Acredito ser ainda muito válida essa entrevista,
no programa Roda Viva, com o geógrafo Milton Santos (1926-2001), um dos grandes
pensadores brasileiros e da realidade brasileira.
“Massacre sempre houve. O que nunca houve foi
um mundo governado pela informação e contrariado pela comunicação. O que é
extraordinário nesse mundo, nesse fim de século, sobretudo o que faz a
importância da vida urbana, é essa produção, a partir de baixo, de algo que é
revolucionário, no sentido de que os pobres acabam por ver mais o que o mundo
está sendo. Nós não temos muitas formas de ver o mundo porque estamos contentes
com o nosso conforto, com os nossos diversos confortos: o conforto do nosso
bairro, o conforto do nosso consumo, o conforto das ideias estabelecidas; que
tudo isso é um entrave à produção do conhecimento, um entrave à produção do
futuro. O futuro está lá embaixo. (...) O pobre é sempre sábio, porque ele
conhece a experiência da escassez. Que só agora a classe média começa a
conhecer. A experiência da escassez é o caminho da descoberta, do que eu valho realmente.
Esse caminho da escassez que todos os dias se renova, porque aparentemente eu
deixo de ser pobre hoje, amanhã eu volto a ser pobre outra vez, porque, como no
caso do Brasil, essa redução da pobreza não é estrutural. Então o que nós temos
é essa capacidade do pobre, mas sobretudo do migrante. O migrante ainda é mais
forte que o pobre na visão do real e do futuro; e faz com que a América Latina
e o Brasil seja um país afortunado, porque urbano, cheio de pobres, e porque
tem as cidades cheias de migrantes.” (excerto da fala de Milton Santos)
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