quarta-feira, 7 de março de 2018

O FIM DO AUDITÓRIO DA RÁDIO DIFUSORA ACREANA

Jornalista Gilberto A. Saavedra – Rio de Janeiro
(Locutor do período de 1966/73)
Wanderley Dantas, novo Governador do Acre, escolhe para o comando da emissora
oficial do Estado, o Jornalista Gerardo Madeira, que desativa o auditório da ZYD-9 “A Voz das Selvas”.

Decorridos 46 anos (1972/2018) do fato malévolo à radiofonia acreana, um depoimento de uma testemunha ocular da história, que conviveu (in loco) com toda essa ocorrência traiçoeira.

Por se tratar de um relato transcorrido em um período histórico da mais antiga emissora do Acre, é bom elucidar, que esse fato interno que adveio, não teria mérito se não fosse de um anexo do Patrimônio Histórico e Cultural da Rádio Difusora Acreana, emissora pertencente ao Governo do Estado do Acre.

Para que o público em geral possa entender toda essa ocorrência, é preciso conhecer um pouco da história do rádio acreano daquela então época, narrada nesta escrita.

Saliento que, o Jornalista Gerardo Madeira me dissera várias vezes, ser contra o fim do auditório, e que o mando da desativação só lhe fora comunicado quase ao final da reforma do prédio.

Afirmo (os fatos), que o Jornalista Gerardo Madeira não tem culpa de nada; foi pego de surpresa, assim como todos da ZYD-9.

Sou testemunha ocular desse acontecimento.

Acompanhei o fato de perto, ao lado dele durante toda obra de reforma do prédio da Difusora e encerramento do auditório.

Documentos que comprovem o ato em si, não consegui obter, sou apenas uma testemunha que conviveu in loco com essa ordem oficial.

No governo de Nabor Júnior foi queimado (propositalmente) muitos registros, livros de pontos, papelada em geral da Rádio Difusora Acreana, antes do encaminhamento para o Arquivo Geral.

Por causa desse despautério, documentos importantes foram incendiados, prejudicando o tempo de serviço para contagem de aposentadoria de muitos funcionários da emissora, inclusive uma parte do meu período de trabalho na emissora estatal.

Para conseguir comprovar esse tempo de serviço de período trabalhado, tive que constituir advogado e processar o Estado na Justiça Federal.

O auditório da Rádio Difusora Acreana era um dos seus principais cartões de visitações por parte do público; principalmente o do interior do Estado do Acre e da Amazônia.

Uma visita ao prédio da Difusora era obrigação espontânea conhecê-lo.

Nesse famoso auditório brilharam os seus grandes Comunicadores, juntamente com os maiores valores musicais da terra.

Os apresentadores, Índio do Brasil, Natal de Brito e José Lopes foram os mais consagrados.

Todas as semanas eles tinham um encontro marcado com o público da plateia do auditório, onde desfilavam os cantores, calouros e várias outras atrações que faziam parte do show.

O apresentador Índio do Brasil (Jornalista e radialista), tinha um estilo clássico; impecável no comando do espetáculo e na hora de escolher um intérprete vencedor.

Já o Radialista Natal de Brito era mais flexível; acredito até por apresentar durante um bom tempo programas infantis de auditório.
Natal de Brito
José Lopes o mais popular. Seu estilo brincalhão, fazia com que o público da plateia ficasse mais à vontade; semelhante aos nossos internautas (bem participativos).

Naquele então espaço reservado ao espetáculo, em épocas ainda mais remotas, já classificara o rádio acreano como um dos mais brilhantes em shows de auditórios da Amazônia.

Mas para que você possa compreender o propósito da desativação do auditório, é preciso retornar ainda mais no tempo, num pouco mais da história, até 1966, ano da criação da rádio Novo Andirá de propriedade dos Dantas, ou seja, da família do novo mandatário acreano, Wanderley Dantas.

A Rádio Difusora Acreana sempre teve uma grande audiência em todo o Estado Acre e em muitos rincões da imensa Hileia Equatorial.


RÁDIO NOVO ANDIRÁ

Com o surgimento da rádio Novo Andirá em Rio Branco em 1966, a Difusora Acreana perde a hegemonia na capital.

