O sacerdote
Francisco de Ávila grita com seus índios para que se apressem. Ainda restam
muitos ídolos para serem descobertos e triturados nestas terras do Peru, onde
ele não conhece ninguém que não incorra no pecado da idolatria. Jamais descansa
a cólera divina. Ávila, açoite dos feiticeiros, vive sem sentar-se.
Mas para seus
servos, que sabem, cada golpe dói. Esta pedra grande é um homem escolhido e
salvo pelo deus Pariacaca. Cápac Huanca foi o único que partilhou com ele sua chicha de milho e suas folhas de coca,
quando Pariacaca se disfarçou com trapos e veio a Yarutini e aqui suplicou que
lhe dessem de beber e mascar. Esta grande pedra é um homem generoso. Cápac
Huanca foi esfriado e convertido em pedra, para que não fosse levado pelo
furacão de castigo que levou, em um sopro, todos os outros.
Ávila faz com que
joguem seus pedaços em um abismo. Em seu lugar, finca uma cruz.
Depois pergunta aos
índios a história de Cápac Huanca; e a escreve.
GALEANO, Eduardo.
Memória do fogo, 1: nascimentos. Tradução Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1983. p.218
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