Rogel Samuel
Dois traficantes morreram.
Dois.
No Morro do Amor.
No morro do Pavãozinho, D. Cláudia entregou o
filho de 16 anos à polícia.
Na delegacia, o menor confessou que matou um
empresário de 65 anos, na madrugada de quinta-feira.
O garoto confessou o crime à mãe, após ler
notícia na imprensa do dia seguinte.
D. Cláudia decidiu entregar o filho aos
policiais.
O empresário parara seu Mercedes na esquina
de Bulhões de Carvalho com Rainha Elisabeth, em Copacabana, quando abordado por
dois rapazes armados.
Arrancou o veículo e foi baleado na cabeça.
Quando eu era jovem subíamos os morros
cariocas só para ver a vista. Subimos o Andaraí, a Pedra da Gávea, o Pico da
Tijuca.
Minha tia, Assistente Social, trabalhava no
Salgueiro.
Minha ex-empregada sustentava o marido alcoólatra, e mantinha em casa dois filhos
adolescentes.
Um deles era perigoso bandido, e trouxe uma
menina, com quem teve um filho, para morar com ele, na casa dos pais. Minha
ex-empregada escondia o rapaz da polícia e dos bandidos da favela rival.
Minha ex-empregada tinha a chave de minha
casa.
Eu não tranco gaveta.
A Governadora Benedita da Silva, ex-moradora do Morro do Chapéu
Mangueira, na Zona Sul do Rio, disse:
- 'Já passei muita fome. Tanta, que até perdi filho por causa disso,
porque não tinha com o que me alimentar durante a gravidez. Muitas das vezes em
que eu saía atrás de um trabalho, sem comida no estômago, no meio do dia eu já
estava abatida e não conseguia fazer mais nada. Quando chovia, eu chorava,
porque não tinha condições de pegar a xepa na feira para comer.'
Depois acrescentou que quem tem fome não pode
beber um copo d’água, porque quando a água chega ao estômago vazio, dá uma
grande dor.
- 'Para evitar isso, disse, eu muitas vezes
peguei farinha e misturei com açúcar pra comer antes de beber água. Também comia
fubá puro. Outras vezes, catava taioba no mato. Além de fraca, a fome faz a
gente se sentir estranha. Eu, às vezes, ficava falando sozinha. Quando alguém
me perguntava: ‘Bené, tá falando sozinha?’, eu respondia: ‘Não, tô pensando
alto’. Mas a fome também dá muita raiva, ainda mais quando os filhos também
estão famintos. Você fica pensando: ‘Quero comer, não estou conseguindo, que
raiva’. Isso, quando você consegue pensar, porque, quando você fica muito tempo
sem comer, não pensa. Com o tempo, comecei a vender pastéis, salgadinhos, melhorando de vida. Mas a fome te marca.
Hoje, tenho 60 anos e tudo isso aconteceu há 40 anos. E olha que não foi lá no
Nordeste não, foi aqui no Chapéu Mangueira, na Zona Sul do Rio.
Ela disse:
- 'A fome é indigna'.
Machado de Assis nasceu no Morro do
Livramento. Eu ali visitei sua casa, com Helena. Dizem que também vendia
pastéis. Está nas bancas de jornais 'Os trabalhadores do mar', de Victor Hugo.
Tradução de Machado de Assis. Impecável. Clássica. Suprema. Machado captou todo
o clima de mistério. Conseguiu dar contar das insinuações sutis, das conotações
mordazes. Machado está presente por trás do texto, irônico como sempre, sob a
aparência de candidez contida. O melhor de Machado está no que ele não diz, mas
sugere. E na capacidade de prender o leitor a partir do nada. Como no romance
pós-moderno, ele está ali dizendo 'não acredite em mim, não é bem isso que se
passou, mas não posso contar tudo, não posso contar de outro modo,
paciência...'
A Diocese do Rio, localizada em Santa Teresa, fica no Morro dos Prazeres.
É a 'radicalidade' do amor.
Marginais que controlam o Morro do Amor
lideraram um ataque e incêndio de em
resposta ao combate que a PM vinha fazendo ao tráfico de drogas.
A Escola de Samba Unidos do Cabuçu, nascida
em 1945, fica lá.
Pelo terceiro dia consecutivo no Morro dos
Macacos, em Vila Isabel, os bandidos entraram em confronto entre si deixando os
moradores apavorados. Durou três horas o tiroteio pela disputa do controle do
tráfico de drogas.
Temos o Morro Azul, o Morro da Cruz, o Morro
do Galo, o Morro do Macaco, o Morro da Babilônia...
No dia 23 de outubro a PM ocupou Morro do
Amor no Lins de Vasconcelos.
Traficantes morreram no Morro do Amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário