Isaac Melo
Ulisses Castelo
Branco (Ulysses Castello Branco, grafia original) foi um poeta cearense, que
viveu alguns anos, em princípios do século XX, na cidade de Tarauacá, então
Vila Seabra. Ulisses era natural de Pacoti (CE), onde nasceu a 16 de março de
1883. Não foi possível precisar o ano em que chegou a Tarauacá, a data provável
fica entre 1906 a 1909. Veio, provavelmente, atraído pelas riquezas da borracha
e/ou para assumir cargos públicos, oriundo de indicações e/ou favores de
amigos/políticos. Em Tarauacá foi comerciante, juiz de paz e juiz preparador do
então 2.º Termo da Comarca do Juruá, na qualidade de 1.º suplente. Retornou ao
Ceará em 1916, onde formou-se em Odontologia e cursou a Escola de Farmácia.
No Ceará, foi
funcionário da Secretaria da Fazenda, na cidade de Redenção. Ulisses faleceu no
dia 16 de março de 1925, acometido de tuberculose. Na revista O Malho, do Rio de Janeiro, o escritor Pereira
d’Assumpção (do Cenáculo Pernambucano de Letras), no dia 7 de novembro de 1925,
escreveu: “A tuberculose, a doença quase própria dos poetas da têmpera do meu
colega, um apaixonado das musas, um fanático pelas letras, levou-o ao leito de
dor fazendo-o sucumbir em pleno vigor das suas ilusões, cheio de vida e de
sonhos. Deixa um livro de versos intitulado: Poesias, no qual encontramos a sua arte despida de coloridos
fantásticos, porém cheia da suavidade e de encanto. Colaborou em vários
periódicos, entre os quais esta revista, e sempre se mostrou um poeta
sentimental, brilhando pelo seu valor e subindo pelo seu talento. Eu não
ousarei chamá-lo um insigne, mas Ulysses, modesto e humilde, soube vencer pela
sua arte simples. Porém revestida de emoção – da emoção que é o supremo berço
da poesia.”
O jornal A Reforma, de Tarauacá-AC, em 14 de junho
de 1925 (Ano VIII, N.351), também emitiu a seguinte nota sobre Ulisses Castelo
Branco: “Faleceu em viagem de Itaúna para Redenção, no Ceará, em 16 de março
passado, o dr. Ulisses Castelo Branco, quando o trem em viagem, partia da
estação de Baturité. O extinto cearense viveu alguns anos neste lugar, onde
exerceu funções públicas como suplente de juiz preparador nos primeiros dias do
Termo de Seabra, da Comarca do Cruzeiro, sendo também naquele tempo, o dr. Ulisses,
comerciante aqui. Regressando ao Ceará, formou-se em odontologia e exercia há
muito tempo o cargo de Coletor das rendas estaduais em Redenção, onde residia,
no mesmo estado do Ceará. Cultivava as musas o dr. Ulisses, deixando três
livros de versos, nos quais se veem as suas excelentes produções literárias. Era
casado com d. Izabel Valle Castello Branco e deixa de seu consórcio sete
filhos, sendo o mais velho de 11 anos de idade.”
Ulisses, que também
escreveu sob o pseudônimo de Myrtho d’Alva, publicou três livros de poesias: “Myrtos
e Verbenas”, “Frutos do Outono” e “Poesias”. Sobre o último, o jornal A Reforma
(24 de setembro de 1922, Ano V, N.219) escreveu: “É uma elegante plaquette de boas rimas, as primeiras da
lavra do mavioso poeta da terra da luz. A publicação do novo trabalho com que
se apresentou no círculo das belas letras do Estado do Ceará, o seu autor, foi
feita no Rio de Janeiro, nas oficinas da Typographia do Instituto Muniz
Barreto. Contêm 91 páginas em papel alvo e superior, nitidamente impressas.”
