Otto Eduard Leopold, Príncipe de Bismarck,
Duque de Lauenburg, também conhecido como o Chanceler de Ferro do 2º Reich, disse,
com mal disfarçada amargura e certo toque de cinismo, que as “leis são como
salsichas. Melhor não saber como são feitas”.
Ando pensando na frase de Otto Von Bismarck,
antiga, porém atual, nesses tempos difíceis que atravessamos na “pátria
educadora”, época sombria, de eleições desconstruídas no Parlamento, na calada
da noite — não necessariamente em consonância com o voto popular, expresso pela
maioria nas urnas —; tempos difíceis em que políticos, notoriamente antiéticos,
não só na essência, mas nos métodos, manipulam o Conselho de Ética, e até se
sentem com força de prescrever regras para medir a ética alheia. Os bons e os maus
andam de mãos dadas, muitas vezes em posições trocadas. O lobo pode estar
vestido de vovozinha...
Quem eu vejo na grande mídia, serviçal de
poderes obscuros, dando lições de ética, chafurda na lama com os porcos, e não
me refiro aos de quatro patas, deliciosamente puros e inocentes, mas aos de
dois pés e muitos neurônios, todos voltados para projetos pessoais de riqueza e
poder.
Quando o destino conspira com o caos,
trazendo em seus ventos o obscurantismo e a mediocridade, as pessoas querem
acreditar em alguma coisa, para sobreviver todos os dias, sem desistir. Não
raro, infelizmente, acreditam no salvador da pátria, o herói sem caráter do
nosso e de todos os tempos, o Macunaíma que se alimenta da ignorância de uns e
do silêncio complacente de outros.
Prefiro manter distância dos santos
infalíveis e seus dogmas imutáveis. Esses são os verdadeiros heróis sem caráter
desse mundo de seres imperfeitos, os Macunaímas das redes sociais, que propagam
verdades absolutas num mundo de relatividades.
Esse estado de estupor e embrutecimento — uma
descrença absoluta em tudo e em todos os que não são o espelho onde projetamos
os nossos desejos, uma revolta indiscriminada contra tudo que contraria os
nossos interesses mesquinhos —, obscurecendo a razão e abrindo feridas
incuráveis, acabará semeando o destino que tanto deveríamos evitar.
Mas essa é a maior das compulsões humanas,
uma autocondenação atávica do Homo sapiens: repetir e repetir novamente
experiências antigas, mesmo as mais penosas, sem se recordar do paradigma
histórico que a gerou, mas, ao contrário, tendo a estranha e nítida impressão
de que se trata de algo novo, expressão de novos tempos, ou seja, de algo que
encontra o seu significado e razão de ser nos eventos atuais. Contudo, estamos
apenas repetindo o passado doloroso, cutucando feridas que pareciam
cicatrizadas.
Mas o que fazer com a névoa da desesperança,
essa estranha sensação de inutilidade e impotência que nasce da desilusão? Tudo
parece fora do seu curso, agora, diante dessa onda de intolerância disfarçada
de limpeza ética.
“Hard times” (“Tempos difíceis”), diria
Charles Dickens!
E o mais triste é saber que confiaram aos
porcos a tarefa de limpar o chiqueiro...
Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.
Acesse aqui a página do autor.
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