Das boas recordações do Paraná ficou Helena Kolody (1912-2004). Agora que retorno à terra das araucárias e da elegante gralha azul volto a me aproximar da poesia de Kolody. Poeta cujos versos são como estrelas a romper o denso véu da noite, e mesmo como as águas frescas e cristalinas de um córrego a fecundar o chão por onde passam.
Para quem viaja ao encontro do sol,
é sempre madrugada.
No poema
e nas nuvens,
cada qual descobre
o que deseja ver.
Não é o tempo que voa.
Sou eu que vou devagar.
Palavras são pássaros.
Voaram!
Não nos pertencem mais.
O poeta nasce no poema,
inventa-se em palavras.
No silêncio luminoso da tarde,
as árvores desfolham-se em pardais.
O homem esposou a máquina
e gerou um híbrido estranho:
um cronômetro no peito
e um dínamo no crânio.
Captar os seres
em seu fugitivo instante de beleza.
Não quero ser o grande rio caudaloso
que figura nos mapas.
Quero ser o cristalino fio d'água
que canta e murmura na mata silenciosa.
O brilho da lâmpada,
no interior da morada,
empalidece as estrelas.
KOLODY, Helena. Sinfonia da vida. Curitiba: Editora Letraviva, 1997.
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