A mais antiga emissora do Acre (fundada em 1944), possuía uma equipe com bons profissionais.

Entretanto, não fora o suficiente para reverter o quadro que agora tinha uma nova liderança na cidade.

A nova emissora já iniciava os seus trabalhos radiofônicos com uma boa vantagem de audiência.

Veja: usufruía dos seguintes privilégios: emissora nova, programação voltada para os jovens com muita música, época da jovem guarda.

Captada na faixa de Onda Média (que produz um som local melhor), sem sinal de interferência em sua sintonia.

Além de só ela, ser sintonizada em Rio Branco em um novo tipo de receptor, o pequeno rádio “portátil” de pilhas, que era a coqueluche do momento.

Na época, os rádios dos veículos da capital (automóvel e táxis) só dispunham no receptor da faixa de Ondas Médias nas quais a Novo Andirá era sintonizada.

Por ser captada só em onda tropical (Curta), a Rádio Difusora Acreana não podia ser ouvida no rádio portátil de pilhas (que só possuía onda média).

Por esse motivo, ficou de fora dessa faixa preferencial por um período longo.

A queda vertiginosa na audiência deixou toda equipe da ZYD-9, perturbada.

Com essa alteração rápida no índice de audiência; chegando de 70 a 80%, um “Fenômeno” em Rio Branco, a coisa ficou adversa para o pessoal da “Voz das Selvas”.

Nesse período, quem trabalhou na Difusora no ramo da publicidade, sabe que ficou um pouco mais difícil, angariar uma nova propaganda local.

Quando eu entrei no rádio em 1966 oficialmente (tinha trabalhado no final de 64 logo que cheguei a Rio Branco procedente do Rio de janeiro) estava essa então briga ferrenha pela audiência entre Difusora versus Novo Andirá.

O diretor era o Natal de Brito. Ele autorizou que qualquer funcionário da emissora que conseguisse um patrocínio, receberia uma comissão de 20% da propaganda angariada.

O bônus era ótimo, difícil era convencer os comerciantes.

E assim, comandando a preferência do ouvinte e sem ameaças da Difusora, a rádio Novo Andirá trilhou como líder absoluta de audiência na capital acreana ainda por um bom período de 1966/69.

Só anos depois, (Eurico Filho e José Lopes) foram às desforras, instalando na Difusora a tão sonhada Onda média.

– Agora sim, a disputa entre Difusora versus Novo Andirá ficou legítima acrescentou, José Lopes.

Os radialistas da emissora dos Dantas nesse período foram: João Lopes (Diretor), José Simplício, J. Almeida, Elizeu Andrade, Ulisses Modesto, J. Conde, Juvenal, Nilda Dantas, Elísio R. Noronha, J. Xavantes, Campos Pereira e equipe de esportes.

Natal de Brito, Altemir Passos, Mota de Oliveira, Vilma Nolasco e outros locutores da Difusora, que também deram suas contribuições.


JOSÉ LOPES
(Gestão = 1968/71)

BRIGA: DIFUSORA X NOVO ANDIRÁ
(A grande reação da ZYD-9)

Em meado de 1968, o Advogado e Radialista José Lopes é nomeado Diretor Geral da Rádio Difusora Acreana, pelo Governador Jorge Kalume.

Disputar e ultrapassar a Novo Andirá em audiências na capital era mais do que um propósito; uma obsessão do novo Diretor da “Voz das Selvas”, José Lopes.

A nova gestão aspirava (desejava) uma rádio mais eclética.

Mais música; Jornalismo; Esportes; programa Sertanejo; mais participação do ouvinte e Shows (espetáculos de auditório).

Notícias oficiais do governo, só dentro do programa do Noticiário Oficial do Estado.

O novo diretor da ZYD-9 resolve baixar algumas portarias internas.

Saí de Contrarregra (ainda das gestões anteriores de Natal de Brito e Eurico Filho), e passo a acumular duas funções de confiança: assumo os setores de Programação e Artístico da Rádio Difusora Acreana.

A ideia fixa de José Lopes era brigar e vencer em audiências a emissora dos Dantas em Rio Branco.

Ele inteligentemente sabia que a aparelhagem em Onda Tropical da Difusora voltada principalmente para o interior, jamais conseguiria ganhar na capital da emissora líder.

