sábado, 2 de junho de 2012

LAVE A BOCA PRA FALAR DE BRASÍLIA

Olivia Maria Maia*
Marrapaz!!!, tem gente que consegue deixar a gente roxinha de raiva! Esses dias um repórter de uma emissora de televisão, desses programas vespertinos chatos e sensacionalistas, que faz e acontece e berra e grita, e chama polícia de ladrão e ladrão de polícia, e ninguém se entende (se é que tais programas são feitos para se entender alguma coisa)... Sim, o tal “gritão” começou a anunciar:

− Logo mais uma notícia vindo diretamente do nosso repórter de Brasília.

Eu estava no escritório trabalhando, enquanto minha ajudante arrumava a cozinha e escutava o programa (ela adora o camarada). Agucei os ouvidos. O que aquele cara iria noticiar de Brasília? – pensei, cheia de curiosidade. Passei a dividir minha atenção entre o que estava fazendo e o que o repórter dizia. Ele falava mal de um, elogiava outro, e nada de soltar a notícia. Nos intervalos, antes de chamar o comercial, anunciava:

− Logo mais nosso repórter de Brasília trará uma notícia sen-sa-cio-nallll − e carregava no final do anúncio.

Eu já estava desistindo de esperar, pois odeio essa forma de prender o telespectador. Comecei a sentir-me a própria idiota, caindo na lábia desses embromadores.

Perdi a concentração no que estava fazendo e resolvi sentar-me em frente à TV e esperar a “bomba” tão anunciada, e aproveitar, também, para treinar minha tolerância (quase sempre zero, para embromações). E lá estava o repórter emendando uma notícia na outra − assassinato, roubo, estupro, e no final saiu com essa pérola:

- Lá no Planalto só tem bandidos... – E veio o comercial.

Peguei uma revista e comecei a ler, na esperança de que o tempo passasse mais rápido e a famigerada notícia sobre Brasília fosse logo completamente veiculada.

O fulano de tal voltou mais mansinho. Claro que levou um puxão de orelha da direção do programa. Meio que tentando disfarçar a mancada de ter nos chamado de bandidos. Justificou, com um sorrisozinho sem graça, que gostaria de esclarecer que se empolgou... E completou a “melança” do ato falho:

− Tem muita gente honesta por lá, disse com um sorriso sarcástico (a emenda saiu pior que o soneto, arre!). E finalmente soltou a notícia:

− Um jovem estudante de Direito virou o maior assaltante de posto de gasolina do Distrito Federal. Esse mundo tá perdido! – completou − lá no Planalto, filhinho de papai aprende na faculdade como se defender, indo pra Faculdade de Direito.

Continuou com a falação sem fim. Claro que pedi licença à moça e desliguei a televisão. Não merecemos. Pronto. Ponto e TV desligada!

Sabe de uma coisa? Cansei desse estereótipo barato – Brasília é terra da maracutaia. Sei que isso é reflexo de vivermos na Capital do país, consequentemente juntos (mas não estamos misturados) ao “centro do poder”.

Vi recentemente um texto desses que transitam pela internet que reflete um pouco o que sentimos quando tratam Brasília de maneira tão pejorativa. Era algo mais ou menos assim: “Por gentileza, antes de falarem mal de Brasília, lembrem-se que são vocês do Brasil todo que mandam os malas pra cá. Antes de reclamar, aprendam a votar”. Disse anteriormente que reflete um pouco, visto que eu acrescentaria – aprendam a pensar!

Não perdoei a grosseria do repórter, e infelizmente não pude dizer-lhe:

− Prezado, lave sua boca quando falar de Brasília, pois aqui gostamos dos perfumes... de beleza... de ética e delicadeza. Isso que saiu da sua boca é muito mal cheiroso pro nosso gosto e pro nosso olfato refinado.


* Olivia Maria Maia é escritora acreana, autora de EM RIO QUE MENINO NADA RAIA NÃO FERRA (2010). Reside em Brasília.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eita! Que diacho!
A Maria mordeu os beiços e soltou as cobras!!!
Parece Vó Olívia!
Mas a Maria tá cheia das razões. Esse negócio de generalizar que Brasília não presta e de confundir o povo com os políticos e com os corruptos, nada a ver!
Beijos procê, Maria! Pro Tancredinho, também.
Leila Jalul

Olivia Maria Maia disse...

Beijos procê também, moça de letras lindas. Grata pelo carinho. Pois é, enfezada que só vó Olivia (nessas horas a Maria fica adormecida... era calminha por demais). O Tancredo será beijado, podeixar rs.