I
Morava na 6 de
agosto
Pra mim sempre foi
bom gosto
Eu ir lá pra
conversar
E ver seu João com
o pandeiro
Cantando versos
maneiros
Pra quem gosta de
escutar
II
Sua voz era bem
grave
No mesmo instante
macia
E com tal
diplomacia
Pra poder se
apresentar
Era gago de
nascença
Mas fantástico é a
ciência
De cantar sem
gaguejar
III
Se tornava
engraçado
Todo seu
comportamento
Mas a sua expressão
Sempre foi no
firmamento
Fosse calor
Fosse frio
Fosse chuva
Ou fosse vento
IV
Ele batia o
pandeiro
E pontiava viola
Sem jogar conversa
fora
Cantava pra animar
Falava muito do
Acre
Das histórias do
nordeste
De Lampião e os
caba da peste
Que gostavam de
cantar
Fazendo desafios
De repentes
verdadeiros
E também são
pioneiros
Desse povo
justiceiro
Com a cultura
popular
V
Seu João tem muito
amor
E aqui aonde estou
Não tenho medo de
falar
Que ele foi bom
cantador
Por que nasceu pra
cantar
E agora tá na lista
Lá no céu como
artista
Que ele é bom repentista
Fez por onde se
salvar
VI
Imagino que agora
Seu João se
encontrou
Com Hélio Melo, e
Cancão
O Mathias, e o
Beija-Flor
E outros bons
repentistas
Que estão na nossa
lista
De ser um bom
cantador
VII
Que deus abençoe
sempre todos
Pra cantarem com
alegria
E os que estão na
terra
Com o dom da
cantoria
Para sempre cantar
firme
Com amor e harmonia
p.17-18
HOMENAGEM A MATHIAS
I
Eu peço atenção da
plateia
Prum causo que eu
vou contar
De um amigo irmão
artista
Nascido em Tarauacá
Levado pelo destino
Em Rio Branco veio
morar
Se tornando um
grande mestre
Da cultura popular
II
Travou lutas contra
a desigualdade
Sentindo na pele
Que a arte em Rio
Branco
Não teve apoio de
qualidade
Apoio só tinha os
de fora
Quando chegavam
nessa cidade
III
Seu nome é José
Marques de Souza
O popular Mathias
Descobriu nos
movimentos
Que o teatro
existia
E conseguiu muitas
coisas
Com a sua valentia
IV
Pai de uma grande
família
Com filhos
inteligentes
Mostrou com
dignidade
Lealdade
consequente
Que o homem pra ter
vitória
Também tem que ser
valente
V
Valente no bom
sentido
De se firmar no
ideal
Lutando pela
cultura
Mas sempre de bom
astral
Com a espada
justiceira
Que hospeda o bem
E espanta o mal
VI
Mathias por amor a
arte
Com paz e
disposição
Conseguiu com
simplicidade
Reformar o barracão
Com a força do
Grupo Saci
E apoio da
federação
VII
O Grupo de Olho na
Coisa
Já faz tempo que
olhava
Um lugar para
hospedar
A cultura
abandonada
E zelaram o local
Que há muito não
tinha nada
VIII
Montou peças e deu
cursos
Pras crianças e
adolescentes
Para sábios e
ignorantes
Para sadios e
doentes
Para moças e
rapazes
E para velhos
descentes
IX
No dia 1º de
Janeiro de 1997
Quando menos se
esperava
Partiu dessa vida
pra outra
O nosso amigo
camarada
Mathias nem se
despediu
Pois nem ele sabia
de nada
Só se sabe que a
hepatite
Há muito lhe
incomodava
X
Esta história que
eu contei
Pra essa plateia
querida
Toda palavra tava
certa
Confirmada e
conferida
E todos nós vamos
ter
A hora da despedida
Mas Mathias partiu
sorrindo
Porque sempre amou
a vida
XI
Que sirva de Lição
Essa triste
narração
Pra homens de cara
dura
Sem amor no coração
Que sai pelo meio
do mundo
Dizendo que é durão
XII
Siga o exemplo de
Mathias
Seja um bom cidadão
Não fuja do
compromisso
Muito menos da
missão
Quando ver algum
guerreiro
Lutando pela
cultura
Não se passe por
ingeno
Procure logo
entender
Que quem sustenta a
cultura
Está sustentando
você. p.19-21
A CHEGADA DE HÉLIO
MELO NO CÉU
Pra morrer e ir pro
céu
E ter sua salvação
É preciso ter amor
Dentro do seu
coração
I
Agora eu peço um
favor
Que todos tirem o
chapéu
Vou falar de Hélio
Melo
E sua chegada no
céu
II
Onde estava a
grande alegria
E bonita recepção
De Bacurau e
Mathias
Jorge de Nazaré e Nina
da Fundação
E outros amigos da
arte
Que lá no céu já
estão
III
Beto Rocha e Maués
Da Costa e Bacural
Não chegaram
Nessa hora
Para o cerimonial
Mas já estão
preparados
Para outro festival
IV
Hélio Melo grande
artista
Com sua rabeca
afinada
Pintor e compositor
Com suas histórias
enfeitava
A lenda do
Mapinguari
E para o povo ele
contava
V
Mathias fez uma
peça
Falando dos mitos
daqui
A peça dá um recado
Para quem quer
assistir
Seja honesto, seja
simples
E ame os que estão
aqui...
Faça sempre o que
Deus quer
E o que Jesus lhe
pedir p.23-24
FRANCA, Cícero. Resgatando Tradição. Rio Branco: FGB, s/d.
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