Mas poderia competir de “igual para igual” com novas atrações de impacto em determinados horários, já com a implantação de Onda Média.

Inicialmente, Eurico Filho e José Lopes instalam a tão desejada Onda média.

A partir desse período, a Difusora Acreana passa a transmitir em determinados horários de sua programação, atrações diversificadas (separadas).

Enquanto transmitia para o interior um determinado programa, na capital o púbico ouvinte ouvia outra atração.

A partir daí a equipe começou a pesquisar e analisar os programas de grandes audiências da programação da nossa coirmã Novo Andirá.

Depois de um minucioso e exaustivo trabalho de análises, o novo plano foi colocado em ação.

Tudo com lucidez; com saída de alguns programas e entradas de novas atrações, umas de impactos.

Primeiramente, a equipe procurou trabalhar a parte de propagandas da emissora; fortalecendo o departamento de Publicidade, apresentando à classe empresarial o novo plano da rádio.

E com mais dinheiro em caixa e muita força de vontade, a equipe lança nova programação.


NOVAS ATRAÇÕES:
A GRANDE VIRADA DA DIFUSORA

Seis (6) programas foram os responsáveis pela boa classificação da Difusora perante o ouvinte, que geraram avidez na direção da emissora Novo Andirá.

1 – Compadre (Cumpadre Lico);
2 – Novelas “Egípcio” e a “Última Testemunha”;
3 – Programa “Não Diga Não Nem, Né?;
4 – De Hora em Hora com a Notícia;
5 – “O Grande Jornal Falado da Noite” e
6 – Programa de Palco e Auditório com o Radialista José Lopes. (Foi o sucesso desse programa de auditório (o último) que causou sua desativação).

Na abertura dos trabalhos da emissora:

Às cinco da manhã = “Compadre Lico” programa (sertanejo com muito forró e que marcou uma época).
Lico solicitou que o nome passasse a se chamar “Cumpadre Lico” conforme era pronunciado pelos sertanejos.
“Cinco minutos com a notícia” = José Valentim Santos.
(Informativo de hora em hora – jornalismo)
Horário nobre (manhã) Radionovela “O Egípcio” (Apresentação – Gilberto A. Saavedra).
(Pedido do público ouvinte “O Egípcio” também era reprisado noutro horário). Ninguém queria ficar sem ouvi-la.
Horário nobre (manhã) “A última testemunha”. Radionovela que estreou depois do encerramento de “O Egípcio”.
Manhã: programa = “Não Diga Não Nem, né”
(Apresentação Gilberto A. Saavedra)
Às nove horas da noite = Grande jornal da noite
(Apresentação = Jornalista Elzo Rodrigues e Saavedra)
Depois entrava no ar – Recordar é viver – Nivaldo Paiva
(Retorno desse programa de saudade, que antes era apresentado por Mota de Oliveira).

Domingo à noite no auditório da Difusora:

Programa de palco no auditório = Com José Lopes
(Por falta de espaço com o auditório lotado o programa foi transferido para o cine Acre).

Obs. Foram citadas nessa programação só as novas atrações, com exceção para o “Recordar é Viver”.

O Boletim de hora em hora “Cinco minutos com a notícia” com José Valentim Santos, teve uma boa aceitação por parte do ouvinte.


RADIOJORNALISMO

A equipe coloca no ar o “Grande Jornal Falado da Noite”.

Teve que trabalhar muito para poder transmitir esse noticioso na Difusora.

A equipe era pequena, mas com determinação e força de vontade conseguiu chegar a um denominador comum.

No comando do jornalismo da Difusora o Jornalista Francisco Cunha, que reside atualmente em Brasília.

No Telégrafo a figura de Francisco Pinto, que captava as informações através das agências de notícias nacionais e internacionais.

O Jornalista Elzo Rodrigues como chefe da Assessoria de Imprensa do Gabinete Civil do Governador Jorge Kalume, se encarregava das informações locais e estaduais confeccionadas na Assessoria por Mauro D’Avila Modesto e equipe.

Gilberto A. Saavedra complementava o trabalho da equipe de jornalismo. Tinha a incumbência de com um gravador, reproduzir os noticiários das emissoras Globo, Voz da América e BBC de Londres.

Tudo feito de madrugada (quatro da manhã) em casa.

