Francisco Castro de Brito
I
Espero boa atenção
é dos pobres
seringueiros
que vive neste
sertão
passando muitas
agruras
nesta triste
solidão.
II
Eu também fui
destes tais
que vivi
constantemente
trabalhando nestas
matas
sem achar
conveniente
porém cumprindo com
a sorte
dada pelo
onipotente
III
A seringa é um
trabalho
Somente de ilusão
trabalha-se ano
inteiro
sem se pegar um
tostão
só se pega na
borracha
para levar ao
patrão
IV
quando chega o fim
do ano
o freguês de olhos
fundos
sem ter nome nem
dinheiro
somente seu traje
imundo
uma calça de boca
larga
com duas riatas no
fundo
V
Os seringueiros é
uma classe
sem menor reputação
mesmo ele tendo um
parente
que viva em boa
posição
se afasta e nega a
parte
se alguém faz
interrogação
VI
quando chega no
Domingo
ele vai ao Barracão
levar sua
Borrachinha
fazer sua aviação
muitas vezes treme
de medo
da carranca do
patrão.
VII
Põe a Pela na
Balança
Empregado vai pesar
tira quatro ou
cinco quilos
mexendo pra-lá e
pra-cá
ai diz deu tantos
quilos
o patrão diz
venha-se aviar
VIII
o Patrão diz seu
minino
qual a sua aviação?
quero um quilo de
Açucar
uma quarta de café
uma lâmina de
Gillet
um cachimbo pra
mulé
e uma barra de sabão
IX
Ele diz vou Reduzir
você está muito
atrasado
com a doença que
tivesse
no mês próximo
passado
a sua Borracha foi
pouca
e o Verão está
findado
X
o freguês fica tão
triste
mais o jeito é
conformar
põe o saquinho na
costa
e cuida de se
arritirar
pra-cedo chegar em
casa
para cuidar de
pescar.
XI
Pega caniço e a
linha
vai para o Rio
pescar
quando pega um
Surubim
é caso de admirar
só falta fazer a
festa
de alegria no Lar.
XII
Carapanã e Pium
fais a gente ficar
louca
penetra pelos
ouvidos
e no nariz e na
boca.
XIII
Chega em casa às 9
Horas
as 10 horas vai
jantar
10 e meia vai
dormir
Com sentido em
acordar
XIV
quando o relógio
disperta
o seringueiro se
alerta
levanta fais o café
toma um pouco com
farinha
põe um pouco na
latinha
dá até logo pra mulher
XV
aí se larga nas
matas
rompendo muitos
espinhos
também grande
cipoal
o patrão fica
dormindo
e amanhece sorrindo
dizendo ele foi aos
páus
XVI
quando chega em
Novembro
que começa o
chuveiro
o freguês entra na
mata
só se vê o
aguaceiro
e também gritos de
sapo
e de pássaro
agoureiro
XVII
É triste a Vida dos
pobres
que vivem neste
sertão
quando sai a mata é
escura
logo se ouve um
trovão
quando se olha pra
cima
só se vê os
nevoeiros
XVIII
as Rolas dão um
gimido
de arrepiar os
cabelos
as cigarras gritam
tanto
com um tão grande
zunido
fais tão grande
confusão
que fais duer os
ouvidos
XIX
a tarde ele chega
em casa
com a Roupinha
Rasgada
e quase dando
agonia
vem trespassado de
fome
pois foi só a
farinhazinha
que comeu naquele
dia.
XX
Este Verso que
escrevi
Se não quiser
acreditar
pegue em Manaus um
navio
que vá para o Juruá
lá fale colocação
com qualquer dos
patrão
pegue a faca e vá
cortar.
fim.
BRITO, Francisco
Castro de. A vida dos seringueiros. Manaus: [s.n., 19--] 5p. : 20 estrofes:
sextilhas : 7 sílabas )) Disponível aqui, também.
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