sexta-feira, 28 de setembro de 2018

SEIS POEMAS DE JOÃO VERAS

O PHODER DA UNIVERSAL ACREANA

Poetas institucionais têm dor.
Não duvidam.
Morrem de medo de quem governa a dor.
E vivem a metrificar instituições as tantas
para o gozo de seus comandos e de suas penas calculadas
nas margens descaradas de seu tempo e de seu lugar.


PREVISÃO DO MEDO PARA HOJE

oscilação
sol frio morno quente insuportável quente morno frio
lua ainda sem lua vai de meio claro meio turvo
metade crescente cheia brilhante semi lume sem brilho
rara luz bola transparente distante
sol frio morno de imagem sonegada pela escura nuvem
sem luz nem sol nem lua só água desaba do céu
medo!
frio morno quente insuportável


A CATEDRAL DA SEDE

Todos querem o centro.
Ser.
Sonham, lutam por ele.
Alguns morrem, alguns vivem enfermos.
O centro? Uma voz do fundo interpela...
Sim! Todas as vozes da superfície respondem.
E completam: Qualquer um! E repetem mais de uma vez.
Mas onde está estar o centro?
E a resposta se emudece nos cantos
e assim se mantém para todo o resto.
No fundo e na superfície.
E nada se acaba como a impermanência da sede.


EMPATE

Eu jogando dados com o poema que invento:
Ele vem me dizendo
Eu retruco
Ele se impõe como uma libido
Eunuco
Nos calamos por um instante
nenhum facilita no apreço
mas só ele, só ele escrita
a minha pessoa esquisita.


ACRE EM TRANSE

Onde estão todos? Onde estão?
Nos limites, clicando conflitos?
Nas trincheiras, como cães de guerra?
Nas retaguardas das conveniências, em seus papéis partidários?

E os dignos, os cansados, os calados, os eloquentes, os malucos, os dementes?
Todos!
Os meninos, as meninas... e os demais humanos de asas?
Onde estão de casa em casa?
Os da minha infância sem ventura.
Os da minha juventude sem medo.
Os da minha maturidade sem espanto.
Os da minha morte sem pranto.

Oh-culpados!
Matando tempo.
Matando nome.
Matando gente.
Matando fome.


DIVERSÃO E ARTE

Te juro: após pensar... planejar... inventei.
Saiu de mim uma máquina sem nenhuma servidão.

Não foi acidente. Ainda bem. O resultado me satisfez.
Foi o que imaginei, foi o que resolvi criar.
Exatamente por não servir a nada, a máquina funciona.

Isso te incomoda, né?
Por que não inventa a tua?

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