O jornal era apresentado à noite por Elzo Rodrigues e Gilberto Saavedra.

Faço questão de enfatizar, que o nome do noticioso o “Grande Jornal Falado da Noite”, foi uma justa homenagem ao excelente profissional o Radialista Natal de Brito.

Foi ele o idealizador do Jornal em épocas passadas na Rádio Difusora Acreana.

O referido jornal era apresentado também pela manhã (bem cedinho) somente por Gilberto Saavedra.

Ainda estava faltando três atrações que iriam completar essa nova programação da Difusora, na época do Radialista José Lopes.

O próprio colocou no ar um programa dominical à noite, com os valores artísticos regionais, diretamente do auditório da emissora, que ficava lotado e por isso, depois passou a ser apresentado no cine Acre, por ser o espaço maior.

O cine também ficava lotado para prestigiar os valores da terra.

O programa competia (em horários diferentes) com o programa de palco do J. Conde (manhã), que era apresentado aos domingos pela Novo Andirá.

O Programa de auditório do José Lopes à noite, incomodou muito os índices de audiência dominical da rádio Novo Andirá.

Ainda sem o sistema televisivo (Televisão) em Rio Branco, às noites de domingos o comando era todo da Difusora.

Comparo esse fenômeno com o da novela “O Egípcio”.

Mas pelas manhãs de domingos, o trono do palco era do Apresentador José Conde na rádio Novo Andirá.

Foi o campeão de audiência nesse horário durante muito tempo.

A nossa grande cartada (o golpe de misericórdia do horário), foi o lançamento na ZYD-9 da radionovela “O Egípcio” de Ivani Ribeiro.

A novela foi colocada no ar, no mesmo horário (manhã) que era apresentado na rádio Novo Andirá, um dos programas campeões de audiência.

Altemir Passos
Era apresentado pelo melhor locutor da época, o imbatível Altemir Passos (A voz mais bonita do rádio acreano).

Além do galã o Jornalista e Radialista José Simplício que também tinha um programa muito chato (difícil) de vencê-lo.

A radionovela conseguiu fazer concorrência nesse horário pela manhã, e com a proeza de ganhar o horário nobre, pela primeira vez.

“O Egípcio” foi um grande sucesso da Difusora.

Quando se passava pelas calçadas das casas, ouvia-se o possante som em alto volume nos receptores de rádio da época, os “transglobe” da Philco apresentando “O Egípcio”.

A apresentação dessa fantástica novela derrubou a audiência da rádio Novo Andirá.

Toda equipe da Difusora Acreana, logo de início, ficou espantada com a grande repercussão.

O êxito foi pleno (chorei de alegria); o Egípcio se tornou o maior sucesso de uma radionovela já mostrada no Acre, só visto somente em “O Direito de Nascer”.

[SAAVEDRA} – Esta é uma pergunta que posso responder com convicção sobre a vinda dessa novela ao rádio acreano, mas, que nunca foi divulgada nas mídias do Acre.

Talvez, por ter sido na época um assunto confidencial (interno da emissora) entre os diretores e não diretamente ao público.

Tínhamos que manter segredos profissionais para alcançarmos os nossos objetivos de surpresas.

Estávamos pesquisando atrações radiofônicas, que pudessem pelo menos chegar perto em audiência do conceituado programa do amigo Altemir Passos.

O José Lopes e o Estevão Bimbi já como (chefe do setor Artístico), sempre em sintonias com outras emissoras do país em busca de algo novo, novas ideias que pudessem implantar na Difusora.

Até tal momento não se tinha conseguido nada de novo. Todos os programas eram e são parecidos uns com os outros. Não passava pelas nossas cabeças nenhuma novela. Aliás, nunca tínhamos cogitado esse tipo de atração em nossas pesquisas. Mas depois de um bom tempo, surgiram-me duas ideias mirabolantes. Apresentei aos colegas e eles aceitaram.

A vinda da radionovela - O Egípcio, para a Rádio Difusora Acreana e o do programa - Não Diga Não Nem, Né? – De Miguel Vacaro Neto da rádio Tupi de São Paulo.

Tudo começou por acaso; de uma experiência minha anteriormente vivida no Rio de Janeiro, e que no meu retorno ao Acre, repassei-a aos gerentes dos cines Rio Branco e Acre.

