quinta-feira, 16 de junho de 2016

TEMPOS GRANDIOSOS E DIFÍCEIS, PARA HOMENS BANAIS E PEQUENOS!

Jorge Araken Filho 


Otto Eduard Leopold, Príncipe de Bismarck, Duque de Lauenburg, também conhecido como o Chanceler de Ferro do 2º Reich, disse, com mal disfarçada amargura e certo toque de cinismo, que as “leis são como salsichas. Melhor não saber como são feitas”. 

Ando pensando na frase de Otto Von Bismarck, antiga, porém atual, nesses tempos difíceis que atravessamos na “pátria educadora”, época sombria, de eleições desconstruídas no Parlamento, na calada da noite — não necessariamente em consonância com o voto popular, expresso pela maioria nas urnas —; tempos difíceis em que políticos, notoriamente antiéticos, não só na essência, mas nos métodos, manipulam o Conselho de Ética, e até se sentem com força de prescrever regras para medir a ética alheia. Os bons e os maus andam de mãos dadas, muitas vezes em posições trocadas. O lobo pode estar vestido de vovozinha...

Quem eu vejo na grande mídia, serviçal de poderes obscuros, dando lições de ética, chafurda na lama com os porcos, e não me refiro aos de quatro patas, deliciosamente puros e inocentes, mas aos de dois pés e muitos neurônios, todos voltados para projetos pessoais de riqueza e poder.

Quando o destino conspira com o caos, trazendo em seus ventos o obscurantismo e a mediocridade, as pessoas querem acreditar em alguma coisa, para sobreviver todos os dias, sem desistir. Não raro, infelizmente, acreditam no salvador da pátria, o herói sem caráter do nosso e de todos os tempos, o Macunaíma que se alimenta da ignorância de uns e do silêncio complacente de outros.

Prefiro manter distância dos santos infalíveis e seus dogmas imutáveis. Esses são os verdadeiros heróis sem caráter desse mundo de seres imperfeitos, os Macunaímas das redes sociais, que propagam verdades absolutas num mundo de relatividades.

Esse estado de estupor e embrutecimento — uma descrença absoluta em tudo e em todos os que não são o espelho onde projetamos os nossos desejos, uma revolta indiscriminada contra tudo que contraria os nossos interesses mesquinhos —, obscurecendo a razão e abrindo feridas incuráveis, acabará semeando o destino que tanto deveríamos evitar.

Mas essa é a maior das compulsões humanas, uma autocondenação atávica do Homo sapiens: repetir e repetir novamente experiências antigas, mesmo as mais penosas, sem se recordar do paradigma histórico que a gerou, mas, ao contrário, tendo a estranha e nítida impressão de que se trata de algo novo, expressão de novos tempos, ou seja, de algo que encontra o seu significado e razão de ser nos eventos atuais. Contudo, estamos apenas repetindo o passado doloroso, cutucando feridas que pareciam cicatrizadas.

Mas o que fazer com a névoa da desesperança, essa estranha sensação de inutilidade e impotência que nasce da desilusão? Tudo parece fora do seu curso, agora, diante dessa onda de intolerância disfarçada de limpeza ética.

“Hard times” (“Tempos difíceis”), diria Charles Dickens!

E o mais triste é saber que confiaram aos porcos a tarefa de limpar o chiqueiro... 


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.
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