sexta-feira, 19 de julho de 2013

MILTON SANTOS

Acredito ser ainda muito válida essa entrevista, no programa Roda Viva, com o geógrafo Milton Santos (1926-2001), um dos grandes pensadores brasileiros e da realidade brasileira.


“Massacre sempre houve. O que nunca houve foi um mundo governado pela informação e contrariado pela comunicação. O que é extraordinário nesse mundo, nesse fim de século, sobretudo o que faz a importância da vida urbana, é essa produção, a partir de baixo, de algo que é revolucionário, no sentido de que os pobres acabam por ver mais o que o mundo está sendo. Nós não temos muitas formas de ver o mundo porque estamos contentes com o nosso conforto, com os nossos diversos confortos: o conforto do nosso bairro, o conforto do nosso consumo, o conforto das ideias estabelecidas; que tudo isso é um entrave à produção do conhecimento, um entrave à produção do futuro. O futuro está lá embaixo. (...) O pobre é sempre sábio, porque ele conhece a experiência da escassez. Que só agora a classe média começa a conhecer. A experiência da escassez é o caminho da descoberta, do que eu valho realmente. Esse caminho da escassez que todos os dias se renova, porque aparentemente eu deixo de ser pobre hoje, amanhã eu volto a ser pobre outra vez, porque, como no caso do Brasil, essa redução da pobreza não é estrutural. Então o que nós temos é essa capacidade do pobre, mas sobretudo do migrante. O migrante ainda é mais forte que o pobre na visão do real e do futuro; e faz com que a América Latina e o Brasil seja um país afortunado, porque urbano, cheio de pobres, e porque tem as cidades cheias de migrantes.” (excerto da fala de Milton Santos)

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