Halley Castello
Branco, um dos filhos de Ulisses, nascido em Tarauacá, também foi poeta e
jornalista no Ceará. Porém, nos materiais pesquisados, não foi possível
encontrar muita referência sobre Halley. No entanto, sobre Ulisses Castelo
Branco, além das informações biográficas, ainda conseguimos encontrar 19
poemas, que ora apresentamos, pioneiramente, numa página de internet. Pra além
do juízo de valor dos poemas, o importante também é o resgate da memória e
parte da obra de um poeta, há muito desaparecido e esquecido, cuja obra
perdeu-se no tempo ou reduziu-se a raros exemplares.
***
A ILHA DE CORAL
À uma rocha
agarrado e em sonho luminoso
Vive o velho
pólipo, o artífice fecundo
Lá no fundo do mar,
a construir um mundo,
Um mundo de coral,
sublime, delicioso!
A princípio é um
arbusto um pouco defeituoso,
Depois um matagal
vasto, imenso, profundo;
Mais tarde uma
região, um país lá no fundo
Das águas divinais
do velho mar ditoso!
Um dia surgirá,
desse céu de água ingente,
A ilha, como se
fora um sol formoso e ardente,
E então, se acentuarão
as cores do arrebol...
É que o céu corará
de invejas e pesares,
Vendo a Obra que
virá da solidão dos mares
Receber o batismo
esplêndido do sol!
Jornal O Cruzeiro
do Sul, 20 de agosto de 1916, Ano XI, N.492, p.3
SONHO DE POETA
Sonhei que me parti
voando – um condor bendito
Que ia viver de luz
nas plagas do infinito.
Oh! com que ar
satisfeito eu me lançava pelas
Vastidões siderais
em busca das estrelas.
Que bom que achei
erguer meu par de asas tão lindo
Para o longínquo
céu partindo, amor, subindo!
Como eram divinais
os rubros arrebóis,
Quando ontem, nesse
sonho, eu deslocava os sóis!
Oh! que vida levei
eu, lá pelo azul voejando,
Na morna luz de um
sol formoso me embriagando!
De vê astros,
sangrei meus olhos – que portentos!
Minhas asas parti
de encontro aos elementos...
E depois de eu
gozar o que se não descreve,
Tive uma morte tão
linda e radiante e breve!
Ceará – Brasil
Revista Fon-Fon, 13
de março de 1920, Ano XIV, N.11
PAISAGEM SERRANA
Vim ver destas
serranias,
O sol nas franjas
do poente
E ouvir o grito
estridente
Das seriemas
bravias.
Da cigarra as
monodias,
Ferem o ar
intermitente
E límpida água
corrente,
Bebem pombas
alvadias...
Tudo aqui fala de
amores,
Junto ao perfume
das flores
Que, pela mata, se
perde,
E aos “Concertistas”
se ouvem:
– As sonatas de
Beetrhoven
E as sinfonias de
Verdi!
Ceará
Revista Fon-Fon, 28
de agosto de 1920, Ano XIV, N.35
NUM FIM DE OCASO
BOREAL
Numa taba grácil,
lá no Amazonas,
Uma índia eu vi
morrer rindo, contente.
E era linda e boa e
pura e inocente,
Como as rosas
gentis daquelas zonas.
Vi também nos seus
olhos cristalinos
Erguidos para o céu
de cores várias,
A paciência das
brutas alimárias
Na comum ignorância
dos destinos.
E disse então
comigo tristemente:
– Vou dar-te flores
desta mata ingente,
De pranto os índios
vão banhar-te os pés
– “Flores – pelo
que foste antigamente,
Pranto – pela
tristeza de que hoje és.”
Ceará
Revista Fon-Fon, 27
de novembro de 1920, Ano XIV, N.48
A GARÇA
A Álvaro Moreira
Gosto de vê-la assim,
alto voo, bonito
E numa afetação de
gestos singulares,
A olhar, para
esquecer seus íntimos pesares,
Este infinito céu,
sobre o mar infinito...
Ela ansiosa procura
(é o seu sonho bendito)!
Outra plaga...
através das coisas mais vulgares,
Pensa existirem lá,
lindos lagos, pomares
Em soberbas
regiões, como aquelas do Egito!
