender a vida que vai levar. Vai doer. Vai aprender. Só não temos o direito de calar.


p.s. Rio Branco é atormentada por assaltos e arrombamentos, Tarauacá e Cruzeiro do Sul empestadas de drogas, e a então pacata Feijó estabelece, devido onda de violência, toque de recolher a seus cidadãos. E o Acre achata.

Um comentário:

José Marques disse...

Reflexão bastante pertinente, Isaac. Enquanto o Acre está afundando em problemas sociais, um represente do povo, assume como bandeira de luta uma questão secundária.