Gostava de assistir filmes e anotar.

Tinha um caderno de capa dura, tipo (tabelião) onde anotava os nomes das películas e suas características.

Tratava-se de um “Diário de filmes” com centenas deles.

Os nomes (títulos), produtoras, sinopses, elencos, coloridos (tecnicolor) ou em preto e branco, etc.

Muitas superproduções do gênero drama épico.

Vou citar apenas as que eu mais apreciava e muitas dessas fitas foram lançadas nas telas da nossa cidade:

El-Cid - Ben-Hur - Os Dez mandamentos - Cleópatra - Guerra de Troia - O Egípcio - Spartacus - Sansão e Dalila.

Filmes de guerras = Os Canhões de Navarone - O mais Longo dos Dias, e muito mais...

Naquele tempo, ainda sem televisão em Rio Branco, ia-se mais ao cinema.

Esse diário foi repassado (aos cines) em meados de (1965).

Essas fitas citadas com o decorrer do tempo muitas delas foram lançadas nos circuitos de Rio Branco.

Um belo dia lá estava em cartaz o filme “O Egípcio” no cine Acre.

A película foi um sucesso de bilheteria.

Sessões esgotadas. Fiquei bastante impressionado com o impacto que o filme causou.

Eu tinha assistido “O Egípcio” no ano de 1962 no Rio de Janeiro.

Uma produção americana de 1954, com Vitor Mature.

Um belo filme com uma das melhores trilhas sonoras já compostas. História no antigo Egito dos faraós.

Em Rio Branco levei a minha mulher para ver o filme. Mas só conseguimos assistir na segunda apresentação.

Ficamos deslumbrados com o grande sucesso produzido pelo filme em Rio Branco.

Tempo depois fomos ver o filme Sansão e Dalila, (também já tinha assistido antes).

Por coincidência com o mesmo astro que interpretou “O Egípcio” com Vitor Mature.

No dia seguinte voltamos a falar do filme, que também teve uma grande aceitação por parte do público cinéfilo.

Comentei para a minha mulher Alany, que o cinema estava parecendo com o da data da estreia do filme “O Egípcio” com tanta gente na fila.

Falei para ela (falei por falar), não sei qual a razão, mas que existia uma radionovela brasileira com esse mesmo nome, “O Egípcio”.

Ela sabia das nossas dificuldades em poder colocar no ar na Difusora, uma atração diferente e que pudesse causar um grande impacto.

Porém, sem pestanejar, inteligentemente minha esposa bradou!

[ALANY - minha mulher] – Manda o Zé Lopes trazer essa novela - O Egípcio!

[SAAVEDRA] – Novela - O Egípcio?

[ALANY] – Sim! Aproveita o grande efeito que o filme produziu e traz - O Egípcio?

[SAAVEDRA] – Se eu não estiver enganado a única novela apresentada pela Difusora foi o “Direito de nascer” e já faz muito tempo.

Mas o povo gostou e foi um sucesso!

[Alany] – Então! Está na hora de vir outra.

Fala para ele?

Por alguns instantes fiquei mudo, mas logo em seguida comecei a sorrir.

[ALANY] – Qual o motivo do riso?

[SAAVEDRA] – É que você acaba de dar uma ideia mirabolante. Vou agora mesmo falar com o Zé Lopes e o Estevão Bimbi.

Como existia a radionovela brasileira com o mesmo nome do filme, mas com (histórias diferentes), aproveitamos o êxito da tela em Rio Branco (pegamos carona), e o José Lopes fechou contrato e mandou trazer - O Egípcio.

Chegou pelas mãos de Evair esqueci o (sobrenome) dele. Que veio pessoalmente de Mato Grosso, com a gravação (carretel) da novela.

Ainda me emociono com tudo isso, pois não poderia adivinhar que essa minha pequena parcela (ideia da minha mulher), fosse produzir essa consequência.

Benditas palavras quando mencionei à Alany o nome da radionovela “O Egípcio”, o maior sucesso de uma novela transmitida pelo rádio acreano.

Foi um dos primeiros resultados para comandar o índice de audiência em Rio Branco, juntamente com o programa de Palco - Auditório com José Lopes; Compadre Lico; Jornalismo dia e noite e Não Diga Não Nem, Ne?


PROGRAMA NÃO DIGA NÃO, NEM NÉ?

A minha segunda sugestão foi trazer para a Difusora o programa - Não Diga Não Nem, Né?

O apresentador escolhia um tema e o ouvinte tinha que conseguir falar com ele durante 30 segundos sem dizer “não e nem né” para ganhar um prêmio.

Esse programa tinha a criação do Radialista Miguel Vacaro Neto, e era apresentado por ele na rádio Tupi de São Paulo.

A emissora interessada solicitava autorização para transmitir o programa.

Foi o que fizemos, enviando uma carta aos cuidados da jovem e bonita bancária, Miriam Fontenelle, que estava se transferindo para o BASA no Rio de Janeiro; antes, ela passou em São Paulo e entregou a missiva pessoalmente ao radialista da Tupi.

Ele leu a carta e, logo em seguida dentro do seu programa autorizou a transmissão para a Difusora do Não Diga Não Nem, Né?

COMENTÁRIO DE JOSÉ LOPES

– “O Miguel não seria bobo em dizer não à bela acreana Miriam Fontenelle ressaltou, José Lopes. Esse programa foi colocado no ar pela primeira vez na Difusora logo após o encerramento da radionovela - O Egípcio. Com o programa no ar, iniciou-se uma grande disputa pela audiência entre as duas emissoras no horário nobre (manhã) e uma rivalidade profissional entre os dois apresentadores (Altemir Passos contra Gilberto Saavedra)”, finaliza José Lopes.


GILBERTO A. SAAVEDRA

Ainda me recordo que estreei o programa sem o cronômetro, (não possuía). O relógio cronometraria o tempo do diálogo com o participante.

Uma senhora (ouvinte) foi aos estúdios da Difusora e nos presenteou com um lindo cronômetro de bolso. (Essa senhora era esposa do Thomaz, filho do Capitão Beco, família tradicional conhecidíssima na cidade).

Quando saí da Difusora (1973), entreguei pessoalmente o cronômetro, ao novo Diretor Geral do SERDA (Serviço de Divulgação do Acre), Mário Lima.

Adalberto Dourado foi o escolhido para ser o novo apresentador, depois Zezinho Melo.

Sentia-me feliz com o sucesso e toda equipe, quando ouvintes da Novo Andirá, ligavam para a Difusora dizendo que iam denunciar o programa por não ter autorização. A Difusora tinha permissão.

Quando José Lopes deixou o cargo de diretor da Difusora, em março de 1971, assumiu interinamente, Francisco Pinto (Madureira) e logo em seguida, Dr. Anselmo Sobrinho Silva, Jornalista e Radialista.

Nas duas novas gestões passo a exercer também a função de Chefe do Escritório da Rádio Difusora Acreana.

Nada mais gratificante do que ter o seu trabalho reconhecido.

Tudo que ascendi no rádio do Acre, foi fruto do meu modesto trabalho e determinação; com muita força de vontade em aprender, sem apadrinhamento de ninguém.

Não gostava de aparecer: gostava mais de ficar na retaguarda. Natal o foi o primeiro a me dar apoio, dando-me um cargo de chefia. Fez de tudo para me transformar em um locutor de transmissão oficial do governo, mas não conseguiu me dobrar.

O jornalista Édison Rodrigues Martins, então diretor geral do Serviço de Divulgação do Acre (SERDA), inseriu o meu nome (desconhecido do governador) numa lista triunvirato ao lado dos já consagrados jornalistas Gerardo Madeira e Anselmo Sobrinho ao cargo de Diretor Geral da Rádio Difusora Acreana, vaga deixada por José Lopes.

Gerardo Madeira foi o escolhido pelo novo governador Wanderley Dantas. Não importa o resultado da preferência. O importante é o reconhecimento do efeito produzido pelo trabalho. Além do mais, era muito jovem (24 anos) e toda uma vida profissional pela frente.

Gerardo Madeira era um cidadão bem-educado, simples e que sempre tratou seus subalternos com respeito e consideração. Antes de conhecê-lo pessoalmente, já o destacava, mas, só de vista. Sempre notava a presença do jornalista nas transmissões oficiais da Difusora. Nunca devemos julgar alguém apenas pela aparência. Nós sabemos disso, porquanto, pouca gente faz o procedimento correto.

Há uma locução proverbial que diz “O hábito não faz o monge”. É verdade! Nessa eu me ferrei. O jornalista Gerardo Madeira era uma pessoa provida de (bom coração), de humildade.

Logo após a posse dele como diretor da Difusora, em uma de suas primeiras audiências com o Diretor Geral do SERDA Jornalista Édison Martins, teve a simplicidade de informar-lhe, que embora como Jornalista graduado em faculdade com anos de experiência na profissão, nunca tinha trabalhado em mídia radiofônica, e que naquele momento estava precisando do apoio de todos.

Só tempo depois (já no Rio de Janeiro), e que fiquei sabendo por intermédio do Jornalista Anselmo Sobrinho, que naquela então época, o preferido do Édison Martins para diretor da Difusora seria eu.

Um dos primeiros atos de Gerardo Madeira como diretor foi baixar uma portaria interna me nomeando Chefe dos Setores Artístico e Programação e que mais tarde passei um dos cargos (novamente) ao jornalista Estevão Bimbi (setor Artístico), já com viagem para o Rio.

Segundo o próprio Gerardo (que me falara), minha permanência nos cargos, se deu por designação do Diretor Geral de SERDA, Édison Martins o qual, ele pedira-lhe uma indicação.

Gerardo em sua gestão não perdeu tempo. Iniciou uma obra de construção civil no prédio da emissora. Reformou os estúdios e salas com instalação de ar refrigerado em todas as dependências da rádio.

Estou apenas relatando esses detalhes para aquele que por ventura se interesse pela história da RDA.

Embora minha função nada tivesse a ver com construção civil, o Gerardo me transformou no seu braço direito para fiscalização da obra em sua ausência, que era constantemente interrompida, ao chamado do Governador Wanderley Dantas ao palácio do governo.

Quem fora desse tempo e ainda está neste mundo, poderá comprovar a lisura de minhas palavras sobre essa ‘Estupenda’ obra interna na emissora.

Com ar refrigerado nos estúdios e nas dependências administrativas do prédio. Mas no decorrer dos trabalhos de reforma, uma atitude do diretor geral da Difusora deixou todos da emissora sem resposta: o fim do famoso auditório.

Quando o Gerardo me chamou em seu gabinete e disse que iria desativar o auditório da Rádio Difusora Acreana, eu fui no outro mundo e voltei, pensando até que fosse mais uma de suas brincadeiras comigo.

Sem entender nada no momento, o pretexto para tamanha crueldade.

Gerardo apenas, exclamou!

– EU SINTO MUITO, E FICOU CALADO.

[Saavedra} – NÃO LHE PERGUNTEI MAIS NADA.

Na boa gestão de Gerardo, apenas lamento, o fim do famoso auditório da Rádio Difusora Acreana. Patrimônio Histórico e Cultural e que faz parte da história da emissora, de todos nós, que ainda, então crianças e jovens, participamos do apogeu da “Era de Ouro” do rádio acreano, frequentando os programas de auditório; eles ficaram para trás, todavia, jamais serão esquecidos de nossas lembranças.

Espero que um dia, um novo diretor possa ter o apoio necessário para ativar novamente o famoso auditório, que era o símbolo da alegria da ZYD-9. Caso fosse reativado, poderia reaproveitá-lo em palestras, seminários, e assembleias públicas.

Gerardo Madeira naquele seu famoso fusquinha branco, todo o dia me apanhava em casa para o trabalho e depois dependendo do horário fazia o retorno.

Tornamo-nos amigos. Não tenho motivo para reclamar desse tempo maravilhoso que passei no rádio do meu Estado.

Em 1973, licenciado por motivo de saúde como funcionário contratado na função de Locutor do Governo, viajei para o Rio de Janeiro para tratamento médico; quando fiquei apto para o trabalho, por decisão minha e da minha família, não retornei.


NO RIO DE JANEIRO

De 1973 apresentador de elenco de shows em clubes portugueses e locução em off em publicidades.

Em 1976 trabalhei aos sábados na rádio Mauá – Rio de Janeiro no programa “Show da tarde”, apresentando como locutor uma sequência esportiva.

