Quem se interessa
pelo poder da Filosofia, deve recorrer ao pensamento de Sócrates. A
argumentação do filósofo é simples, direta, compreensível e a fina ironia é
usada para destruir ilusões.
Ele é um
questionador, desestabiliza crenças adotadas sem fundamentação, e nem precisa
de floreios ou meias palavras.
A famosa doutrina
da douta ignorância, se baseia na afirmação: “Só sei que nada sei”. Há um
paradoxo tanto em ser ignorante e ao mesmo tempo sábio (douto) quando em
afirmar que sabe nada saber. Ora, então sabe, pelo menos isso: que nada sabe.
Mas as lições
socráticas são compreensíveis, basta que nos desembaracemos das aporias e das
armadilhas da lógica.
O filósofo almeja
aprender sempre e sua sabedoria reside em deixar de lado a arrogância, a
pretensão de ser portador da verdade, e assim deixar o campo livre a quem
quiser percorrer.
O pensador lavra o
campo, prepara o terreno, mas as sementes devem ser lançadas tanto pelo mestre
como pelo aprendiz.
As colheitas serão
sazonais, não acabarão e para tal a aprendizagem deve ser permanente. Mas, se o
caminho escolhido for a da vaidade, do saber total e definitivo que ao invés de
argumentar só tenta dissuadir, influenciar, empacotar o pensar em caixas
fechadas prontas para o uso, em geral de ideologias fáceis -, então a reflexão
filosófica congela.
A retidão e a
firmeza moral, a vida exemplar, o ensino que desconstrói certezas absolutas,
levou Sócrates à condenação por ter corrompido a juventude. A questão é que
Sócrates incomodava políticos de Atenas, seus discursos punham a nu a
hipocrisia, o filósofo desmascarava as segundas intenções, o que sempre
perturba os medíocres. A estes não adiante colocar-lhes espelhos. Eles só veem
o que querem ver.
Diz Sócrates:
Outra coisa não faço senão andar por aí persuadindo-vos,
moços e velhos, a não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de
melhorar o mais possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não vem a virtude
para os homens, mas da virtude vêm os haveres e todos os outros bens
particulares e públicos. Se com esses discursos corrompo a mocidade, esses
preceitos seriam nocivos; se alguém afirmar que digo outras coisas e não essas,
mente (in Platão, “A Defesa de Sócrates”).
E prossegue
afirmando que não arredará desses princípios!
Quem sabe o que
seria agir por princípios?
Eu diria que são raros...
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