Luísa Lessa*
A questão da comunicação entre as pessoas é hoje um ponto vital que ganha destaque por sua relevância na qualidade de vida. Não raras vezes, assistimos assustados episódios nos telejornais expondo situações corriqueiras, próprias do cotidiano, que terminam em ações violentas, chegando, por vezes, a situações absurdas. De igual modo assistimos conflitos que envolvem até os órgãos responsáveis pela segurança da sociedade.
Esse contexto brutal, violento, inseguro, vai delineando um formato social preocupante, onde o imediatismo, a intolerância com as dificuldades, seja em que grau for, vão assumindo a tonalidade predominante nas relações pessoais. As pessoas se tornam impacientes, imediatistas, egocêntricas, individualistas, esquecem o semelhante que compartilha e constrói, junto consigo, o mundo.
Esse conjunto de situações remete-nos às perguntas essenciais: o que foi que houve com a dádiva da fala? Em que momento deixou-se de utilizar os recursos, que nos são próprios, para nos comportarmos de modo irracional? Quando foi que a conversa, velha e boa conversa, saiu da pauta de nosso dia a dia deixando um espaço vazio, sem regras, dentro da dinâmica social?
Apontar o dedo para a sociedade, tratando-a como “sórdida, falida, hipócrita”, classificando-a severamente como a vilã da história, de nada nos ajudará, uma vez que sociedade é a reunião de pessoas, e, portanto, inclui-nos, definitivamente, tornando-nos elementos integrantes e participativos dentro dela, seja de modo proativo ou não. A sociedade, portanto, não é uma “entidade”, um “ser”, mas é a reunião das pessoas, e estas sim, é que determinam as características que a sociedade terá.
Se desejarmos uma sociedade diferente, teremos que mudar as pessoas e, nelas, a maneira de pensar e sentir, para que se possa alterar a conduta, já que são essas maneiras de ser que determinam o comportamento do ser humano.
Sem dúvida a linguagem é a principal forma de comunicação e transmissão do conhecimento, idéias, crenças e até emoções. Sua expressão no processo do relacionamento social é determinante.
O convívio coletivo garante a saúde do grupo e enriquece, sobremaneira, o indivíduo que se dispõe a dedicar-se na arte da conversa. Seja ela técnica, acadêmica, social, não importa, é a conversa que cria o elo que ativa a “liga” da sociedade.
Quando falamos em comunicação interpessoal, podemos pensar em pontes. Criar pontes entre os corações parece uma maneira simples de compreender a questão. Quanto mais pontes são criadas, mais opções teremos por onde transitar. Lembrando sempre que cada qual passeia pelas pontes sem aprisionar ninguém em seu “território” e nem abandonar o seu em detrimento do outro. Este ir e vir entre o coração das pessoas é, em verdade, a base do movimento social autêntico. Quando as pessoas convivem dentro deste trânsito parece haver naturalmente harmonia e entendimento. A conversa é o meio do qual dispomos para nos fazer entender. Por isso, dominar a linguagem, fazer bom uso da comunicação oral ou escrita assegura o sucesso nas relações interpessoais.
O primeiro passo para interferirmos na sociedade e instaurar, em definitivo, a harmonia nas relações, é investir na comunicação, praticar a arte do diálogo e recuperar a dignidade de nossa espécie, que é a única, entre os animais, apta a compreender e ser compreendido.
Ainda é preciso considerar o poder que as palavras exercem sobre nós. Quando ouvimos um elogio, há um bem estar que nos invade e acaba por influenciar nossas ações. Da mesma maneira, quando ouvimos uma ofensa, reagimos de acordo com ela, e passamos a nos comportar também de acordo. Esse simples exemplo evidencia a importância que as palavras têm no convívio social.
Talvez, a informalidade como se apresenta hoje, onde todos falam tudo para todos, tenha alguma responsabilidade na questão da disseminação da violência na sociedade, em todas as instâncias. É pertinente uma reflexão sobre isso. A linguagem paralisa a vida, assim como nos faz avançar nela com êxito.
Não se pode negar que a palavra exerce poder sobre as pessoas. Dizia a Clarice Lispector que “as pessoas podem encalhar nas palavras”. Também é bom lembrar que além da palavra em si, a forma como ela é pronunciada, a tonalidade que se usa para proferi-la traz reações também próprias, que se manifestam no comportamento. Portanto, a gentileza, docilidade, aspereza, impaciência, enfim, a forma como se fala algo a alguém, traz sempre resultados compatíveis à sua natureza.
Ao se construir pontes entre os corações das pessoas se faz a tarefa mais importante da vida. O mundo deve andar pelo amor, pela união, coração, determinação, força conjunta. O contrário é o caos, o desastre. Por isso, quando falamos com alguém, devemos fazê-lo olhando-o nos olhos, de tal modo que ele possa ver as reações de nosso olhar, sentir a sinceridade, a lealdade de nossas ações e gestos. Diz um dito: o que a boca fala os olhos tem que endossar. Isso é imprescindível.
A comunicação interpessoal embora se apóie na linguagem, conta com todos esses elementos constitutivos, que complementam as informações e facilitam que ocorra o entendimento.
Há todo um universo de comunicação entre as pessoas para ser explorado. E quanto mais nos dedicarmos a ele, melhor será a relação entre as pessoas que, na atual conjuntura, parece estar frágil e debilitada, esperando a interferência de todos nós. Acredita-se que a paz é alicerçada no entendimento entre as pessoas e, para tanto, há que se aperfeiçoar a arte de dialogar.
* Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário