sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

DOIS PASSARINHOS

Rabindranath Tagore (1861-1941)


O passarinho manso estava na gaiola, o passarinho livre estava na floresta.
Encontraram-se quando veio a hora, marcada pelo destino.
O passarinho livre exclama: “Oh meu amor, voemos para a floresta!”
O passarinho na gaiola exclama: “Vem aqui, vamos viver na gaiola...”
Diz o passarinho livre: “Entre grades, onde está o espaço para se abrirem as asas?”
“Ah – retruca o passarinho engaiolado –, eu não sei como estaria empoleirado no céu!”

O passarinho livre exclama: “Minha querida, canta as árias da floresta!”
O engaiolado responde: “Senta-te ao meu lado. Eu te ensinarei a linguagem daqueles que sabem.”
O passarinho da floresta retruca: “Não! Não! Os cantos não se ensinam!”
Diz então o passarinho na gaiola: “Ai de mim! Não sei os cantos da floresta!”

O amor de ambos é intenso, desejam-se um ao outro, mas nunca podem voar de asas unidas.
Olham-se através das grades da gaiola, sendo vão o desejo de se unirem.
Cheios de desejo, batem as asas e cantam: “Vem, meu amor, vem para junto de mim!”
O passarinho livre diz: “Não pode ser, tenho medo das grades da janela!”
O passarinho preso murmura: “Ai de mim! As minhas asas são fracas e inertes!”


TAGORE, Rabindranath. Tagore, obras selecionadas: O jardineiro, Lua crescente, Gitanjali, O cisne. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1974. p.31-32
p.s. título do blog

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