Tá torando!!!
Seria a expressão usada lá na minha terra e em algumas outras para anunciar os acontecimentos no Brasil.
Mais explicitamente: aqui, no meu país, o pau tá torando, para resumir o que está acontecendo nas praças e ruas dos estados brasileiros.
Na verdade, do silêncio, fez-se o grito!!! E do povo entalado até a goela, de Norte a Sul, um só canto, um só eco: é preciso mudar, para melhor, o país.A voz que vem de todos os lados clama por civilidade, respeito e pela verdade e transparência dos atos políticos, que refletem na vida de cada cidadão. Apela, especialmente, pelo direito de falar por si, sem precisar de interlocutores e ser ouvida.
Por isso, e por tantas outras razões, de repente, quando tudo parecia sob o controle dos discursos, do marketing político, bóia, sem subterfúgios, a crescente indignação do povo deixando a classe política perplexa, tonta e desorientada. Em uníssono, desperta a Nação o grito do BASTA da juventude brasileira, para cutucar as mentes cristalizadas, preguiçosas e acomodadas. Essa juventude que também expressa o sentimento dos mais velhos, porque consegue captar em seus lares ou em suas andanças, a insatisfação, o imenso sacrifício e as dificuldades de viver em um país, que apesar de algumas boas mudanças, está muito longe de garantir aos cidadãos comuns os direitos a uma vida com dignidade humana e justiça social.
Vejamos, por exemplo, que apesar do sistema de cotas, para reparar as injustiças seculares feitas aos negros e aos mais pobres, não é justo, que um número assombroso de jovens fiquem fora das universidades públicas por falta de vagas disponíveis. Afinal, um país que tem compromisso com os seus filhos trata de romper o ciclo que condena uns em detrimento dos outros. Não é justo, um pai ou mãe de família, ir ao mercado e todas as vezes, ao pagar a conta, ficar impactado com o sucessivo aumento do custo de vida. Não é justo, incentivar a produção da indústria automobilística, e não ampliar as ruas e a segurança das estradas. Não é justo deixar ao léu que as empresas de telefonia celular cobrem preços exorbitantes de seus clientes, quando esse tipo de comunicação é imprescindível aos dias de hoje. Não é justo assistir a desenfreada violência das cidades e não tomar providências sérias como se fez em relação ao uso de bebida alcoólica no trânsito. Não é justo, assistir e ler os jornais e tomar conhecimento que jovens inocentes são assassinados no Brasil como porcos no matadouro e ao olhar para a fisionomia de seus pais, reconhecer a dor profunda que toma conta de suas almas e a falta de apoio e solidariedade do Estado brasileiro. Não é justo o caos que se instala cotidianamente em relação à mobilidade urbana, que leva todos ao stress e muitas vezes à violência. Não é justo que tantos jovens estejam desempregados. Não é justo que crianças nasçam em vasos sanitários ou corredores de hospitais, sem nenhuma assistência. Não é justo que o Brasil deixe de destinar 10% do PIB para a educação. Não é justo que um país cujo o povo está precisando de tanto, apesar dos altíssimos impostos pagos pelos trabalhadores, ainda se pratique a corrupção.
O Brasil está tratando sérias questões que a todos afligem com profundo desdém e desrespeito e esse grito retumbante que repercute por todo o país significa que o povo brasileiro quer a atenção dos governos federal, estadual e municipal, para que se comece um novo tempo em que a civilidade, a dignidade e o respeito sejam de fato compromissos honrados por nossos governantes.
Para fazer justiça, a voz que me tocou nesse período, de um representante do governo federal, foi de Gilberto Carvalho, ao comparecer ao Senado Federal, no dia 18 de junho/2013: "é preciso ter humildade para entender o motivo das manifestações".
Finalmente, uma voz sensata!
Brasília, 27/06/2013.
* Regina Amélia D’Alencar Lino é socióloga e escritora acreana, natural de Rio Branco. Foi também vereadora e deputada federal, e vice-prefeita de Rio Branco – AC.
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