Dado interessante a se perceber, nas letras acreanas dessas últimas décadas, é a presença da mulher. Não uma presença qualquer. Trata-se de uma presença marcante e que, de certa forma, a meu ver, ressignificou o fazer literário acreano. Ressignificou, sobretudo, no aspecto, de trazer uma ótica, de ver e compreender o mundo, que não mais se orienta apenas pelo prisma paradigmático do homem. Para se ter uma ideia, das quarenta cadeiras da Academia Acreana de Letras, treze são ocupadas por mulheres, mais que o dobro se comparada à Academia Brasileira de Letras, com apenas quatro. Porém, é bom que se diga: não foi a sociedade que abriu espaço para a mulher, mas a mulher que abriu, construiu e galgou seu espaço na sociedade.
Assim, tantas são as cronistas, contistas, romancistas, poetas, pesquisadoras... de grande qualidade no atual cenário das letras acreanas. Entre elas não poderia deixar de mencionar, por exemplo, nomes como Fátima Almeida, Florentina Esteves, Leila Jalul, Robélia Fernandes, Margarete Edul Prado, Francis Mary, Íris Célia Zanini, Olinda Assmar, Glória Perez, Luísa Lessa... e inúmeras outras não menos importantes. Divas da palavra. Inteligentes. Qualificadas. Profissionais. Sensíveis. Mulheres.
A escritora e professora Luísa Galvão Lessa ilustra bem a inteligência acreana. É dona de um currículo acadêmico notável (e invejável), com Pós-Doutorado em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutorado em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestrado em Letras pela Universidade Federal Fluminense; etc. Além do mais, integra duas Academias, a Brasileira de Filologia e a Acreana de Letras. Uma profissional competente, “uma estudiosa da vida, amante da ciência e dos bons textos”, como costuma se autodefinir.
Em seus textos consegue, de modo extraordinário e instigante, traduzir o saber acadêmico/científico numa linguagem mais acessível e próxima da realidade cotidiana, sem, no entanto, torná-lo algo simplista e banal. Luísa Lessa é uma apaixonada pela vida, pela linguagem, pela cultura. E daí nasce suas reflexões, que tem se concretizado em inúmeros artigos espalhados pelos mais diversos meios de comunicação social, pelos mais variados cantos do país.
Por ser exigente com o que escreve e crítica de seus próprios textos, Luísa Lessa tem nos legado textos bem escritos e fundamentados, reflexões pertinentes à atual conjuntura política, linguística, cultural, etc. Também tem se enveredado pelos bosques da poesia (embora se considere uma poetisa amadora), a lançar suas sementes poéticas. O chão é a vida; as sementes, o amor. Thomas Merton certa vez comentou que a poesia antes de ser deleite humano, é a arte do coração. É assim que olho para os versos de Luísa Lessa, pois “o que o amor pode fazer, o amor ousa tentar”, nos valendo das palavras do Romeu shakespeariano. Seus poemas cantam e evocam o amor, com seus encontros e desencontros.
Finalmente, numa última palavra de admiração e respeito, Luísa Lessa representa uma das inteligências mais sutis de nossas letras, a meu ver. Sabe o que diz e como diz, na palavra, no tom e na metáfora certa. Embora insista na autocrítica, na busca por um constante aperfeiçoar-se. Porém, como dissera o australiano Morris West “quer um vaso esteja inteiro ou quebrado, ele denunciará sempre o talento do ceramista que o moldou”.
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QUANDO UM AMOR VAI EMBORA
Luísa Lessa
Quando o amor decide partir
Geralmente ele não consegue fingir
Ele segue sem olhar para o lado
Não deixa nenhum recado
E sai pelo mundo angustiado.
Quando ele descobre que chegou o momento
Não se apega a nenhum lamento
Esquece as memórias e histórias.
Não há nada que consiga prendê-lo
Nenhuma lembrança é capaz de detê-lo
Nada que o faça resistir e ficar.
Quando acontece de o amor acabar
Ele não avisa se um dia vai voltar
Tão pouco confidencia se vai renascer
Quando ele termina faz a gente sofrer.
Quando o amor escorrega por entre os dedos
Como mistério e com muitos medos
Ele não escuta os soluços, os apelos
Isso é sinal que ele se atropelou
Se rompeu, se partiu, se quebrou.
Então, quando o amor vai embora
Deixa uma ferida sangrando no peito
E uma esperança de ser um dia refeito.
Mas quando o amor foge para lugares distantes
Ele se perde em momentos intrigantes
Entre palavras e frases decepcionantes
Dando sinal que ele ficou fraco
Frágil, rasgado em farrapo.
Amor verdadeiro possui qualidade
Equilíbrio e quantidade
Tem muita sinceridade
É passivo nos estragos, mas com consertos
Pode esmorecer, mas sabe sobreviver.
Quando o amor vai embora
Ele parte com o peso dos ombros
É capaz de mover e remover os escombros
Sabe que chegou sua hora.
Quando o amor vai embora
Alguma cicatriz ele deixou
Algum arrependimento ficou
Sinal de tormenta restou
Assim como a dor
E soluços de lamento.
Mas aí vem o tempo
Grande amigo e companheiro
E faz parecer que nada foi verdadeiro
Cada segundo, cada hora e dia
O tempo segue e passa
Cada ano que se vai
Carrega consigo as lembranças
Leva na mala a tristeza, a desconfiança
Faz nascer nova esperança
Quando tropeça em outro amor
Esquece que viveu intensa dor.
Quando um amor vai embora
Significa que chegou a hora
De esquecer e apagar o passado
Olhar para o lado da vida que vai recomeçar
E um novo amor encontrar.
CAMINHANTE DA VIDA
Luísa Lessa
Caminhei pelo mundo,
Andei, naveguei, mergulhei,
Mais tarde aqui despertei
Não sei, não lembro aonde cheguei…
Só sei que caminhei à procura
De alguém, um lugar seguro,
Um coração valente, maduro…
Perambulei pelas incertezas da vida,
Vivi um dia a cada instante,
Um instante a cada dia...
No viver do passado que sorria,
Muitas noites perdi,
Em meio aos amores sofri,
Por paixões, encantos e ternuras…
Vi o rosto amado pelas ruas
Que ainda não esqueci...
Por muitos lugares naveguei,
Vivi outras paixões e pereci…
Mas nada adiantou
Deleitar em outros braços
As noites foram pueris,
Sonhei por onde passei...
Em lugar algum te achei,
Sempre tudo foi comum
Os dias quietos, sombrios,
As noites desertas, frias,
Não te encontrei em lugar algum...
Vou dormir sem a poesia dos cantos,
Encantos viris,
Sonhar no porvir,
Dias de outono que hão de vir,
O tempo que vivo sem ti...
SONHO CONTIGO
Luísa Lessa
É assim que sonho, amor,
Na brancura dos lençóis,
Nas noites sem faróis
No amanhã de esplendor,
Nas noites de lua-cheia,
Nas correntezas dos arrebóis.
Te quero de dia, de noite,
No claro, no escuro,
Na vida todinha,
No perfume das flores,
No alvorecer da aurora,
Na plenitude da vida.
Sonho em te abraçar,
Sonho em te acariciar,
Sonho em te beijar,
Dia e noite aconchegar,
Viver a vida a rolar.
É sonho de muitos amores,
Com beijos de flores,
Carinho de carmim,
Vem para perto de mim,
Vem meu coração,
Que a vida possui muitas cores.
Ao pão não peço que me ensine,
Mas antes que não me faltes,
Em cada dia que passe,
Em cada minuto eu sei,
Que os sonhos embalam a vida,
De sonhos viverei.
O AMOR MAIOR DO MUNDO
Luísa Lessa
Ah, eu tenho o maior amor do mundo!
E isso não é privilégio, é humano, direito de todos.
O maior amor do mundo faz o coração vibrar e até chorar de vez em quando!
É extraordinariamente único e maravilhoso,
Transforma qualquer dia chuvoso na mais linda noite enluarada.
Ah!... ele é como as estrelas mais brilhantes do universo!
O amor maior do mundo deixa a gente com alma de criança,
Um jeito de adolescente, inocente e puro,
Jeito de adulto que encontrou um caminho...
Ele abre as portas do coração para o mundo..
É tão grande que dói, tira o sono, a mansidão,
Mas tão alegre que devolve, sempre, o riso.
O amor maior do mundo é imenso, porém tangível,
Incomparável, único, individual.
É amor que dura a vida inteira,
É amor sereno, macio, brilhante,
É vibrante com as cordas de um violão,
Aquece e afina as cordas do coração,
E toca a melodia mais bela, a mais doce canção,
A serenata do coração feliz.
PÉTALAS DO AMOR
Luísa Lessa
Pétalas de amor
Tu és o doce amor,
Tu és o doce amor,
O bem mais precisoso,
O doce mais saboroso,
O petisco mais gostoso.
Tu és o rouxinol,
O canto do arrebol,
Da luz tu és o farol,
Da flor o nectar puro,
O amor mais maduro.
Tu és pétalas radiantes,
Pétalas brilhantes,
Tu és um diamante,
A brisa do horizonte,
És como água da fonte.
TU ÉS SABOR, LUZ E VIDA
Luísa Lessa
És o orvalho que nutre uma rosa
És a rosa que enfeita o jardim
És o jardim que ornamenta a campina
És o campo radioso sem fim
És um raio de luz no espaço sombroso
És a sombra suave e fiel
És o manto da cor de mel
És o abraço ardoroso.