E por isso se vai,
voando, voando, altaneira
E esquecendo, de
vez, a pobre Companheira,
Que se ficou atrás,
dos alcantis nas fráguas!
Como tu, bela
garça, há gente neste mundo,
Que deixa o seu, de
outr’ora, amor terno, profundo
Da ingratidão
chorando as dolorosas mágoas!
Revista Fon-Fon, 14
de outubro de 1921, Ano XV, N.42
ACONSELHANDO
Ao Júlio Severiano da Silveira
Deixa, poeta, esta
lida!
– Vai em busca de
teu lar...
Vai mesmo cindindo
o ar
Como a pomba
foragida.
Vai ver a tua
querida,
Que tem da virtude
a palma
Doce filha de
tu’alma,
A vida de tua
vida!...
Vai, poeta, ver
aquela...
Aquela Rosa singela
Que tanto te estima
e quer...
Aquele sonho de
amor...
Aquela inocente
flor...
Um anjo feito
mulher!
Rio Muru – T. do
Acre
Revista O Malho, 13
de abril de 1912, Ano XI, N.500
MORTE DE IRACEMA
(cena cearense)
Iracema ergue aos
céus o seu olhar lacrimoso,
Sente o peso sem
fim do infortúnio da vida:
É que o sol se vai
pôr e ela vê transfundida
Na tristeza da
tarde a lembrança do esposo...
Como custa tornar à
cabana querida,
O valente Martim,
seu marido bondoso!
Pensa, apertando ao
seio o filho desditoso,
Essa doce porção de
sua alma entristecida.
Eis, porém, que
assomando o vulto do guerreiro,
Iracema cai...
morre, ao ósculo primeiro
Do esposo que, ao
tomar-lhe o filho, alto blasfema!
Enquanto que,
pousada fronde balouçante
Da carnaúba, –
triste e só, – de instante a instante,
A jandaia repete o
nome de Iracema!
Ceará
Revista O Malho, 22
de julho de 1922, Ano XXI, N.1036
GARÇA
Alto, pompeando ao
sol, vendo as serras nevoentas,
Numa atitude assim
tão doce e singular,
Vai um bando gazil
de garças alvacentas,
Na persuasão,
talvez, de nunca mais voltar...
Bando – nave gentil
– sobre essas ondas do ar,
Eu te sigo com a
vista e calculo as tormentas
Que, feliz muito
embora, hás de um dia encontrar
Nesse caminho
astral, nestas manhãs friorentas...
Mas... deve ser bom
voar, por essa azul-cobalto.
Assim sem se vexar,
de asas abertas, no alto.
Buscando uma região
luminosa e querida.
Onde a vida é sem
fim, onde cantando e rindo
Vive tudo, num céu,
que as portas de ouro abrindo,
Te convide a gozar
a delícia da vida...
Ceará
Revista O Malho, 29
de julho de 1922, Ano XXI, N.1037
A CANÇÃO DA ROLA
– “Fogo apagou...
fogo apagou...”
Diz no seu canto a
rola triste,
É que seu bem não
mais voltou
Ao ninho amado que
ali existe.
E eu que vou indo
pela estrada,
Penso na Flor que
se ficou!
Enquanto a rola
canta, entoada:
– “Fogo apagou...
fogo apagou...”
Sabe a triste que o
caçador
Matou-lhe o esposo,
ali, defronte,
Mas quer negá-lo a
seu amor,
Ao filho seu que
está no monte;
Por isso que,
sempre a cantar:
– “Fogo apagou...
fogo apagou...”
Também buscando se
enganar,
Chama o esposo, que
se acabou...
(Inédito – Ceará)
Myrtho D’Alva
Revista O Malho, 10
de fevereiro de 1923, Ano XXII, N.1065
NOITE DE INSÔNIA
Ouço, à noite, uns
sons de falas...
E me entristeço e
em cismas me absorvo;
Penso na voz
profética do Corvo,
Pousado sobre o
frio ombro de Palas.
“Nunca mais!” Oh!
como dói
Essa frase fatal da
ave sutil de Poe...
E nas noites assim
a gente nunca dorme,
Parece que uma ave
agourenta,
Na cumeeira da casa
Arrasta a asa
Enorme
E lenta...
Debalde busco alívio
à dor esmagadora
Das saudades imortais...
É que perdi a minha
Lenôra
Para não
encontrá-la, nunca mais!
Ah! quem me dera
tirar do sentido
As palavras fatais,
Que me ferem o
ouvido:
– “Nunca mais!”
Vida de horror, de
horror profundo!
Sem um bálsamo no
mundo!
Infelizmente tudo
está resumido
Nestas sílabas
fatais,
Que me dizem ao
ouvido:
– “Nunca mais!”
E... num lutar
insano
Passei do Engano ao
Desengano!
E que me resta
agora?
– O réquiem triste que a Saudade chora...
Revista O Malho, 23
de janeiro de 1926, Ano XXV, N.1219
CARNE DIVINA
Na taça de coral de
tua boca,
Foi que eu pude
notar, quando a beijei querida,
Sentindo, então,
meu Deus, com que alegria louca
A grandeza do amor!
A grandeza da vida!...
Hoje, mais do que
nunca, eu desejo viver,
Viver para gozar
tua carne sem par,
Muito embora, depois
eu, chegue a perceber
Que essa carne
divina é o que me vai matar...
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 13 de julho de 1919, Ano II, N.62
ODE À MORTE
Morte, terrível
morte, irmã triste da vida!
És a expressão da
dor, voz de um ser absoluto,
Que te manda trazer
à terra o horror, o luto,
E o fazes sem
cessar, numa ânsia indefinida!
Iconoclasta que és,
ó morte oferecida,
Onde passas,
atento, às vezes, olho, escuto
E penso se, de
braço erguido, resoluto,
Vens me cortar da
vida a fibra dolorida.
Tenho medo de ti,
também não tenho medo,
Já que m’a levaste,
a ela, o distinto segredo
Do pedaço melhor de
minha mocidade...
Não falemos, porém
nesse tempo passado,
Pois não convém
cantar o verso magoado,
O miserere triste,
eterno da saudade...
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 28 de março de 1920, Ano III, N.96
O FLAMBOYANT
Cor de zarcão a
flor; da cor rubra das telhas;
As lindas folhas
têm o verde da esperança,
Verde da cor do
mar, de um mar todo bonança
– Vermelho coro do
sol, despendendo centelhas!
Não pode ser mais
doce o favo das abelhas,
Do que o vendo
florido, o olhar de o ver não cansa,
Tal é o encanto
sutil que essa árvore nos lança,
Fazendo a
ostentação dessas flores vermelhas...
O flamboyant ao
sol, nestas tardes de inverno,
Faz-me sempre
lembrar meu caro lar paterno,
Onde cantei,
brinquei, outr’ora, tão contente,
Vendo ao longe da
serra, em montanha azulada,
Lindo flamboyant
alto, à beira ampla da estrada,
Semelhando-se o
sol, ensanguentando o poente...
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 18 de julho de 1920, Ano III, N.112
SOLILÓQUIO
Da face do rochedo
eu via deslizar,
Sobre o glauco
cetim de esmeraldina flora,
O pranto. Era
manhã, vinha surgindo a aurora
E eu poeta,
penetrei a floresta a cantar
Na alma eu tinha a
tristeza Oceânica do mar!
E pensei,
recordando o meu viver de outrora:
Tudo sofre no
mundo, a própria pedra chora!
É que eu tinha
encontrado o rochedo a chorar...
A vida é tão
pesada, enormíssima cruz,
Que a gente
arrasta, por este mundo, sorrindo!
Pesada qual madeiro
em que expirou Jesus.
Mas da vida o
momento último que eu tiver,
Folgarei se o
puder, abraçado, sentindo
A alva cruz de
marfim de uns braços de mulher.
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 29 de maio de 1921, Ano IV, N.155
RUÍNAS
Oh! velho e terno
moinho amado de meu peito,
Já te não moves
mais de enfarado e tristonho!
Quem me dera ver-te
hoje a girar satisfeito,
Moendo esse trigo
ideal dos campos de meu sonho...
Quanta glória
acabada e meu sonho desfeito!
E nisso, muito
tempo, a meditar me ponho,
Porém, me vale
estar ao sofrimento afeito,
Vendo-me junto ao
Bem, que tão longe suponho...
Velho moinho cansado,
a seara de ouro ondeante,
Fizera-te viver sem
parar um instante,
A moer a produção
fecunda do lugar...
Hoje, porém, estás
em abandono, poente,
Restos velhos de
ferro, onde em seu elemento
Alta noite se põe o
mocho, a piar... a piar...
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 5 de março de 1922, Ano V, N.193
REFLEXÕES DE UM
CÉTICO
Ao Angelo Silveira
Tudo é podre no
mundo! Eu, tal como Floriano,
Confio,
desconfiando... E o meu fraco confiar
É a maneira sagaz
de me certificar
Da humana podridão
deste mundo profano!
Há tão pouco de bom
no que vejo de humano!
E tudo busca só
iludir... enganar!
Fruto amargo a
sorrir, crocodilo a chorar...
Oh! se este engana,
aquele engana e eu muito engano!
Monstro do coração
do velho profundo,
Verme que não
atinge a possível visão,
Todos vós enganais
demais aqui no mundo
E também tanta vez
sois num dia enganado!
Está patente, pois,
a sobrada razão
De nunca se
confiar, sem viver desconfiado...
Ceará – 1923
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 5 de agosto de 1923, Ano VI, N.263
NO CAMPO
Oh! como és tão
feliz, canário amigo,
Bem mais feliz que
eu, estou bem certo,
És o senhor então
deste deserto,
Por isso é que a
alegria anda contigo.
Eu vejo espinho só
por onde sigo
E a desventura me
acenando perto,
Acabou-se-me aquele
céu aberto,
O tempo de venturas
que bendigo.
Aqui no campo, vim
buscar prazeres,
Neste rumor das
coisas e dos seres,
Para esquecer da
vidas as negras cenas...
Sou pobre! E tens
fortuna, ó belga, e tanta!
Além dos bens que
um bardo não descanta
Ouro possuis na cor
das próprias penas!
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 25 de maio de 1919, Ano II, N.55
RUI BARBOSA
O mais sábio brasileiro do seu tempo e
uma das maiores mentalidades do planeta
Não devemos dizer:
Rui Barbosa morreu!
Ele vem de passar
para a imortalidade.
Isto
que fica em nós, esta extrema saudade,
É
a lembrança: partiu o sol para o apogeu...
Se o loiro girassol
para o poente pendeu,
Obedecendo a lei
que rege a humanidade,
É que homem do
direito, amou sempre a verdade
Dos livros que
estudou, dos sábios que aprendeu...
Pudesse eu
descrever do sol a trajetória!
Sol! que a
gravitação levou ao céu da glória
E em torno do qual
gira a procissão dos astros!
Rui se for passear
lá nesse reino de Ophir,
Na gôndola que vejo
agora se partir,
Numa palpitação de
velas e de mastros
Jornal A Reforma,
Vila Seabra, 27 de maio de 1923, Ano VI, N.253
LIRA TRISTE DE UM
SIMPLES
Minha alma é
simples como a dos pastores,
Simples, tão
simples como outr’ora viste;
O coração mudou,
está mais triste,
Segundo creio, vai
morrer de amores...
É que de tua mão
não tenho flores
E à desventura
tanta, quem resiste?!
Perder, no mundo, o
único bem que existe!
Trocar um céu de
anil, por chão de dores!
Eu sempre fui
assim, não tive sorte,
Quanto mais eu
alegre busco a vida,
Tanto mais triste
me aparece a morte;
Por isso, evito até
já de cantar,
Pois, quando tanjo
a lira, flor querida,
As cordas todas
põem-se a chorar!
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