domingo, 17 de agosto de 2014

ODE (II,10)

Horácio (65-8 a.C.)


Muito melhor, Licínio, viverás,
não buscando o mar alto, sempre afoito,
nem te ficando, cauto, junto à praia,
            rábido o mar.

À áurea mediocridade, se alguém a ama,
da velha casa o desasseio evita;
mas, também, sóbrio, foge aos ricos tectos,
            causa de inveja.

O vento agita sempre altos pinheiros,
fragorosas, desabam altas torres
e o raio fulminante o pico fere
            de altas montanhas.

No dia aziago, espera; no bom, teme,
preparado o teu peito à sorte adversa.
Se Jove hoje nos dá duros invernos,
            Leva-os depois.

Se vais, agora, mal, nem sempre o irás.
Desperta Apolo, em sua lira, às vezes,
a silenciosa musa, pois nem sempre
            o arco distende.

Sê animoso, sê forte, na desgraça:
sábio, saibas, porém, quando te é muito
próspero o vento, contrair a tua
            túrgida vela. 


HORÁCIO. Odes e epodos. Tradução de Bento Prado de Almeida Ferraz. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.105-107

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