A busca da felicidade é o combustível que
move a humanidade. É ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir
casas, realizar sonhos, juntar dinheiro, gastar dinheiro, fazer amigos, brigar,
casar, separar, ter filhos e depois protegê-los. A busca da felicidade nos
convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais importante do mundo e
nos dá disposição para lutar sempre por elas. Porém, a cada uma dessas vitórias
surge uma nova necessidade. Assim, muitas vezes, o ser humano caminha numa busca
incessante, num círculo, numa eterna procura que pode conduzir à solidão.
É fato que todas as pessoas desejam ser
felizes. Agora são poucas aquelas que procuram motivos e se esforçam para
alcançar a felicidade. Pouca gente percebe que a felicidade está na medida de
harmonia que o ser humano pode manifestar a si mesmo, aos outros e ao ambiente
no qual vive. Muitas pessoas fazem diversos cursos, leem livros de autoajuda ou
esotéricos e não se dão conta de que a procura da felicidade é, antes de tudo,
uma jornada ao mundo interior, ao encontro consigo. Não é dinheiro ou prazer,
antes uma viagem ao mundo interior na descoberta da própria alma, do encontro
do “eu”.
Estudar é bom, traz maiores conhecimentos,
mas não é suficiente para trazer a felicidade. Quando alguém se propõe a
exercitar uma profissão é preciso aprender e colocar em prática o que foi
ensinado pela vida. Enquanto não se utilizam as ferramentas transmitidas pela
vida, apreendidas pelo amor ou pela dor, a pessoa vai continuar a rodar em
círculos, tentando encontrar a felicidade fora do seu eu, reclamando da vida,
culpando os outros, o mundo, quando a culpa é pessoal. É preciso olhar o
espelho da alma e descortinar a verdade lá escondida
E, nessa direção, há tanta gente fazendo um
esforço grandioso para demonstrar felicidade aos outros e sofrendo por dentro
uma dor de ansiedade, de busca acelerada, de perda, de fingimento, até mesmo de
conformismo. Para essas pessoas, na verdade, a felicidade está se tornando um
peso, uma fonte terrível de desculpas: foi isso, foi aquilo, foi ele, foi ela
etc. Por isso, a busca pela felicidade deixa tanta gente estressada,
insatisfeita, triste, infeliz, mal-humorada. E o pior, faz tantos mentirosos!
Curioso notar é que sendo a felicidade o
sonho humano mais acalentado, o assunto sempre foi desprezado pelos cientistas.
Somente na última década um número cada vez maior deles -- alguns influenciados
pelas ideias de religiosos e filósofos -- tem se esforçado para decifrar os
segredos da felicidade. A ideia é finalmente desmascarar esse truque da
natureza. Entender o que nos torna mais ou menos felizes e qual é a forma ideal
de lidar com a ansiedade que essa busca infinita causa em cada pessoa.
O psicólogo americano Martin Seligman (2002),
da Universidade da Pensilvânia, concluiu que felicidade é, na verdade, a soma
de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado. O prazer
é aquela sensação que costuma tomar nossos corpos quando dançamos ao embalo de
uma boa música, ouvimos uma piada engraçada, conversamos com um bom amigo,
namoramos, comemos chocolate etc. Um jeito fácil de reconhecer se alguém está
tendo prazer é procurar em seu rosto um sorriso e um olhar brilhante. Já engajamento
é a profundidade de envolvimento entre a pessoa e a vida. Uma pessoa engajada
está absorvida pelo que faz, participa ativamente da vida e dá sentido ao que
faz. E, finalmente, significado é a sensação de que a nossa vida faz
parte de algo maior, um mundo complexo e grandioso que é preciso compreender e
conviver bem com ele.
Pelas leituras empreendidas, compreende-se
que a vantagem da ciência em concentrar a felicidade em três aspectos é
facilitar os objetivos do viver humano. Há pessoas que buscam somente o prazer,
outras o engajamento, e outras o significado ou sentido da vida.
Juntar as três coisas é fundamental para encontrar a resposta do que seja a
felicidade e sentir, plenamente, o sentido do viver. A vida é um bem único para
cada ser, não há reprise. Assim, é lamentável desperdiçar a vida pelo apego às
palavras que só atrapalham, como dizia Clarice Lispector.
Retomando aos pilares da felicidade, diz o
cientista Martin Seligman (2001) que um dos maiores erros das sociedades
ocidentais contemporâneas é concentrar a busca da felicidade em apenas um dos
três pilares, esquecendo os outros. E, geralmente, as pessoas escolhem o mais
fraco pilar: o prazer. Depois que o encontram vem o vazio, o frio, o
abandono, a ansiedade, a tristeza, a melancolia, o desengano, a pouca fé, o
esmorecimento, a perda de coragem para lutar, seguir adiante. Vem a fragilidade
que conduz à acomodação de seguir um dia após o outro, sem nada fazer por si,
desejando que alguém lhe faça tudo, que Deus opere o milagre.
Mihaly Csikszentmihalyi (2002), pesquisador
da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, estuda um fenômeno cerebral
chamado "fluxo", que ocorre quando o engajamento numa
atividade torna-se tão intenso que dá aquela sensação boa de estar
completamente absorto, a ponto de a pessoa esquecer-se do mundo, perder a noção
do tempo. Ou seja, é um estado de alegria quase perfeita. Isso é bom, é
felicidade.
O pesquisador americano Richard Davidson (a
felicidade está de volta, 2000), da Universidade de Wisconsin, observou, em
laboratório, que as pessoas em estado de fluxo ativam uma região do
cérebro chamada córtex pré-frontal esquerdo, o que pode ter uma série de
efeitos no organismo, inclusive um melhor funcionamento do sistema imunológico.
Ao longo de um estudo realizado na Holanda, pessoas que entraram em fluxo tiveram
seu risco de morte reduzido em 50%, por reagirem melhor a doenças.
Quanto ao terceiro pilar da felicidade, o significado,
o jeito tradicional de conquistá-lo é, segundo estudiosos, via religião. Há
milênios, a humanidade encontra alento na crença de que cada ser humano faz
parte de uma ordem maior. Pesquisas mostram que pessoas religiosas
consideram-se, na média, mais felizes que as não religiosas. Elas também têm
menos depressão, menos ansiedade e suicidam-se menos. A crença de que Deus
observa seus filhos, nas palavras do psicólogo e estudioso da religião Michael
McCullough (1996), da Universidade de Miami, é um conforto, uma garantia de
que, no final, as injustiças serão corrigidas e todos os esforços reconhecidos.
Para concluir, por agora, há uma regra da
qual especialista nenhum discorda: ter amigos (e nem precisam ser muitos) ajuda
a ser feliz. Amigos contam pontos nos três critérios: trazem, ao mesmo tempo, prazer,
engajamento e significado para nossas vidas. E amigos podem ser os
filhos, a esposa, o esposo, os familiares e aqueles que entraram no coração por
ganhar nosso respeito, nossa confiança, nosso carinho, nosso amor. Por isso
verdadeira a frase: um amigo é alguém que sabe a canção do nosso coração e pode
cantá-la quando nós tivermos esquecido a letra.
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