Murilo Mendes (1901-1975)
O espírito da poesia me arrebata
Para a região sem forma onde passo longo
tempo imóvel
Num silêncio de antes da criação das coisas.
Súbito estendo o braço direito e tudo se
encarna:
O esterco novo da volúpia aquece a terra,
Os peixes sobem dos porões do oceano,
As massas precipitam-se na praça pública.
Levantam-se no ar para o bem e para o mal.
Os diversos personagens que encerrei
Deslocam-se uns dos outros, fundam uma
comunidade
Que eu presido ora triste ora alegre.
Não sou Deus porque parto para Ele,
Sou um deus porque partem para mim.
Somos todos deuses porque partimos para um
fim único.
MENDES, Murilo. Os Melhores Poemas de Murilo
Mendes. Seleção Luciana Stegagno Picchio. São Paulo: Global, 1994. p.73
Um comentário:
ele é o máximo
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