Mário Chamie
(1933-2011)
Vamos poetizar o
poema
e perfumar a sua flor
que por dentro
do poema
é flor isenta.
Coisa pétrea
ou coisa seca,
vamos perfumar
essa flor
na placenta do poema
que a penetra como
luz
que por dentro
se arrebenta.
A luz do poema
é a voz
que o poema inventa.
Vamos poetizar
essa voz
que a luz do poema
engendra.
Não há toureiro
que toureie
sem sua capa
vermelha.
O sangue de sua
espada
é sua palavra-poema.
Vamos poetizar a
palavra
com sua capa
toureira:
as vísceras da metáfora
na sua espada
vermelha.
Sangue e areia,
vamos perfumar
a flor neutra
na placenta do poema
que, na arena da
tourada,
ao poema se
assemelha.
Flor neutra
ou flor isenta,
voz caprina
ou voz cabrália,
ou voz cabrália,
vamos poetizar
o poema
contra o não
da pedra árida.
da pedra árida.
CHAMIE, Mário. Horizonte de esgrimas.
Ribeirão Preto: Funpec, 2002.
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