Tagore (1861-1941)
Mas de modo nenhum quer deixar-nos.
Agrada-lhe descansar a cabecinha no seio da
mamãe e não suportaria deixar de vê-la.
O menino sabe de muitas coisas; mas, poucos
no mundo podem entender o sentido de suas palavras.
Não quer falar, de modo nenhum.
Quer apenas ouvir as palavras da sua mãe. E por
isso são tão inocentes os seus olhares.
O menino possuía um monte de ouro e de
pérolas, no entanto veio para a terra como um mendigo.
Veio sob esse disfarce por algum motivo.
Este caro mendigo, pequeno e despido,
pretende ser o mais débil, para ser-lhe permitido pedir muito amor à sua mãe.
No diminuto país da lua crescente, o menino
estava livre de qualquer vínculo.
Mas não renunciou à sua liberdade sem razão.
Ele sabia que há um lugar de alegria infinda
em um pequeno canto do coração materno e que estar preso e apertado por dois
braços queridos é mais doce do que a distância desta liberdade.
O menino não sabe chorar. Ele morava no país
da felicidade perfeita.
Mas preferiu chorar por algum motivo.
Embora saiba atrair o
coração afetuoso com o sorriso do seu querido rosto, os seus gritinhos por
pequeníssimas dores, suscitam um laço dúplice, um laço de felicidade e de amor.
TAGORE, Rabindranath. Tagore, obras selecionadas: O jardineiro, Lua crescente, Gitanjali, O cisne. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1974. p.97-98
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