Odin Lima
Sentado estou, mais uma vez, sobre este
monte.
Tardinha é já: o sol matiza o horizonte.
Vejo, em fluir voluptuoso, as tuas águas
Tangendo ao longe e muito longe as minhas
mágoas.
Eu
bem o sei! – Foi sempre assim que aconteceu:
Tu
me ouvindo e eu te contando o fado meu.
Onde
está, meu rio amigo, o pescador
Que
ao lusco-fusco, a bem cantar, vertia a sua dor?
Já não o vejo!... E a garça branca, a juriti,
A cobra grande, o jacaré – o tucuxi?!
É, velho amigo, aqui só nós: partiram todos!
O
mundo é mau, e em nossa vida há mil engodos.
Mas,
praza aos céus que ainda possa eu assistir,
Lá
de onde for, eternamente ao teu fluir!
Foto: Vivianne Vilela |
TRISTE SUMAUMEIRA
Odin Lima
Como se fosse ainda pouco o teu crescer,
Nasceste sobre um monte. E agora, altaneira,
Olhas de longe a verde mata, o rio a descer,
O lago ameno e a bela vila alva e rasteira.
Percebes
pouco e muito pouco este viver
D’aqui
debaixo, a diabólica canseira
Que
isto é. Por toda a parte há um frio ranger
De
dentes, e uma viva e rútila fogueira.
Exemplo vivo aos que só veem de cima,
Sofres agora a terrível solidão
De não sentir a massa que fervilha ao chão.
Tu
e quaisquer, cuja grandeza o orgulho mima,
Sofrereis
sempre as duras penas da ilusão
De
serdes tão grandes em meio à multidão.
LIMA, Odin. Araras de Cores: contos acreanos.
Belém: CEJUP, 1989. p.11, p.182
Nota
Os dois poemas abrem e fecham,
respectivamente, o livro Araras de Cores
– contos acreanos, do filho de Cruzeiro do Sul, Odin de Albuquerque Lima. Autodidata,
persistente leitor de ficção desde a mais tenra idade, filho de nordestinos,
reuniu nesse livro vinte belos contos que melhor representassem épocas,
costumes e labores dessa região do médio Juruá.
Um comentário:
Muito bom, isso é para pessoas que tem sentimentos. A foto da Viviane então?! nossa!
abç
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