segunda-feira, 11 de maio de 2015

A PREPOSIÇÃO “DE”

Jorge Araken Filho


Ainda me lembro de uma prova de Português que fiz no Colégio Colégio Sacré-Coeur de Marie, em Copacabana, onde cursei o Primário, o Ginásio e o Segundo Grau.

Dr. Jorge Araken Faria da Silva
Eu cursava a quarta série do antigo primário e respondera, na prova de Língua Portuguesa, que a preposição “de” é monossílabo átono, como meu pai (Jorge Araken Faria da Silva) me ensinara.

Tinha certeza do dez...

Para minha tristeza e revolta, recebi um nove, justamente por causa da malfadada preposição “de”.

Meu pai estava no Rio há alguns meses, de licença prêmio e participando, como Conferencista, da Semana de Turismo Cultural no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ele era responsável pelo Turismo Cultural na Amazônia, tema da sua Conferência.

Na véspera da prova, ele me ensinara que a preposição “de” é monossílabo átono, embora a Professora houvesse ensinado que é monossílabo tônico.

Confiei nele e fiz a prova...

Discuti com a professora e usei o meu pai como argumento de defesa. Ele era o meu herói da gramática, o defensor perpétuo do vernáculo, a “última flor do Lácio, inculta e bela...”

Perdi um ponto... Falei o diabo com ele! Acusei-o de me ensinar errado. Ele não se defendeu. Apenas pediu que comprasse um caderno na papelaria. Não entendi nada... Eu o comprei e ninguém o viu sair à rua por três dias seguidos.

Estávamos numa quinta-feira. Na segunda, antes que chegasse o ônibus da escola, ele me entregou o caderno inteiramente escrito, com o ponto final na última página.

Ele só me pediu que o entregasse à Professora de Português.

Qual era o título? Adivinhem...

“O uso da preposição de”.

Orgulhoso do meu pai, levei o caderno como um troféu...

A Professora folheou o calhamaço, escrito em letras desenhadas, quase góticas, e o guardou sem dizer nada.

Dois dias depois, pediu-me desculpas, acrescentando que o meu ponto seria restabelecido.

E ainda pediu para conhecê-lo, tal a elegância do tapa com luvas de pelica.


> Jorge Araken Filho é advogado e escritor. Reside no Rio de Janeiro. É filho de Jorge Araken Faria da Silva, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, professor jubilado da UFAC, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Acre e da Academia Acreana de Letras, entre outros.

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