terça-feira, 26 de junho de 2018

POEMAS DE FRIEDRICH NIETZSCHE

POEMAS DE FRIEDRICH NIETZSCHE (1844-1900) EM A GAIA CIÊNCIA
“Caminhante sobre o mar de névoa” (1818). Caspar David Friedrich (1774-1840).


MINHA FELICIDADE

Depois que cansei de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois que um vento me opôs resistência
Velejo com todos os ventos. p.17

MEIN GLÜCK

Seit ich des Suchens müde ward,
Erlernte ich das Finden.
Seit mir ein Wind hielt Widerpart,
Segl’ich mit allen Winden. p.16


DIÁLOGO

A. Estava eu doente? Estou agora são?
Quem foi meu remédio?
Como pude esquecer tudo!
B. Agora sim, creio que está são:
Pois sadio é quem esquece. p.19

ZWIEGESTPRÄCH

A. War ich krank? Bin ich genesen?
Und wer ist mein Arzt gewesen?
Wie vergass ich alles Das!
B. Jetzt erst glaub ich dich genesen:
Den gesund ist, wer vergass. p.18


PRUDÊNCIA MUNDANA

Não fique no rés-do-chão!
Não suba alto demais!
O mundo parece mais belo
À meia altura. p.18

WELT-KLUGHEIT

Bleih nicht auf ebnem Feld!
Steig nicht zu hoch hinaus!
Am schönsten sieht die Welt
Von halber Höhe aus. p.18


O BRAVO

Melhor uma inimizade inteira
Que uma amizade emendada! p.23

DER BRAVE

Lieber aus ganzem Holz eine Feindschaft,
Als eine geleimte Freundschaft! p.22


FERRUGEM

Também é preciso ferrugem: não basta ser afiado!
Senão sempre dirão: “É jovem demasiado!”. p.23

ROST

Auch Rost thut Noth: Scharfsein ist nicht genung!
Sonst sagt man stets von dir: „er ist zu jung!‟ p.22


CONTRA A SOBERBA

Não se encha de ar: senão basta
Uma alfinetada para o estourar. p.27

GEGEN DIE HOFFAHRT

Blas dich nicht auf: sonst bringet dich
Zum Platzen schon ein kleiner Stich. p.26


PEDIDO

Conheço o espírito de muitos homens
Mas não sei quem sou eu mesmo!
Meu olhar é demasiado próximo de mim –
Não sou o que vejo e o que vi.
Eu seria de maior proveito para mim
Se de mim pudesse estar mais longe.
Não tão distante quanto meu inimigo, claro!
Já o amigo mais próximo está longe demais –
Mas entre nós dois há o meio caminho!
Adivinham vocês o meu pedido? p.29

BITTE

Ich kenne mancher Menschen Sinn
Und Weiss nicht, wer ich selber bin!
Mein auge ist mir viel zu nah –
Ich bin nicht, was ich she und sah.
Ich wollte mir schon besser nützen,
Könnt`ich mir selber ferner sitzen.
Zwar nicht so ferne wie mein Feind!
Zu fern sitzt schon der nächste Freund –
Doch zwischen dem und mir die Mitte!
Errathet ihr, um was ich bitte? p.28


O SOLITÁRIO

Para mim é odioso seguir e também guiar.
Obedecer? Não! E tampouco – governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém inspira terror:
E somente quem inspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto a cismar,
E enfim me chamar pela distância,
Seduzindo-me para – voltar a mim. p.33

DER EINSAME                    

Verhaßt ist mir das Folgen und das Führen.
Gehorchen? Nein! Und aber nein – Regieren!
Wer sich nicht schrecklich ist, macht niemand Schrecken:
Und nur wer Schrecken macht, kann andre führen.
Verhaßt ist mirs schon, selber mich zu führen!
Ich liebe es, gleich Wald- und Meerestieren,
Mich für ein gutes Weilchen zu verlieren,
In holder Irrnis grüblerisch zu hocken,
Von ferne her mich endlich heimzulocken,
Mich selber zu mir selber – zu verführen. p.32


HERACLITISMO

Toda felicidade que há na terra,
Meus amigos, vem da luta!
Sim, a amizade requer
Os vapores da pólvora!
Em três coisas se unem os amigos:
São irmãos na miséria,,
Iguais ante o inimigo,
E livres diante da morte! p.37

HERAKLITISMUS

Alles Glück auf Erden,
Freunde, giebt der Kampf!
Ja, um Freund zu werden,
Braucht es Pulverdampf!
Eins in Drei'n sind Freunde:
Brüder vor der Noth,
Gleiche vor dem Feinde,
Freie — vor dem Tod! p.36


CONSELHO

É à glória que você inspira?
Então atente para a lição:
Em boa hora e livremente renuncie
À honra! p.37 e 39

ZUSPRUCH

Auf Ruhm hast du den Sinn gericht?
Dann acht' der Lehre:
Bei Zeiten leiste frei Verzicht
Auf Ehre! p.36 e 38


JUÍZOS DOS FATIGADOS

Amaldiçoam o Sol todos os cansados;
Para eles o valor das árvores é – a sombra! p.39

URTHEILE DER MÜDEN

Der sonne fluchen alle Matten;
Der Bäume Werth ist ihnen – Schatten! p.38


O PINTOR REALISTA

“Fiel à natureza inteira!” – Como faze ele então:
Desde quando a natureza acabou na imagem?
Pois é infinita a mais íntima parcela do mundo! –
Afinal, deste ele pinta o que lhe agrada.
E o que lhe agrada? O que é capaz de pintar! p.43 e 45

DER REALISTISCHE MALER (55)


„Treu die Natur und ganz!‟ — Wie fängt er's an:
Wann wäre je Natur im Bilde abgetan?
Unendlich ist das kleinste Stück der Welt! —
Er malt zuletzt davon, was ihm gefällt.
Und was gefällt ihm? Was er malen kann! p.42 e 44


VAIDADE DE POETA (56)

Deem-me cola: pois Madeira
Eu próprio arranjarei!
Não é coisa pouca pôr sentido
Em quatro rimas tolas! p.45

DICHTER-EITELKEIT

Gebt mir Leim nur: denn zum Leime
Find' ich selber mir schon Holz!
Sinn in vier unsinn'ge Reime
Legen — ist kein kleiner Stolz! p.44


ECCE HOMO (62)

Sim, eu sei de onde sou!
Insaciável como o fogo
Eu ardo e me consumo.
Tudo o que toco vira flama
E tudo o que deixo, carvão.
Sou fogo, não há dúvida. p.47 e 49


ECCE HOMO

Ja! Ich weiss, woher ich stamme!
Ungesättigt gleich der Flamme
Glühe und verzehr' ich mich.
Licht wird Alles, was ich fasse,
Kohle Alles, was ich lasse:
Flamme bin ich sicherlich! p.46 e 48


NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A gaia ciência. Tradução, nota e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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