sexta-feira, 1 de agosto de 2014

PESSIMISMO

Inês Lacerda Araújo


Matança de ratos presos em uma ratoeira, é essa imagem que vem para descrever o massacre da população civil da Faixa de Gaza. Espremidos entre o mar, a fronteira com Israel e com o Egito, ambas fechadas, dois milhões de habitantes não têm para onde fugir dos bombardeios israelenses.

Enquanto o Hamas se serve de prédios particulares e públicos para a entrada de túneis e depósito de armamento, e Israel bombardeia tais prédios, o pior, em abrigos da ONU, mais de mil pessoas, crianças e mulheres morrem, outras são feridas, mutiladas. Qual esperança para esse canto fervilhante do planeta?

Leste da Ucrânia, uma senhora tem o teto de sua cozinha perfurado pelo cadáver nu de uma mulher! Estilhaços de um míssil derrubaram um avião civil, choveram cadáveres (298) do céu!

Brasil: pai que mata filho, madrasta que o enterra; policiais que arrastam o corpo de uma mãe caído do porta malas de uma viatura, talvez ainda com vida; black blocs com seus coquetéis e uma ação de protesto contra o capitalismo, bancos, revendedoras de veículos, prédios públicos, mataram um jornalista.

Examinemos a ação terrorista destes encapuçados. No comando deles no Rio de Janeiro, uma professora de filosofia, Camila Jourdan. Jovem, bonita, com artigos sobre Wittgenstein. Enfim, mestre, quer dizer, habilitada para ensinar o pensamento de filósofos, aqueles amigos da sabedoria, que ensinam ética, moderação, reflexão, raciocínio, lógica, uso de conceitos, busca da verdade!

Retire-se de nossa sociedade as indústrias, as trocas internacionais, a mediação dos bancos, o sistema financeiro, automóveis, ônibus (que foram incendiados), impeçam a circulação de pessoas, seria o caos.

É isso que visam os anarquistas do movimento black blocs?

Cegueira social, teórica e prática! Camila Jourdan chefia a "Organização Anarquista Terra e Liberdade". Ora, se é "anarquista", como pode ser ao mesmo tempo "organizada"?!

Alguns os defendem em nome do direito democrático de protestar; enquanto isso os que foram detidos, se serviram do sistema judiciário que eles próprios querem destruir. Se fossem consequentes e coerentes, dispensariam advogados, estes, afinal, pertencem ao sistema...

Diante desse quadro (e ele está incompleto), a pergunta:

Somos melhores que nossos antepassados?

Democracia? Os gregos a inventaram, talvez a tenham usado mais e melhor do que nós modernos.

Justiça? Os romanos e povos antes deles tinham leis, códigos e os aplicavam (prisões lotadas? no Brasil atual ...)

Conhecimento, ciências, progresso tecnológico? O que dizer da Renascença, de Leonardo da Vinci?

Medicina, antibióticos, mas e o vírus ebola? Não há vacina...

O que procuramos, nós humanos, o que conseguimos, e o que fazemos conosco mesmos?

Absurdos, abusos, violência, violação de direitos, muito sofrimento.


A história nos mostra a vida dos povos, e nada encontra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas... E de igual maneira a vida do indivíduo é uma luta contínua... Por toda parte ele encontra opositor, vive em constante luta, e morre de armas em punho (Schopenhauer).


*Inês Lacerda Araújo - Professora de Filosofia durante 40 anos, na UFPR, e nos últimos anos na PUCPR. Autora de livros sobre Epistemologia, História da Filosofia e Teoria do Conhecimento. Atualmente aposentada.

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