segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A VIDA DOS SERINGUEIROS

Narrada em versos populares por
Francisco Castro de Brito


I

Eu vou narrar uma história
Espero boa atenção
é dos pobres seringueiros
que vive neste sertão
passando muitas agruras
nesta triste solidão.

II

Eu também fui destes tais
que vivi constantemente
trabalhando nestas matas
sem achar conveniente
porém cumprindo com a sorte
dada pelo onipotente

III

A seringa é um trabalho
Somente de ilusão
trabalha-se ano inteiro
sem se pegar um tostão
só se pega na borracha
para levar ao patrão

IV

quando chega o fim do ano
o freguês de olhos fundos
sem ter nome nem dinheiro
somente seu traje imundo
uma calça de boca larga
com duas riatas no fundo

V

Os seringueiros é uma classe
sem menor reputação
mesmo ele tendo um parente
que viva em boa posição
se afasta e nega a parte
se alguém faz interrogação

VI
quando chega no Domingo
ele vai ao Barracão
levar sua Borrachinha
fazer sua aviação
muitas vezes treme de medo
da carranca do patrão.

VII

Põe a Pela na Balança
Empregado vai pesar
tira quatro ou cinco quilos
mexendo pra-lá e pra-cá
ai diz deu tantos quilos
o patrão diz venha-se aviar

VIII

o Patrão diz seu minino
qual a sua aviação?
quero um quilo de Açucar
uma quarta de café
uma lâmina de Gillet
um cachimbo pra mulé
e uma barra de sabão

IX

Ele diz vou Reduzir
você está muito atrasado
com a doença que tivesse
no mês próximo passado
a sua Borracha foi pouca
e o Verão está findado

X

o freguês fica tão triste
mais o jeito é conformar
põe o saquinho na costa
e cuida de se arritirar
pra-cedo chegar em casa
para cuidar de pescar.

XI

Pega caniço e a linha
vai para o Rio pescar
quando pega um Surubim
é caso de admirar
só falta fazer a festa
de alegria no Lar.

XII

Carapanã e Pium
fais a gente ficar louca
penetra pelos ouvidos
e no nariz e na boca.

XIII

Chega em casa às 9 Horas
as 10 horas vai jantar
10 e meia vai dormir
Com sentido em acordar

XIV

quando o relógio disperta
o seringueiro se alerta
levanta fais o café
toma um pouco com farinha
põe um pouco na latinha
dá até logo pra mulher

XV

aí se larga nas matas
rompendo muitos espinhos
também grande cipoal
o patrão fica dormindo
e amanhece sorrindo
dizendo ele foi aos páus

XVI
                                                                                                                       
quando chega em Novembro
que começa o chuveiro
o freguês entra na mata
só se vê o aguaceiro
e também gritos de sapo
e de pássaro agoureiro

XVII

É triste a Vida dos pobres
que vivem neste sertão
quando sai a mata é escura
logo se ouve um trovão
quando se olha pra cima
só se vê os nevoeiros

XVIII

as Rolas dão um gimido
de arrepiar os cabelos
as cigarras gritam tanto
com um tão grande zunido
fais tão grande confusão
que fais duer os ouvidos

XIX

a tarde ele chega em casa
com a Roupinha Rasgada
e quase dando agonia
vem trespassado de fome
pois foi só a farinhazinha
que comeu naquele dia.

XX

Este Verso que escrevi
Se não quiser acreditar
pegue em Manaus um navio
que vá para o Juruá
lá fale colocação
com qualquer dos patrão
pegue a faca e vá cortar.

fim.

BRITO, Francisco Castro de. A vida dos seringueiros. Manaus: [s.n., 19--] 5p. : 20 estrofes: sextilhas : 7 sílabas  )) Disponível aqui, também.

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