– Conte-nos como é o Acre, meu rapaz.
– Oh, senhora. Quando o Senhor Deus criou o
mundo, fez um pedacinho bem caprichado. Colocou ali a melhor terra, as árvores
mais altas, os rios mais lindos, as frutas mais saborosas, o clima mais gostoso,
os pássaros e animais mais variados. E pensou: vou colocar esse lugar bem
longe, para amostra, quando daqui a milhões de anos os homens tiverem
transformado o resto do mundo em deserto. É o Acre. Está lá, do jeitinho que
Deus criou.
(BORGES, Dirceu. O talismã das amazonas. São Paulo: Iluminuras, 1988. p.109)
(BORGES, Dirceu. O talismã das amazonas. São Paulo: Iluminuras, 1988. p.109)
Pela farta bibliografia que há, sabe-se que o
Acre sempre fora um estado idealizado, embora nunca almejado, por aqueles que o
idealizavam, como lugar ideal para eles viverem. Quando de sua contenda com a
Bolívia, de Norte a Sul do país, proclamava-se os arroubos de patriotismo dos “caboclos
titânicos” do Acre. E angariava as mais diferentes simpatias do povo
brasileiro. E assim fora por longos anos. Depois, a partir da década de 70, mas
sobretudo na de 80, com Chico Mendes, passa a ser símbolo da luta ambiental e
sua preservação. A idealização seguinte se acentuará sobretudo a partir dos
anos 2000 com a ideia de sustentabilidade ou estado da florestania. Temos aí 100
anos de um tipo de idealização. Do outro lado da margem, no entanto, ficou os
sem história, entre os quais, índios, migrantes, e, posteriormente, colonos, ribeirinhos
e periféricos. Mas é graças a esses “sem histórias” que hoje podemos chegar a
uma visão mais coerente da história acreana, desde a sua ocupação até o reino fictício
dos irmãos Vianas e sua trupe. Já é tempo de olhar a história não
mais pelo viés dos heróis e vencedores, quem sabe, pelo olhar nu e cru dos “vencidos”. E como poetou certa ocasião o velho Bandeira: "Não quero mais saber de lirismo que não é libertação".
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