Leila Jalul
Nome: Bita
Apelido: Bita
Estado civil: Bita
Idade: a idade do Bita
O cenário era assim, necessariamente nesta
mesma ordem: da direita para a esquerda, visto de frente, primeiro, lá no
fundo, uma construção em alvenaria de 3m x 3m. Era o necrotério, onde, por dias
intermináveis, deitavam os defuntos dos arigós e dos indigentes.
Enorme e de madeira, lá estava o pavilhão dos
mais ou menos, aqueles em recuperação. Mais ao lado, aquele dos casos mais
graves e do centro cirúrgico, que fedia a éter e a mistério. Intransponível.
Apenas as freiras e a vontade de sofrer circulavam por lá.
Outro pavilhão era o isolamento dos leprosos
e tuberculosos. Tinha uma placa ostensiva, ao alto, em letras garrafais como se
dissesse: Atenção! Cuidado! Não se aproximem! O buraco é mais embaixo!
Não estou falando sobre um complexo
hospitalar. Ledo engano. Vejamos a última construção, no finzinho, já dando
para avistar o Rio Acre. Era lá que estava a construção de lona, onde morava o
nosso homem.
Pequeno, magro, sujo e, acima de tudo,
respeitado. Pequeno, magro, sujo, respeitado e, à época, a única fonte
incontestável das previsões meteorológicas.
Ninguém, ninguém mesmo, com domínio ainda que
relativo de suas capacidades, ousava casar, aniversariar, e batizar, sem que
antes perguntasse ao Bita. As previsões dele valiam tanto para o hoje quanto
para o futuro.
- Bita, vai chover hoje?
- Bita, vai chover dia 8 de dezembro?
Dava certo, acreditem. O terreno não existe
mais. Afundou tudo na rua Floriano Peixoto. Os doentes, ou morreram ou ficaram
bons. Quem sabe?
O Bita é hoje aparelhado por satélites de
altíssima precisão. Céu nublado, com possibilidades de chuva no decorrer do
período (da manhã ou da tarde?) e graciosamente apresentado pelas emissoras por
lindas criaturas. Sou mais o Bita.
Foi nesse ambiente que adquiri meus primeiros
sintomas de pedras nos rins, bexiga arriada, erisipela e frigidez. Nas noites
mal dormidas, eu aparava em bacias de prata o sangue das hemoptises e, como
quem procura agulha num palheiro, procurava saber sobre a sensibilidade dos
meus panos brancos desastrados.
Nos outros dias, restava viver os tempos
nebulosos que nem o Bita sabia prever.
*Crônica retirada do blog do Altino Machado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário