terça-feira, 5 de abril de 2022

TRÊS POEMAS DE MÁRCIO COSTA

CAVALOS SONÂMBULOS I

 

Cavalos nos sonhos,

sonâmbulos, adeptos.

Galopes continuados,

sons de aspectos

cinematográficos.

Glóbulos gigantes,

animalescos, de esguelha.

Uma procura silenciosa,

esconder-se, esquivar-se

sem teto, entregue.

Uma ruptura de som

de soluço, às três

da manhã, um corpo

macio e sem flor.

Jornada mortificada,

dentro do cérebro,

pisada macia e sons

de passos em folhas

secas. Cavalos

sonâmbulos, interstício

provisório de carbono

em matéria mínima,

decompondo-se

com o tempo.

Prolongando-se

com os sonhos.

 

 

ERROS

 

Durante a noite o poeta

comete pequenos erros de criação.

Por vezes peguei-me

jogando cartas e poemas amassados

quando deveria guardá-los arquivados.

Outras peguei-me

entre relatos e vozes usadas

quando deveria estar

entre corpos e olhos

de mulheres de verdade.

Na última, a mais grave, peguei-me

com corda e trave na mão

para morrer enforcado

quando deveria ter encontrado

o caos abismo do meu silêncio

e me precipitado.

 

 

ANTÍDOTO

 

Preocupado com o salto

no abismo

condicionei alguns preparativos

ao inesperado.

 

Nada de suicídios antes de dormir.

 

Nada de expectativas ao acordar.

 

Evite fragmentos de qualquer espécie.

 

Não encare olhos que pareçam excessivamente trêmulos e profundos.

 

Se dizer palavras

as diga de esguelha.

 

Se enfrentar a multidão

pessoas podem ferir quando feridas

 

e o amor pode não existir

quando parecer mais vivo.

 

COSTA, Márcio. Cavalos sonâmbulos. São Paulo: Fábrica de cânones, 2021. p. 18, 30 e 51

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Márcio Costa é poeta acreano, natural de Sena Madureira, mas residente em Rio Branco-AC. Advogado e sociólogo, formado pela Universidade Federal do Acre. Iniciou na poesia com o livro “Deserto provisório” (Edufac, 2008).

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Um comentário:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

"nada de suicício antes de dormir"
poemas muito profundezas do ser
muito depressão dos tempos
muito

bravo por publicá-los