És o sonho ideal da poesia
Que radia na rima do verso
Na candura do dia a dia
No segredo total do universo
És o berço a ninar o universo
És a face alegre da melodia
És degrau da eterna subida
És a vida de noite e de dia
És a vida em poesia.
És a ponte que jaz sobre o abismo
És a fonte dos mananciais
És o doce marulho das águas
És o fruto dos ninhos
És a primavera dos florais
És o forte que sustenta a cruz
És o norte a orientar caminhos.
TU ÉS ESPELHO DE VIDRO
Luísa Lessa
Tu és o sonho sonhado
A roseira branca e rosa
A brisa da manhã ditosa
Tu és oração, devoção
Amor, poesia, um achado.
Tu és o amanhã pra chegar
Um sonho pra encontrar
Um amor por despertar
Uma espera para chegar
Tu és uma esperança a alcançar.
Tu és o choro, o pranto, o grito
Por vezes o acalanto do gemido
N’outros tempos desencanto
Dor, tormento, sofrimento
Tu és sempre um coração partido.
Tu és a estrela que deseja um guia
O manto que carece de poesia
O choro de cada dia
Tu és o canto, a melodia
Tu és o eco da maresia.
Tu és o engano
O sonho perdido
O coração iludido
O pranto dolorido
Tu és um espelho de vidro.
MEU PRANTO DOÍDO
Luísa Lessa
Meu pranto doído
Meu coração partido
Meu desengano
Meu destrono
Meu ente perdido...
Sou da Amazônia
Sou poetisa amadora
Uma mulher sofredora
Um alguém em agonia
Porém sem covardia...
No momento estou chorando...
E nessa hora indago
Qual parte do mundo esqueci
Em quais oráculos me perdi
Em qual mundo hora viajo...
Qual parte do mundo esqueci
Quando teus tímpanos escutam o som
Dos meus soluços tristes
Os oráculos da terra selvagem
Os anseios da eterna viagem...
Busquei olhar as estrelas e ver algum sinal
Do ser sonhado, esperado, aguardado
A noite se fez manto
Cobriu meu pranto como acalanto
De longe a brisa abismal...
POR TI
Luísa Lessa
Por ti que um dia sonhei,
Por ti que um dia evitei,
Por ti que um dia sorri,
Por ti que um dia parti,
Por ti que hoje encontrei.
Saudade do perfume das rosas
Das lembranças ditosas
Das flores na janela
Das nuvens na passarela,
De um olhar no poente,
Dois corações sorridentes.
Hoje tu habitas a esfera,
A casta atmosfera,
A brisa, o vento, o horizonte,
Num rumor luxuriante,
Ao abrigo de luz que te transforma em tela.
Toco-te na face vibrante e macia,
Vejo-a como uma imagem que sacia,
O teu coração acesso como uma vela,
Que toca a melodia da aquarela.
Sei que não sou nada, não sou ninguém,
Mas fiz de ti poesia,
Lançei-te o pó de fada da alegria,
Para em ti repousar a minha alma além,
Depois, contigo dormir na magia.
ÉS TU O SONHO
Luísa Lessa
És o orvalho que nutre uma rosa
És a rosa que enfeita o jardim
És o jardim que ornamenta a campina
És o campo radioso se fim
És um raio de luz dentre a sombra
És a sombra suave e fiel
És o manto azulado do espaço
És o braço que me uni aos céus.
És o sonho ideal da poesia
Que radia na rima do verso
Na cantura do meu dia a dia
O segredo total do universo
És o berço que embala a criança que nasce
És a face alegre da alma remida
És degrau da eterna subida
És a vida meu Deus
És a vida.
És a ponte que jaz sobre o abismo
És a fonte dos mananciais
És o doce marulho das águas
No deserto és descanso de paz
Tú que reinas acima da morte
És o forte que sustenta a cruz
És o norte que orienta o filho.
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Nota: agradecemos a gentileza da autora por nos ceder a publicação de seus versos.
Para leitura de textos de Luísa Lessa recomendamos:
coluna do Jornal A Gazeta
coluna do site Gosto de ler
2 comentários:
ESTOU MUITO FELIZ, POIS ACHEI VOCE LUIZA LESSA, PARECE QUE SOMOS IRMAS EM NOSSAS POESIAS DE VIDA LESSA, QUERO QUE VENHA NA XV FEIRA PAN - AMAZONICA DO LIVRO/PARA-BELEM;
FELICIDADE E POESIA DE ENCONTRO,
FORTE ABRACO,
CELIA LESSA, BLOGCASAFELIZDALESSA.BLOGPORT
Uma boa notícia é que a Dra. Luísa Lessa também passará a integrar o quadro de Membros da IWA - International Writers end Artists Association, com sede em Toledo, Ohio, USA.
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