Antes das 8 da
manhã, sacolão em punho, suando em bicas, me chega o JB. Sua cabeça lisa e
brilhosa mais parecia ter acabado de sair duma sauna.
Beijinhos formais,
chamei-o para o café, não sem antes esperar que lavasse o rosto e enxugasse a
luzidia careca.
Mal pulamos o
tempo, ainda mastigando o último naco de pão, ele abre a sacola e de lá retira
um turbante verde e já cosido no formato usual. Além do tecido ser ‘lurex’, não
me peçam explicações, ainda havia muita purpurina colada sobre, o que deixava o
turbante mais parecido com um capacete de gesso.
Após, com cuidado,
retira uma cestinha lotada de diversas e coloridas frutas de plástico e cera.
Dali sairia uma
Carmen Miranda, com certeza! – pensei.
O adereço, por
baixo, pesava um quilo. E, pasmem, sobre a coroa do abacaxi, em destaque, um
passarinho de palha parecia ter acabado de pousar para bicar as doçuras
‘frutosas’.
Por último, JB
retira um bustiê de cetim rubro e uma saia longa e rodada, também em cetim
rubro, com aplicações de flores artificiais de vários tipos, tamanhos e
tonalidades. Um jardim, pois.
Bem, a curiosidade
foi inevitável.
- De quem é isso,
JB? Estás fazendo fantasias de carnaval?
Afinal, de JB,
tinha poucas informações. Ele era apenas um amigo do rapaz que morava na minha
casa, que trabalhava como ‘chapeiro’ na lanchonete de uma loja de conveniências
e que havia nascido em Ilhéus. Sabia, também, que tinha um caderno de 300
páginas, com manuscritos sobre sua vida. Queria minha opinião para escrever sua
história. Tinha muitas coisas escritas e pouco sistematizadas. E só!
Sentados na área,
bastante alegre e rindo da minha pergunta, responde:
- Esta é a roupa
que vou usar esta noite na Boate Xamêgo, onde me apresento como drag. Quero sua
opinião e uma ajuda.
- Vamos lá, menino!
Acho que a roupa está bem feita e bonita. O turbante, no entanto, creio que te
machucará. Vais colocar o cesto de frutas nele? Não vai ficar pesado demais?
Olha, acho que até pode cair durante o show, entendes?
- Isso, também,
está me preocupando. Já experimentei várias vezes e ele desmonta. Se cai sem a
cesta de frutas, imagine com o peso dela. O que faço?
- Será que um elástico
preso no queixo não resolveria?
- Não, acho que
perderia o movimento do pescoço durante a dança. Quer me enforcar, é?
De repente, num
estalo, perguntou-me se tinha cola de madeira. Peguei um tubo grande, dos meus
artesanatos e entreguei nas mãos dele.
- Bem, enquanto
você faz o almoço, vou ao banheiro fazer um teste. Fique tranquila.
Fui para a cozinha,
fiz tudo e nada do JB aparecer. Quando apareceu, estava em pânico. A cola, além
de não ter resolvido o problema, causou-lhe uma reação alérgica na careca, no
rosto, inclusive nos olhos e já estava descendo para o resto do corpo.
Mandei-o para o PS.
Voltou depois de umas duas horas, já refeito, após uma injeção de alergênico
que não soube dizer o nome.
-E o show, JB? Como
será o show?
- Não se preocupe.
Darei meu jeito. Com turbante ou sem turbante, Regginee Grace estará quebrando
a castanha e rodopiando no palco. Voltarei para lhe contar e trazer fotos e
vídeo, tá?
- Combinado,
Regginee Grace!
Muitos dias depois,
na lanchonete, JB mostrou-me um vídeo da apresentação na boate Xamêgo. A danada
da Regginee Grace inventou uma coreografia com o turbante numa mão e a cesta de
frutas na outra, quebrando a castanha no palco e fazendo a alegria da moçada.
Depois disso, nada
mais soube de JB. Ou de Regginee Grace, como preferirem.
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