sexta-feira, 16 de março de 2018

QUATRO POEMAS DE JOÃO VERAS

RESPIRO COMO O SILÊNCIO
João Veras

Anseio todo silêncio que puder ouvir
enquanto não cala
essa minha existência
toda muda que fala.

Serei um dia
esse gesto silencioso
que arremeta, embace, ultrapasse
e inquiete todo ruído tosco.

Todo não à mudez da espera
da dor do medo do terror
Como que quietude de isolado
Nirvana de desolado da guerra
Sono leve de condenado da terra.

Serei algo que possa interessar à desordem
esse barulho inaudível da calma sã
que domina minha inexistência de hoje amanhã.

02/02/18


ANIMÁLIA DESRAZÃO A PENA
João Veras

uma formiga animal minúsculo um ser uma vida

resolveu cruzar meu caminho
necessidade sobrevivência nenhum mal

na grandeza da minha sapiente paciência
sem aviso sem prazo sem defesa
num segundo o poder em brasa
julguei condenei executei
processo sumário de eliminação de vida

qual argumento necessidade sobrevivência simples mal

que remorso que covardia que injustiça que autoritário que implacável que isso que aquilo que razão

nada cabe tudo coube
qual sentimento qual motivo que pena

31/01/2013


COBRA IMAGINAÇÃO
João Veras

Ontem passei a noite sonhando com cobra
Não eram muitas
Apenas uma
Ela tinha uma tonalidade branca
E eu medo dela
Embora ela não fizesse nada comigo
Ela só queria fugir de mim
De nós
Eu não estava só
Éramos uma boa turma
Todos com medo
O ambiente era meio escuro
O que deixava mais tenso o clima
Ela tentava fugir
Não atacava
Mas sempre retornava a aparecer na nossa direção

Estou meio tonto pensando o que isto significa
Dizem que os sonhos falam tanto
Indago também de onde vem em mim tanto medo de cobra
Quando criança ouvia dizer que sonhar com cobra não é coisa boa
e para ficar alerta
Assim genericamente tudo pode ser
E eu nada sei
e tenho medo de imaginar
a imaginação é uma cobra alada de vários tons
que também sempre teima em minha direção

27/01/18


SEM ÂNIMO DE LUCRO, POEME
João Veras

Meta fora o seu verso a pena.
Desamasse a toda o descarte.

Dê uma utilidade inútil ao sistema
no corpo de todo poema.

Torne insubmisso o nu da cena da arte
no menu da vida a la carte.

Porque existir insensível ao que resta
não vale a plena.

2017

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