V. EXCIA. É UM AUTÊNTICO ACREANO[1]
“Fazemos votos que o vosso governo gere a paz
para que possa haver trabalho e com este, possa gerar recursos tão necessários
ao bem estar do povo. Aceitai, Exmo. Sr Jorge Kalume, as homenagens da
oposição.”
Estas foram as palavras finais da oração
pronunciada pelo deputado Francisco Thaumaturgo, em nome da bancada do
Movimento Democrático Brasileiro, por ocasião da posse do deputado federal
Jorge Kalume, no cargo de Governador do Acre, em sessão solene realizada na
Assembleia Legislativa. O discurso proferido pelo deputado Francisco
Thaumaturgo obteve grande repercussão nos meios políticos, dada a sobriedade
e pontos de vista expendidos pelo orador.
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A oposição representada pelos deputados que
integram a bancada do MDB, com assento na Assembleia Legislativa, comparece
hoje a essa casa para assistir a posse de V. Excia. no cargo de governador
eleito pelo voto indireto.
Talvez nosso gesto sugira aos menos avisados,
comentários os mais divergentes uma vez que a esta casa não nos fizemos
presentes quando da realização da sessão, na qual procedeu-se a eleição cujo
resultado, embora sabido de antemão, proclamou o nome de V. Excia. como eleito.
Segundo nosso entender, um caso difere
fundamentalmente do outro, embora interligados. Naquela ocasião, cumprimos
instruções da direção nacional de nossa organização partidária, com a qual
concordamos por motivos vários.
O MDB, determinando o não comparecimento das
bancadas estaduais às Assembleias, no pleito indireto, para a escolha dos governadores,
cumpria missão histórica, erguendo na oportunidade e daquela forma, seu
protesto ao expediente de afastar-se o povo da manifestação nas urnas para a
escolha dos seus governantes.
Quanto a nós, regionalmente, essa essência
daria ensejo que se a eleição se processasse à vontade, com a participação de
um só bloco partidário, sem que criássemos quaisquer óbices, uma vez que o candidato
era um “autêntico Acreano”.
Com esse gesto estávamos aceitando uma
situação de fato, tomando por norma aquele velho conceito de que “a política é
muitas vezes a arte de escolher entre o mau e o sofrível”.
No atual sistema político partidário
instaurado em nossa Pátria, foi o próprio governo de após revolução, que nos
garantiu o direito de existir como organização partidária, e estribados neste
direito, é que aqui estamos, presentes à posse de V. Excia., em reverência a
vosso nascimento e com o intuito de fixar nossa posição política, frente ao
governo que se instala.
Somos pois, oposição, dentro do esquema
político do Estado, mas queremos deixar bem claro que levamos muito em conta,
que V. Excia. é, repito, um autêntico acreano, assim sendo, merece
tratamento diferente do que vinha
acontecendo.
Saúdo pois V. Excia. em nome do Movimento
Democrático Brasileiro, em nome dos meus companheiros de bancada, pela
investidura hoje nesta casa, no cargo de Governador do Estado do Acre e do seu
povo. Para ser franco, sinto-me desencorajado para felicitá-lo por este
acontecimento. A esta hora já V. Excia. tem conhecimento da herança que lhe
põem nas mãos e a tremenda responsabilidade que vai lhe pesar sobre os ombros.
Peço a Deus que V. Excia. tenha as forças
necessárias para encontrar o caminho certo para levar o Acre aos seus reais
destinos. Não “em termos de milagres,
mas fazendo aquilo que represente o sonho dos acreanos, isto é, realizando o
indispensável para que se restaure, para sempre, na alma do povo, a confiança
nos seus governantes”.
Propositalmente parodiei trecho da carta que
V. Excia. dirigiu ao ilustre deputado Omar Sabino de Paula, publicada no jornal
O IMPARCIAL, que se edita nesta capital, cujos conceitos ali emitidos, calaram
bem em nossas almas. Especialmente quando manda escoimar da programação da
posse “qualquer homenagem que significassem gasto e ostentação no propósito de ver cumprido tal determinação”.
Afirmou ainda “não posso e nem devo permitir
finas iguarias dos bons banquetes, quando sei que em milhares de honrados
lares, tenras criancinhas e desalentados
pais, sofrem as maiores privações”.
Esperamos que um profundo sentimento de
humanismo tenha ditado aquelas palavras e que tal disposição seja constante no
vosso governo, pois se assim o for, já de antemão pode V. Excia. contar com nossa contribuição,
dentro das possibilidades de uma
oposição construtiva e bem intencionada. Que sempre gozou nossos atos no
panorama político administrativo do Estado. Estaremos sempre dispostos a apoiar
tudo que V. Excia. desejar fazer, em que esteja em jogo os altos interesses do
Estado e as urgentes e necessárias medidas que visem melhorar a situação do
povo acreano.
Tem V. Excia. uma urgente e imediata tarefa!
A de realizar o governo ao povo que se encontra dissociado. Não impondo à força
uma ordem irrefletida e falha, e sim, uma ordem “que se reflita na natureza do
nosso povo e sempre com o elevado intuito de reconciliar todo mundo dentro da
comunidade”.
V. Excia. deste momento em diante, é o chefe
do Poder Executivo. Autoridade máxima do Estado, com funções elevadíssimas de
coordenador, também, das funções administrativas e representativas. Podendo,
portanto, promover e orientar a política
legislativa. V. Excia. pois, é quem vai ditar o comportamento na Assembleia
Legislativa. Assim, aguardaremos tranquilos os dias que vêm, para então modificar ou não esse nosso comportamento.
Não querendo mais alongar minhas palavras,
renovo a V. Excia. nossas saudações ao novo Governador do Acre, fazendo votos
que vosso Governo gere paz para que possa haver trabalho e com este, se possa
gerar recursos tão necessários ao bem-estar do povo.
Aceitai, Exmº. Sr. Jorge Kalume, as
homenagens da Oposição.
[1]Pesquisa
e digitação de Clodomir Monteiro. Transcrição na íntegra do discurso do Deputado Francisco Thaumaturgo, por
ocasião da posse de Jorge Kalume como governador do Acre. Com chamada de primeira página, e na integra à pagina 2 do
Jornal O IMPARCIAL, do dia 24.9.1966, Nº 07, em Rio Branco. Semanário, Editor
Secretário, José Chalub Leite, Diretor
Responsável, Ubirajara Omena.
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