segunda-feira, 19 de setembro de 2016

TEUS SEIOS

J. G. de Araújo Jorge (1914-1987)
Detalhe de “Apres Le Bain” (1875), William-Adolphe Bouguereau.


Teus seios... quando os sinto, quando os beijo
na ânsia febril de amante incontentado,
– são pólos recebendo o meu desejo,
nos momentos sublimes de pecado...

E às manhãs... quando acaso, entre os lençóis
das roupagens do leito, saltam nus,
– lembram, não sei, dois lindos girassóis
fugindo à sombra e procurando a luz!...

Florações róseas de uma carne em flor
desabrochando em lúbricos botões,
– na primavera ardente de um amor
que vive para as nossas sensações...

Túmidos... cheios... palpitantes, como
dois bagos do teu corpo de sereia,
– têm um rubro botão em cada pomo
como duas cerejas sobre a areia...

Quando os tenho nas mãos... Quantas delícias!...
Arrepiam-se, trêmulos , sensuais,
e ao contato nervoso das carícias
tocam-me o peito como dois punhais!...
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Meu prazer animal sempre consolo
na carne destas ondas revoltadas,
– que são como taças emborcadas
no moreno inebriante do teu colo...
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Teus seios... são as fontes onde os loucos,
saciar a sede, tentam, da paixão,
– sede que mata e que sufoca aos poucos...

Teus seios!... Nada existe que os encarne!...
– São divinos pecados da Criação,
são dois poemas de amor feitos de carne!...


JORGE, J. G. de Araújo. Meu Céu Interior. Rio de Janeiro: Gema, 1934. p.177-179

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