I
Abro o meu guarda-sol
contra uma ave de fogo.
Desço a aba do chapéu
sobre os olhos diurnos.
A matéria, ferida,
cospe flores e música.
O menino demônio,
que vendia jornais
nos estribos dos bondes,
virou rosa do reino
da metamorfose.
Há uma poça de sangue
sob o céu de safira.
Durmo em pé, meu enterro
será vertical,
por falta de horizonte.
A hora e a geometria
nunca estão de acordo
na cidade grande.
II
Ó deus cotidiano!
por que não nos concedes,
ao menos, o direito
de escolher a morte
de que desejaríamos
morrer, mais simplesmente?
como quem escolhe
um lírio, entre outras flores,
para um presente?
RICARDO, Cassiano. Melhores Poemas. Seleção Luiza Franco Moreira. São Paulo: Global, 2003. p.97-98
RICARDO, Cassiano. Melhores Poemas. Seleção Luiza Franco Moreira. São Paulo: Global, 2003. p.97-98
Nenhum comentário:
Postar um comentário