Olivia Maria Maia*
Marrapaz!!!, tem gente que consegue deixar a gente roxinha de raiva! Esses dias um repórter de uma emissora de televisão, desses programas vespertinos chatos e sensacionalistas, que faz e acontece e berra e grita, e chama polícia de ladrão e ladrão de polícia, e ninguém se entende (se é que tais programas são feitos para se entender alguma coisa)... Sim, o tal “gritão” começou a anunciar:
− Logo mais uma notícia vindo diretamente do nosso repórter de Brasília.
Eu estava no escritório trabalhando, enquanto minha ajudante arrumava a cozinha e escutava o programa (ela adora o camarada). Agucei os ouvidos. O que aquele cara iria noticiar de Brasília? – pensei, cheia de curiosidade. Passei a dividir minha atenção entre o que estava fazendo e o que o repórter dizia. Ele falava mal de um, elogiava outro, e nada de soltar a notícia. Nos intervalos, antes de chamar o comercial, anunciava:
− Logo mais nosso repórter de Brasília trará uma notícia sen-sa-cio-nallll − e carregava no final do anúncio.
Eu já estava desistindo de esperar, pois odeio essa forma de prender o telespectador. Comecei a sentir-me a própria idiota, caindo na lábia desses embromadores.
Perdi a concentração no que estava fazendo e resolvi sentar-me em frente à TV e esperar a “bomba” tão anunciada, e aproveitar, também, para treinar minha tolerância (quase sempre zero, para embromações). E lá estava o repórter emendando uma notícia na outra − assassinato, roubo, estupro, e no final saiu com essa pérola:
- Lá no Planalto só tem bandidos... – E veio o comercial.
Peguei uma revista e comecei a ler, na esperança de que o tempo passasse mais rápido e a famigerada notícia sobre Brasília fosse logo completamente veiculada.
O fulano de tal voltou mais mansinho. Claro que levou um puxão de orelha da direção do programa. Meio que tentando disfarçar a mancada de ter nos chamado de bandidos. Justificou, com um sorrisozinho sem graça, que gostaria de esclarecer que se empolgou... E completou a “melança” do ato falho:
− Tem muita gente honesta por lá, disse com um sorriso sarcástico (a emenda saiu pior que o soneto, arre!). E finalmente soltou a notícia:
− Um jovem estudante de Direito virou o maior assaltante de posto de gasolina do Distrito Federal. Esse mundo tá perdido! – completou − lá no Planalto, filhinho de papai aprende na faculdade como se defender, indo pra Faculdade de Direito.
Continuou com a falação sem fim. Claro que pedi licença à moça e desliguei a televisão. Não merecemos. Pronto. Ponto e TV desligada!
Sabe de uma coisa? Cansei desse estereótipo barato – Brasília é terra da maracutaia. Sei que isso é reflexo de vivermos na Capital do país, consequentemente juntos (mas não estamos misturados) ao “centro do poder”.
Vi recentemente um texto desses que transitam pela internet que reflete um pouco o que sentimos quando tratam Brasília de maneira tão pejorativa. Era algo mais ou menos assim: “Por gentileza, antes de falarem mal de Brasília, lembrem-se que são vocês do Brasil todo que mandam os malas pra cá. Antes de reclamar, aprendam a votar”. Disse anteriormente que reflete um pouco, visto que eu acrescentaria – aprendam a pensar!
Não perdoei a grosseria do repórter, e infelizmente não pude dizer-lhe:
− Prezado, lave sua boca quando falar de Brasília, pois aqui gostamos dos perfumes... de beleza... de ética e delicadeza. Isso que saiu da sua boca é muito mal cheiroso pro nosso gosto e pro nosso olfato refinado.
* Olivia Maria Maia é escritora acreana, autora de EM RIO QUE MENINO NADA RAIA NÃO FERRA (2010). Reside em Brasília.
2 comentários:
Eita! Que diacho!
A Maria mordeu os beiços e soltou as cobras!!!
Parece Vó Olívia!
Mas a Maria tá cheia das razões. Esse negócio de generalizar que Brasília não presta e de confundir o povo com os políticos e com os corruptos, nada a ver!
Beijos procê, Maria! Pro Tancredinho, também.
Leila Jalul
Beijos procê também, moça de letras lindas. Grata pelo carinho. Pois é, enfezada que só vó Olivia (nessas horas a Maria fica adormecida... era calminha por demais). O Tancredo será beijado, podeixar rs.
Postar um comentário