De 1976/1996 como funcionário público dos Correios no Rio de Janeiro.

De 1995/2004 do Rio de janeiro fui Correspondente Colaborador para Difusora Acreana no “Gente em Debate” (diariamente) com Washington Aquino. Foram mais de 1.500 matérias.

De 1995/2004 aos sábados com transmissão do Rio de Janeiro para rádio Gazeta FM no programa “A Grande Parada Musical” com Jorge Cardoso.

QUADRO DA EQUIPE ZYD-9

Diretoria:
- José Lopes (D. Geral);
- Gerardo Madeira (D. Geral);
- Gilberto A. Saavedra (Chefe dos setores de Programação e Artístico);
- Estevão Bimbi (Chefe do setor Artístico);
- Francisco Cunha (Chefe do departamento de Jornalismo)
- Elzo Rodrigues e José Valentim (noticiaristas);
- Mauro D. Modesto, (na produção de matérias no palácio);
- Francisco Pinto, Madureira (Chefe do Telégrafo);
- William Modesto (Chefe da Equipe Esportiva);
- João Nascimento (Chefe do setor técnico).
- Orlando Mota / Antônio Mota (Chefe de Escritório)

Participaram como radialistas e jornalistas de 1965/73):
Natal de Brito, Cícero Moreira, Mota de Oliveira, Altemir Passos, Rivaldo Guimarães, José S. Lopes, Etevaldo Gouveia, Anselmo Sobrinho, Theodomiro Souto (Teó), Chico Pop, João Filho, Gilberto A. Saavedra, Zezinho Melo, Jorge Cardoso, José Valentim Santos, Marinete Távora Wonlind Agnaldo Martins, Agnaldo Guilherme, Adalberto Dourado, Edson Soares, Raimundo Nonato (Pepino), Nivaldo Paiva, Sérgio Quintanilha, Hugo Conde, Rita Batista, Estevão Bimbi, Nilda Dantas, William Modesto, Delmiro Xavier, Mauro D’Avila Modesto, Joaquim Ferreira, Alicio Santos, Luis Rodomilson, Eduardo Mansour e Gerardo Madeira.

Homenagens aos pioneiros: Índio do Brasil, Alfredo Mubarac, Garibaldi Brasil, Sérgio Brasil, Maria Júlia Soares, Diomedes Andrade, Orsetti Gomes do Vale e Vilma Nolasco.

Os sonoplastas: Cesar Hildo, Adriano Cesar, Luis Miquelino (Jacaré) Paulo Mota, João Petrolitano, Carlos Alberto, Dolores Silva (primeira sonoplasta do sexo feminino). Discotecária: Terezinha Batalha.

Funcionários: Orlando Mota, Antônio Mota, Tereza Oliveira, dona Lila, Ilma e Graça Oliveira. Não poderia esquecer a figura simpática e querida do nosso pitoresco “Cornélio de Freitas”.

Sei que alguns nomes de profissionais que integraram a ZYD-9 nesse tempo, estão ausentes nesta lista.

Que me perdoem pelo grave lapso. Não consegui recordá-los.
Se você participou e não está na relação envie para o e-mail: saavedragilberto@gmail.com o seu nome e a profissão.

NOTA

A responsabilidade que o Jornalista Gerardo Madeira teve pela desativação do famoso auditório da Rádio Difusora Acreana “O símbolo da alegria”, infelizmente foi o de ter sido o escolhido pelo governo, num momento de grande disputa entre as duas únicas emissoras da capital, numa briga perene pela audiência. Se ele tem culpa eu também tenho, pois era o seu braço direito. Esse foi o finalzinho do tempo áureo do rádio (já no início dos anos de 1970). Já no apagar das luzes da “Era do apogeu do rádio no Acre”, surge a Novo Andirá, que fechou com chave de ouro esse ciclo, às vésperas do funcionamento da TV (1974), em Rio Branco.

FRASES

“Às vezes a execução de um trabalho simples em nossas vidas, pode de repente explodir de emoções, amor e carinho, tornando-o amado por todos para sempre”. (Gilberto A. saavedra)

“Enquanto existir amor na humanidade no mundo, o rádio jamais morrerá”. (Gilberto A. Saavedra – jornalista, Rio de Janeiro - 2010)

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