Meu Deus, ferido estou de teu amor
E o ferimento ainda em mim palpita,
Meu Deus, ferido estou de teu amor.
Meu Deus, temor de ti me derrubou
E a queimadura ainda me crucia
Meu Deus, temor de ti me derrubou.
Meu Deus, eu soube enfim que tudo é vil
E vossa glória em mim já se instalou,
Meu Deus, eu soube enfim que tudo é vil.
Afogai-me a alma em mar de vosso vinho,
Fundi-me a vida e o Pão de vossa mesa,
Afogai-me a alma em mar de vosso vinho.
Eis meu sangue que não se derramou,
Eis minha carne indigna de tormento,
Eis meu sangue que não se derramou.
Eis minha fronte que é toda rubor,
Para escabelo destes vossos pés,
Eis minha fronte que é toda rubor.
Eis meu braço que nunca trabalhou
Para o ardente carvão e o incenso raro,
Eis meu braço que nunca trabalhou.
Eis o meu coração pulsando embalde
Para bater nas sarças do Calvário
Eis o meu coração pulsando embalde.
Eis os meus pés, errantes e ociosos,
Para acorrer à voz de vossa Graça,
Eis os meus pés, errantes e ociosos.
Eis minha voz, rumor áspero e falso,
Para os opróbios do arrependimento
Eis minha voz, rumor áspero e falso.
Eis meus olhos, acesas tochas do erro,
Para morrerem aos choros da prece,
Eis meus olhos, acesas tochas do erro.
Olhai, Deus de oferenda e Piedade,
Este poço de muita ingratidão,
Olhai, Deus de oferenda e Piedade.
Deus de terror e Deus de Santidade,
Olhai o negro abismo de meu crime,
Deus de terror e Deus de Santidade.
Vós, Deus de paz, de júbilo e ventura
Os meus temores, minhas ignorâncias,
Vós, Deus de paz, de júbilo e ventura.
Vós conheceis tudo isto certamente
Mais que ninguém em pobreza pereço,
Vós conheceis tudo isto certamente.
Mas, meu Deus, o que eu tenho eu te ofereço.
VERLAINE, Paul Marie. Poemas. (Trad. Jamil Almansur Haddad). São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962. p.183-184
Nenhum comentário:
Postar um comentário