sexta-feira, 8 de junho de 2018

QUATRO POEMAS DE JOÃO VERAS

A FÓRMULA DA CARNE

Não é o corpo a forma.
O corpo não é a condição que fica
O corpo transita.
Carece do decorrido como um jardim florido.

É a formula que informa a deforma que afunda e abunda.

É o que apodrece, caduca, defunta.

O que infla, definha, esquece e espinha.

É a carcaça que engana, que a merece e a difama.

A estatura que atrai, que dissimula, que clausura, se esvai.

O corpo é sempre um retrato - o que foi e jamais será.

Cego, surdo, mudo... ele é assim:
ensina sobre tudo a todo mundo.

manhã de 08.06.18


META DE CHEGAR, META DE PARTIR

Estou no meio do trilho.
No meio da pista.
No meio da rua.
No meio do rio.
No meio de mim.
No meio de tudo que tem meio,
como o bom amor mal e o mal fogo bom,
inclusive.

Atravessado
pelo meio do meio do meio do meio do meio do meio do meio do meio do meio do meio
do meio do meio
do meio

um tanto em cada parte
desejada e não
que se desmonta
de mansinho
pedaço por pedaço
do sangue e do pensamento
até o vazio indivisível do nada
- agora a minha sigilosa meta de viver.

04/06/18


SELF-PORTRAIT

Faço poema fazendo politica.
e tudo o mais um tanto muito um tanto menos.
- mesmo que não queira.
- mesmo que não faça.

 noite de 29/05/18


TEORIA DO POEMA IMPOSSÍVEL

Hoje eu queria fazer um poema sobre nada.
Não um nada qualquer!
Mas um nada assim bem nada!
Potentemente puro!
Um nada completamente ignorado
por mim, por todos, por tudo.
Um nada que não interesse ao nada.
Como só deve ser um nada sincero.

O que quero dizer:
Esse tipo de coisa nenhuma
que costuma incomodar o mundo!

na manhã de 27/05/18

Nenhum comentário: