Filosofia de todo dia
Pode-se dizer que
uma filosofia de vida é mais séria,
difícil, importante do que a literatura voltada para a autoajuda? Pode-se considerar o pensamento de um Sêneca ou Marco
Aurélio (filósofos estoicos, Roma Antiga) mais precioso do que o de uma Louise
Hay, Zíbia Gaspareto ou Augusto Cury?
Qual é o sentido de
“precioso” aqui?
Raro, difícil de
acompanhar ou compreender, culto, e mesmo como se classifica em nossos dias “elitista”?
Para atingir um
público amplo (os livros de autoajuda são campeões de vendagem) é preciso
trocar em miúdos as ideias e os conceitos, ou são as próprias ideias e
conceitos de per si bem acessíveis?
Sim para as duas
opções. Trata-se de temas imediatos, do dia a dia, próximos às dificuldades que
em geral pessoas enfrentam, como superar perdas, alcançar satisfação em seu
trabalho, solucionar questões imediatas e corriqueiras, e para tal, confiar na
palavra e nos conselhos dos gurus, dos homens de fé, dos espiritualistas, e
mesmo de médicos e psicólogos é fundamental.
E sempre aquele que aconselha é o responsável,
é o guia, ele teria a chave do sucesso, da cura, da felicidade. Quem os
segue, lê o receituário e aceita novas regras sem precisar responsabilizar-se
por seus atos e atitudes, sem necessidade de pensar por si mesmo. Alguém o fará
por você.
Se formos
contrastar a autoajuda com as filosofias de vida, as diferenças são profundas.
Isso não implica em negar o papel da literatura de autoajuda, mas em clarear um
pouco os caminhos da reflexão sobre nossa existência, sobre o sentido da vida.
Evidente que o
leitor das receitas para bem viver e ter sucesso, quer solução. Tanto que tais
livros também se intitulam de manuais.
No caso das filosofias de vida, o leitor não busca
adesão, nem chaves para o sucesso, nem autocontrole.
É o inverso, os filósofos da existência pensam e refletem sem visar seguidores,
iluminam nossas ideias, modificam nosso modo de ver e de pensar, entender sua
mensagem basta, o estilo refletido de vida é livre e autônomo.
Alguns exemplos:
O antigo ensinamento
que Sócrates adotou “Conhece-te a ti mesmo” sugere que cabe a cada um mergulhar
em si, poder exercer esse conhecimento para uma vida plena.
Cuidar de si,
saber-se finito, existência responsável e livre (Sartre), entender que só somos
no tempo, vamos morrer, que somos “ser-para-a-morte” (Heidegger), celebrar essa
finitude (Nietzsche), ou considerar que a vida é frágil sofrimento
(Schopenhauer).
Os filósofos abrem
perspectivas, por vezes nos deixam sem chão.
A autoajuda resolve, conduz e apascenta.
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